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O mordomo nas histórias em quadrinhos

O mordomo nas histórias em quadrinhos

23.09.2003, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H32

Gervásio encontra Papa-Capim

O Inspetor Vivaldo

Alberto e Zé Carioca.
"Todo mordomo é culpado" para
a Agência de Detetives Moleza



Batman: Alfred Pennyworth

Vingadores: Jarvis

Nick Holmes e Duarte

Brooks, mordomo de Mirza

Grouxo ajuda Dylan Dog, seu empregador

Anastácio, da turma da Luluzinha

Riquinho e Duarte

Tio Patinhas e Batista

O milionário Santimuch Money, em vias de receber a visita de Dona Morte, chama a seu leito o mordomo Gervásio e lhe diz: Procure a pessoa mais honesta do mundo e entregue-lhe minha fortuna. Viajando pelo mundo em busca de alguém que preenchesse os requisitos, foi vítima de diversas tentativas de roubo e seqüestro, mas, sempre a duras penas, recuperava o malote de dinheiro que carregava. Após exaustivas andanças, acabou parando na floresta amazônica brasileira, e depois de enfrentar grandes perigos, desmaiou, combalido. Foi encontrado e tratado pelo Papa-Capim, que desprendido de qualquer outra intenção, que não fosse o bem-estar do mordomo, curou-lhe a enfermidade. Gervásio poderia, então, atender o último pedido de seu patrão e, assim, entregou a fortuna ao índio.

Essa singela história foi publicada na Coleção um tema só 11 - Cebolinha e o Louco (Editora Globo, 1995) e ilustra bem as máximas que envolvem a figura do mordomo nas HQs: sempre amigo, confidente, parceiro e, principalmente, levando a palavra fidelidade ao seu mais alto nível; bastante participativo e, via de regra, um coadjuvante de peso.

A insustentável fineza do ser

Por tradição, as desconfianças sempre recaem sobre ele.

E como poderia ser de outra forma? Afinal, ninguém mais teria os motivos e a oportunidade para roubar a lasanha na geladeira ou assassinar o dono da mansão.

Seguindo os filmes e os romances literários, os quadrinhos também não se furtam de acusar o mordomo em toda sorte de crimes, é verdade. Vide o Inspetor Vivaldo, o impagável detetive cujas aventuras abrilhantavam as páginas da extinta revista A Pantera Cor-de-Rosa. Invariavelmente, todo mordomo era o suspeito dos crimes investigados pelo inspetor. Alguns até provavam sua inocência, mas nunca escapavam da suspeição. Também a Agência de Detetives Moleza, cujos sócios são os inseparáveis Zé-Carioca e Nestor, e que tem por lema Todo mordomo é culpado, algumas vezes conseguiu provar essa verdade em todos aqueles casos resolvidos na base da sorte.

Apesar disso, em nenhum outro lugar, além das histórias em quadrinhos, esse profissional tem sido mais bem tratado. O maior expoente da categoria, sem dúvida alguma, é Alfred Pennyworth, o clássico mordomo de Bruce Wayne que criou e educou aquele que se tornou o Batman.

Fleumático por natureza, solícito por convicção e servil por prazer, Alfred está sempre presente na vida de seu patrão. A relação entre ambos é sumamente de pai e filho, embora permeada de momentos de formalidade que algumas ocasiões exigem. O mordomo chegou até a vestir o manto do morcego em diversas oportunidades - a última delas na saga Bruce Wayne: fugitivo -, a fim de ludibriar alguns incautos vilões, participando de ações conjuntas com o Batsquad. Um dos mais simpáticos coadjuvantes das histórias em quadrinhos, sua ausência foi muito sentida na saga A queda do Morcego, bem como seu retorno foi bastante festejado.

Outro bastante conhecido no meio super-heroístico é Jarvis. Primeiro, mordomo do Homem-de-Ferro; depois, de toda a equipe dos Vingadores, ele é aquele a quem todos confiam suas identidades secretas. Mais que cuidar da mansão da superequipe, está sempre de prontidão para, na ausência dos heróis, informá-los de alguma ameaça. Tem até uma afilhada sua fazendo parte da equipe reserva.

Em meados da década de 40, na esteira do sucesso de Nick Holmes, magnífica criação de Alex Raymond, o fiel Desmond (rebatizado Duarte, no Brasil) destacou-se com seu refinado humor e sua solicitude e desprendimento em ajudar o patrão detetive nas mais perigosas aventuras. Os diálogos entre os dois eram os melhores das tramas, sempre carregados de um interessante jogo de deduções.

Uh! Terror!

Medo. Sustos. Gritos de pavor. E um mordomo. Não existe HQ de terror sem ele. Mas nem tudo de ruim que acontece é culpa sua. Bons ou maus de caráter, eles não deixam de ser excelentes profissionais, daqueles que os patrões não se arrependem de ter como empregados.

