Séries e TV

Entrevista

Mestres do Ar: Explosões reais, sets detalhistas e amizades marcaram bastidores

Nova produção de Tom Hanks e Steven Spielberg coloca Austin Butler, Callum Turner e Barry Keoghan na Segunda Guerra Mundial

Omelete
7 min de leitura
28.01.2024, às 12H00.

Quando Band of Brothers estreou na TV norte-americana, em setembro de 2001, Austin Butler (Elvis) e Callum Turner (A Última Carta de Amor) sequer tinham a idade apropriada para assistir às cenas de violência gráficas da minissérie, produzida por Tom Hanks e Steven Spielberg para a HBO. Com 10 e 11 anos de idade, respectivamente, os futuros atores tiveram de contar com a mercê dos pais para, em DVDs ou reprises, conferirem uma das mais aclamadas dramatizações da Segunda Guerra Mundial.

Mais de 20 anos depois, a dupla de atores protagoniza Mestres do Ar, minissérie do Apple TV+ que serve de sequência espiritual tanto para Band of Brothers, quanto para The Pacific — agora trocando a perspectiva sobre o conflito daquela de soldados da Infantaria ou dos Fuzileiros Navais pela dos integrantes da Aeronáutica norte-americana. Adaptação do livro homônimo do historiador Donald L. Miller, a produção dramatiza a trágica história da 100ª Companhia de Bombardeiros da Aeronáutica dos EUA que, na Segunda Guerra Mundial, sofreu grandes baixas e passou a ser conhecida como a “Centésima Sangrenta” (“Bloody Hundredth”).

Em entrevista ao Omelete, Butler e Turner, bem como os colegas de elenco Barry Keoghan (Saltburn), Rafferty Law (Twist), Anthony Boyle (Tolkien) e Nate Mann (Licorice Pizza), falaram sobre a admiração pela produção original, além da jornada por trás das câmeras que culminou em Mestres do Ar.

“Quando comecei na carreira — eu tinha 22 anos no meu primeiro trabalho —, as pessoas da minha agência, na época, sempre falavam sobre Band of Brothers. Eu já tinha assistido, mas não tinha realmente prestado atenção. Então, revi a minissérie e fiquei impressionado”, lembrou-se Turner. “Vi a série várias vezes com meu pai. Depois, assisti a The Pacific também”, afirmou Butler. “Estou orgulhoso de fazer parte desse legado”.

Para Keoghan, que dá vida ao Tenente Curtis Biddick, continuar o legado da minissérie do início dos anos 2000 foi parte do que o atraiu ao projeto. “Você tem o Steven Spielberg, você tem o Tom Hanks, é uma espécie de barbada”, brincou. Já Law, que interpreta o engenheiro-chefe Sargento Ken Lemmons, frisou que, embora fosse fã da produção antecessora, se esforçou para distanciá-la de Mestres do Ar. “Quando recebi o papel, revi Band of Brothers, mas não quis ficar associando muito as duas. Queria tratá-las separadamente”.

Tendo em Mestres do Ar um dos projetos mais ambiciosos de suas carreiras, Boyle (Major Harry Crosby, narrador da história) e Mann (Major Robert Rosenthal) também falaram sobre a influência de Band of Brothers. “A série surgiu quando eu era muito jovem, mas meus pais tinham os DVDs em um box de lata, e nós assistimos juntos”, lembrou Boyle. “Acho que foi a primeira série inteira que vi, quando criança. Depois, todos assistimos a The Pacific juntos também”, acrescentou Mann.

Amigos dentro e fora de cena

Se, em terra, a “Centésima” respondia a uma longa cadeia de comando, nos ares eram as decisões dos majores Gale “Buck” Cleven e John “Bucky” Egan que imperavam. São esses os papéis que Butler e Turner encarnam em Mestres do Ar com uma química invejável, que tiveram de desenvolver para a série para envolver o espectador desde a primeira cena da produção. Não é à toa que funciona, já que o bromance entre ambos segue firme muito tempo depois das câmeras pararem de trabalhar.

Austin Butler e Callum Turner em Mestres do Ar
Apple TV+/Divulgação

“Austin é uma das pessoas mais incríveis que já conheci na vida”, descreveu Turner. “Eu me identifiquei com ele imediatamente. Foi fácil ser amigo do Austin”. Butler fez coro, retribuindo os elogios na mesma medida: “Fomos completamente vulneráveis e abertos. Eu sou inspirado por ele como ator e como pessoa”.

Em filmes e séries sobre guerra, tão importante quanto a agressividade das cenas de combate ou o crescer da tensão nos momentos que o precedem é mostrar a leveza e a tranquilidade que são inevitavelmente irrompidas pelo conflito armado. Em Mestres do Ar, muitos momentos de descompressão e divertimento entre os soldados marcam os intervalos entre cenas desesperadoras — e este clima de camaradagem se estendia aos bastidores.

