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Mulher-Gato: Uma personagem e várias vidas

Mulher-Gato: Uma personagem e várias vidas

12.08.2004, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H32

A primeira versão

A heroína hoje em dia

Julie Newmar

Eartha Kitt

Michelle Pfeiffer

Halle Berry

Cada vez mais, as personagens femininas de quadrinhos ganham roupagem erótica. Formas avantajadas, roupas minúsculas e um ar provocante já fazem parte dos adereços de uma infinidade delas. Como era de se esperar, as adaptações para o cinema seguem o mesmo caminho.

Chegou aos cinemas em agosto de 2004, Mulher-Gato, uma nova versão para a mais sensual vilã do universo de Batman. Halle Berry, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz ano retrasado em A última ceia, aceitou a missão de viver a felina no cinema.

O filme, no entanto, só alcançou a terceira colocação no Box office, faturando 17,16 milhões de dólares. Foi um banho de água fria para os executivos da Warner. A imprensa especializada está prevendo que a produção será o fracasso do ano. Quase uma morte anunciada, esse resultado está longe de ser inesperado. Os realizadores cometerem vários equívocos: mudaram as origens da personagem, não apresentaram supervilão algum como antagonista e vestiram Berry com trajes extraídos de uma boate de strippers.

Pelo visto, alguns executivos de Hollywood ainda não aprenderam a lição. Toda a adaptação de personagens oriundas dos comics que não foi fiel à sua fonte de inspiração fracassou. Mesmo assim, muitos deles insistem em mudar propostas testadas e consagradas nas páginas das HQs e acabam metendo os pés pelas mãos. No final, o projeto rola ladeira abaixo rumo à geladeira das boas idéias mal-aproveitadas e emperra futuras investidas de outros heróis dos quadrinhos.

Neste novo filme, a Mulher-Gato é Patience Price, uma artista gráfica que descobre um terrível segredo da indústria de cosméticos onde trabalha e é assassinada. Após um estranho fenômeno, é ressuscitada pelo deus-gato egípcio Mao, que a torna uma heroína superpoderosa, dotada dos sentidos aguçados. Assim, assume uma nova identidade para combater os malignos planos de seus antigos empregadores, Laurel e Georges.

Esse samba do crioulo doido não tem nada a ver com a coadjuvante do Batman que todos conhecemos. Tendo sido criada por Bob Kane e Bill Finger em 1940, na revista Batman 1, Selina Kyle apresentou-se, de início, como uma golpista especializada em disfarces. Dez anos depois, sua origem foi apresentada aos leitores. Não era apenas uma vilã, mas também uma aeromoça. Após um acidente que resultou em amnésia, debandou para o mundo do crime. No entanto, esta foi apenas a primeira versão de seus primórdios, mas não a única, se bem que, ao longo dos anos, roteiristas e desenhistas jamais se descuidaram de suas características básicas.

A Mulher-Gato é uma personagem ambígua, talvez aí esteja o segredo do interesse que desperta. Equilibrando-se no tênue muro entre a lei e a contravenção, ela se faz apaixonante. O Cavaleiro das Trevas que o diga.

Por um período, até se redimiu e engrossou a fileira dos mocinhos, tornando-se proprietária de pet shop e informante da polícia. Perdeu o apelo e o interesse dos leitores. Após uma falsa reportagem, decidiu voltar à criminalidade. Invadiu a chefatura e projetou um enorme gato no céu de Gotham City.

Na Terra-2, mundo paralelo do Universo DC, no qual heróis e vilões surgiram por volta da Segunda Guerra Mundial, a vilã casou-se com seu antigo inimigo, o Homem-Morcego, e teve até uma filha, a Caçadora.

Nos anos sessenta, a rainha dos felinos ressurgiu com força total no seriado Batman. Foi quando se perpetuaram os traços mais marcantes e consagrados de sua personalidade. Desde então, ganhou status de símbolo sexual e ascendeu ao pedestal de ícone da cultura pop. Acompanhando a onda feminista daqueles tempos, tornou-se mais sexy, dominadora e astuta. Mulher livre, de corpo perfeito e dona de um esconderijo que mais parecia um quarto de motel, ela personificava o fascínio que o crime sempre exerceu sobre homens e mulheres.

Três atrizes interpretaram a vilã: Julie Newmar, a mais perfeita, que ainda provoca euforia em quarentões; Lee Meriwether, miss América, que a interpretou no longa que antecedeu o seriado (resenha aqui); e Eartha Kitt, cantora e a primeira atriz negra a representar a personagem.

Nos anos 80, Frank Miller reformulou suas origens. Fez dela uma prostituta de cabelos curtos, num figurino dominatrix. Em DK2, a continuação do famoso Cavaleiro das Trevas, trouxe de volta a menina que anteriormente assumira o papel de Robin, trajando-a como uma jovem Mulher-Gato.

Em Batman, o retorno (1992), foi a vez de Michelle Pfeiffer vestir o modelito justo. Desta vez, jogada de do alto de um edifício e lambida por inúmeros felinos, virou a vilã, com o direito a sete vidas.

Sessenta anos após sua primeira aparição, a Mulher Gato ganhou própria publicação. Nesta, era revelado que, depois da morte do pai alcoólico, aos doze doze anos, ganhou experiência realizando pequenos furtos. Já adulta, tornou-se prostituta a fim de colher informações sobre clientes para futuros roubos. Especializou-se em artes marciais, defendendo fracos e oprimidos e teve direito a seu próprio código de ética.

Ao contrário de outros vilões do Batman, a Mulher-Gato não mata. Chega até mesmo a ajudar o Homem-Morcego. Não fosse sua inclinação pelo roubo de jóias, seria uma ótima companheira de caverna. É linda e habilidosa, veste-se de maneira provocante, com botas de salto alto, chicote e luva de garras.

Talvez tenha sido essa imagem recheada de fetiches que enfeitiçou excessivamente os criadores desta nova aventura da criminosa felina, conspurcando o resultado final da obra. Apegaram-se demais ao visual e deram pouco valor à substância.

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