Um dos últimos aliados de Zagor a entrar no universo do Espírito da Machadinha, o coronel Korasi apresentou o fiel Samish Pasha em Zagor 22 (Mythos Editora, janeiro de 2003). Militante da causa antivampirismo, profundo conhecedor do tema e audaz lutador contra as forças do mal, tendo salvado o patrão das garras de alguns lobisomens por diversas vezes, Samish é um desses mordomos de histórias de terror em quem, a princípio, não se consegue confiar, mas que depois acabam ganhando a simpatia do leitor.

Brooks, mordomo de Mirza, a mulher-vampiro - personagem criada pelo italiano, radicado no Brasil, Eugenio Colonnese - não se limitava aos afazeres domésticos: preparava as armadilhas para as vítimas da patroa, participava do ataque a algumas, e ainda era capaz de lisonjear a vampira com belas palavras de ode a sua beleza. É o mordomo que todas querem ter.

Assim como Finório, recente personagem surgido na revista Mickey-X 1 (Editora Abril, abril de 2003), cuja patroa é Manny, guardiã do Mundo do Impossível. Finório é uma divertida caricatura da tradicional fleuma dos mordomos. Porte ereto, olhar sério e desligado do mundo, ele é capaz de ser perseguido por monstros horripilantes e não demonstrar nada além de uma expressão de indiferença. Faz tudo por Manny sem pestanejar (bem, ele parece não pestanejar por nada, mesmo).

Chatos e divertidos

Ontem as mulheres passaram a noite batendo na porta de minha casa... mas não deixei nenhuma delas sair. Essa é apenas uma das muitas tiradas de Groucho (nome e visual inspirados no comediante Groucho Marx), cujo empregador é nada mais, nada menos que Dylan Dog. Sempre intervindo com piadinhas infames nos momentos menos apropriados, é o contraponto humorístico nas histórias fantasmagóricas do Investigador do Pesadelo. Irritantemente engraçado, ele é a antítese de qualquer coisa que se possa pensar de um mordomo, além de ser completamente louco em tudo que faz ou diz. Entretanto, é o melhor amigo - talvez o único - que Dylan Dog poderia ter.

Alberto, mordomo de Rocha Vaz (o sogro do Zé Carioca), é tão leal quanto chato. Seus gostos e ódios se confundem tanto com os do patrão, que chega a ser intragável. Irascível, regozija-se ao soltar o cão Átila para cima do papagaio malandro, e nutre por este o mesmo desprezo que seu patrão também sente.

Essa afinidade de caráter entre empregador e empregado se dá de uma forma gritante com Anastácio e Plínio, este último o mimado e irritante membro rico da turma do Bolinha e da Luluzinha, que parece encontrar em seu mordomo um reflexo de si mesmo. Anastácio é o primeiro a não aprovar a mistura entre seu patrãozinho e a plebe do bairro. Mas, é inegável a comicidade das traquinagens que ele sofre da turma, pagando por suas intervenções nada amigáveis na diversão dos garotos.

Regras e exceções

Adentrando os quadrinhos infantis, a fartura de mordomos é realmente maior. O mais proeminente deles, certamente, é Duarte, presença constante nas aventuras de Riquinho. Quase um super-herói (possui força sobre-humana e é praticamente invulnerável), é parceiro de aventura do pequeno milionário, e com ele não pensa duas vezes antes de praticar alguma inocente traquinagem. Essa personalidade foi muito bem explorada na versão do mordomo no filme Riquinho.

Pelas histórias de Tio Patinhas já desfilaram muitos mordomos. Mas um, em especial, é personagem fixo nas aventuras produzidas pela Disney Itália, e mesmo com discretas atuações tem se mostrado uma simpatia de pessoa (ou de cachorro, melhor dizendo). A despeito dos parcos centavos que ganha por hora, Batista é incansável na luta contra a Maga Patalójika. Alegra-se com as vitórias do pato muquirana, solidariza-se nos seus infortúnios, e é a encarnação da honestidade no trato com o dinheiro de seu patrão. Em um recente episódio, continuou ao lado de Tio Patinhas quando este perdeu toda a fortuna, num golpe perpetrado pelos Metralhas. Goza da confiança irrestrita do velho unha-de-fome, condição só alcançada por Donald e os sobrinhos.

Mesmo assim, e como já foi dito no começo, os quadrinhos também mostram mordomos infiéis, traidores e outros adjetivos afins, exatamente a exceção à regra que estamos aqui expondo. Um exemplo recente aconteceu em Disney Especial 11 - Os fantasmas (Editora Abril, agosto de 2003), onde duas histórias, protagonizadas por Mickey e Pateta, mostram mordomos armando os maiores truques para roubar seus patrões.

Passivo ou atuante; amigo ou inimigo; mal ou bem-humorado; honesto ou desonesto; de uma forma ou de outra o mordomo é diversão garantida em qualquer HQ. Pelo menos nisso eles têm de culpa.

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