Filmes

Crítica

Crítica: Aconteceu em Woodstock

Ang Lee e Eric Gautier lutam para fazer o maior festival de todos os tempos caber numa pessoa só

25.09.2009, às 11H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H52

Há quarenta anos, Woodstock uniu pessoas, ideais, todos os credos e todas as cores, tocou milhões de almas com sua utopia psicodélica de liberdade e igualdade. Esse blablablá você já deve estar cansado de ouvir. Difícil é encontrar uma única pessoa, no meio daquele meio milhão de hippies, cuja vida tenha de fato mudado com o festival de rock mais famoso de todos os tempos.

Aconteceu em Woodstock (Taking Woodstock), o primeiro filme hollywoodiano do diretor Ang Lee depois de Brokeback Mountain, basicamente é o esforço para buscar (e tentar acompanhar, no meio daquele mar de gente) essa uma pessoa. O eleito é Elliot Tiber. Como diz o seu livro de memórias, Taking Woodstock: A True Story of a Riot, A Concert, and A Life, no qual o filme se baseia, Elliot foi o responsável por levar o festival para a pequena cidade de White Lake, no interior do Estado de Nova York.

woodstock

None

woodstock

None

Interpretado pelo comediante Demetri Martin, Elliot presidia a câmara de comércio da cidadezinha, com um festival de música local anual debaixo de sua responsabilidade, quando a vizinha Catskills expulsou Woodstock de lá - afinal, nomes como Joan Baez, Janis Joplin e Jimi Hendrix atrairiam uma população de hippies que os locais temiam. Com algum empurrão, Elliot decidiu então trazer o festival (que leva o nome de outra cidade, Woodstock) para White Lake.

Não vale aqui narrar como se deu a montagem do festival numa pastagem, com hoteis capengas, ameaças de mafiosos, muita mídia, muitas kombis, algum teatro e incontáveis baseados. A graça do filme está nessa transformação da paisagem de White Lake, e não há como descrever isso aqui, a contento. O que dá para dizer é que o excelente elenco está num nível de casting (atores parecem ter nascido para aqueles personagens) comparável ao das melhores séries de TV dos EUA. Não falta humor, nem música.

Mas voltemos à ambição inicial e principal de Lee. Como seguir um protagonista quando, inevitavelmente, o festival a certa altura se tornará o ator principal? O diretor consegue com a inestimável ajuda do diretor de fotografia Eric Gautier. Muitos críticos cosideram-no o melhor operador de câmera em atividade hoje no mundo - como dá para constatar em filmes como Clean, Medos Privados em Lugares Públicos e Horas de Verão - e aqui o francês não decepciona.

Com a câmera na mão firme mas fluente - e principalmente com agilidade para encontrar pontos de interesse num enquadramento sempre em mudança e em movimento - Gautier dá ao filme aquela cara de documentário, de registro de acasos, e não perde Elliot de vista. Quando o personagem vai atravessar uma multidão na rua, opta-se pelo plano-sequência. Quando vai ficar fora de quadro, Lee resgata o maneirismo de dividir a tela, como fez em Hulk. Por exemplo, se em cena a câmera subjetiva nos põe no lugar de Elliot, observando os entornos, a tela se divide em duas, campo e contracampo, para não deixarmos de enxergar seu rosto.

Saber sempre como Elliot reage ao que se passa é uma obsessão do filme, e Demetri Martin consegue convencer, nessa exposição constante. Mas, claro, Gautier não é onipotente. A certa altura Woodstock vai mesmo se impor, e o arco dramático de Elliot parece se arrastar um pouco, com uma sucessão de quase-finais, na segunda metade das duas horas de filme. É como se o arco se encerrasse no momento em que o festival se torna realidade, quando no fundo ainda há pontas soltas na subtrama de Elliot. O filme se alonga para resolvê-las, naquelas horas da manhã em que bate a ressaca do fim de semana de shows.

De qualquer forma, a eleição de um protagonista privilegiado faz muito bem ao filme. Por meio de Elliot, podemos nos identificar e nos colocar numa posição que, dado o gigantismo e a mítica de Woodstock, quatro décadas depois tende a perder sua real dimensão.

Assista a clipes

Leia mais críticas da Mostra 2009

Leia mais críticas do Festival do Rio 2009

Nota do Crítico
Ótimo
Aconteceu em Woodstock
Taking Woodstock
Aconteceu em Woodstock
Taking Woodstock

Ano: 2009

País: EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 110 min

Direção: Ang Lee

Elenco: Emile Hirsch, Demetri Martin, Henry Goodman, Edward Hibbert, Imelda Staunton, Paul Dano, Kelli Garner, Kevin Chamberlin, Liev Schreiber, Lee Wong, Anthoula Katsimatides, Clark Middleton, Bette Henritze, Sondra James, Jeffrey Dean Morgan, Christina Kirk, Jonathan Groff, Skylar Astin

Onde assistir:
Oferecido por

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.