“Todo dia sentíamos como se fosse uma festa”, afirmou Boyle. “Chegávamos ao trabalho e havia 200 jovens totalmente animados por estarem lá, por causa do prestígio do projeto, por causa da possibilidade de interação. Era muito divertido”. Segundo Mann, nem mesmo as dificuldades impostas pela pandemia da covid-19, que acabaram atrasando tanto as gravações, quanto o lançamento da minissérie, desanimaram o grupo. “A covid acabou enriquecendo a experiência no set, porque não estávamos fazendo mais nada, além de vivenciar a produção”, explicou.

Estrutura impressionante (e cara)

Para além da pandemia, outro grande desafio enfrentado pela produção de Mestres do Ar foi financeiro. Em desenvolvimento desde 2013, a minissérie foi orçada em mais de US$250 milhões, o que afastou a HBO do projeto, pondo fim à parceria com Hanks e Spielberg que marcou as produções anteriores. O Apple TV+ surgiu, então, como uma alternativa.

Segundo o elenco, o alto custo se mostrou justificado já nos primeiros momentos no set de filmagens, com cenários detalhistas, o emprego de diferentes tecnologias de efeitos práticos e o uso do “Volume” — tecnologia de telões curvos que constroem para elenco e câmeras um cenário digital palpável, desenvolvida em O Mandaloriano.

Lembro do dia em que todos nos conhecemos e estávamos andando pelo set. Só a escala de tudo, desde o primeiro dia, foi como se mergulhássemos naquela época”, recordou Law. “Conseguimos ver as diferentes torres, jipes e tanques. Você não via telefones durante o dia… Era um espetáculo em si”. Para Keoghan, o mais envolvente era pilotar os caças B-17. “Você está em um domo, sendo atingido por faíscas que replicam os tiros inimigos. Você está em uma espécie de grua, como um simulador, e nesse caso não há muito a fazer se não só reagir. Foi bastante divertido”.

Barry Keoghan em Mestres do Ar
Apple TV+/Divulgação

Detalhando os desafios de gravar cenas no espaço reduzido do cockpit de um avião, Boyle explicou como o processo foi quase que experimental: “Ninguém do elenco tinha trabalhado da forma que tivemos de desenvolver as filmagens, porque todos estávamos no manche dos aviões, tentando atuar”. “E nós tínhamos, você sabe, câmeras e equipamentos enfiados lá conosco. Tentamos fazer algumas cenas, mas as câmeras estavam sendo jogadas através das janelas”, detalhou. A solução, o ator explicou, foi manter as câmeras à distância, mas configuradas para estarem sempre em planos fechados em relação ao interior do cockpit — o que, segundo ele, ajudou a transmitir a sensação de isolamento dos céus para o elenco.

“Havia efeitos especiais dentro da estrutura onde estávamos que realmente explodiam. Gasolina de mentira vinha voando, atingindo o rosto, era uma loucura”, acrescentou Butler. “O ar realmente passava pelo avião, e tudo isso adiciona à imersão de uma forma tão profunda que você deixa de sentir que está interpretando”. Não bastasse a imersão nas máquinas voadoras da Segunda Guerra Mundial, o investimento em cenários e locações também foi gigantesco. “Eles construíram 80 prédios, ao todo, como uma pequena vila. Nos deram um mapa enorme e tínhamos um aeroporto que usamos como as ruas da minissérie. Tornou-se um cenário por si só, B-17s andando por aí e milhares de figurantes”, contou Turner.

Múltiplos diretores, uma só história

Ao longo dos nove episódios de Mestres do Ar, cinco cineastas se revezam na direção: Cary Joji Fukunaga (True Detective), a dupla Anna Boden e Ryan Fleck (Capitã Marvel), Dee Rees (Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi) e Tim Van Patten (Família Soprano). O primeiro conduz os quatro episódios iniciais, sendo substituído por Boden e Fleck nos episódios “Parte 5” e “Parte 6”, seguidos por Rees nos dois seguintes e Patten encerrando a produção no comando do finale,“Parte 9”. Sem citar o nome de Fukunaga, envolvido em denúncias de assédio sexual após seu trabalho na minissérie, Boyle e Mann comentaram a dinâmica de troca de lideranças.

Anthony Boyle em Mestres do Ar
Apple TV+/Divulgação

“Existe uma base técnica, quando você começa a trabalhar na série, que é a mesma para todos. Sobre como os aviões funcionam, como as missões foram feitas”, narrou Boyle. “Então, ter esses diretores brilhantes, como Anna Boden, Ryan Fleck, Dee Rees e Tim Van Patten, era convidá-los a entrarem e colocarem seu significado em tudo” — afirmação corroborada por Mann. “Na produção, Steven, Tom e Gary [Goetzman] fizeram com que tudo flutuasse junto e que tudo fosse em direções que parecessem unitárias”.

Mestres do Ar ganha novos episódios semanalmente, sempre às sextas-feiras.

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