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Crítica

Crítica: Carlos

Olivier Assayas conta em cinco horas a ascensão e a queda de um terrorista icônico

24.09.2010, às 12H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H08

Antes que alguém questione, ou mesmo que exija, Olivier Assayas já coloca suas condições no começo de Carlos: a cinebiografia do terrorista venezuelano deve ser vista como um obra de ficção; há pontos na história de Carlos, o Chacal, que até hoje não são públicos e alguns coadjuvantes foram romanceados para fins dramáticos, diz o letreiro.

Com isso, o coroteirista e diretor francês, célebre por seus dramas, como Irma Vep, Clean e Horas de Verão, de antemão evita as armadilhas e as obrigações das "histórias baseadas em fatos". Assayas está menos interessado nos atos do terrorista do que em entender o que acontece quando um ser político como Carlos deixa a persona engolir a ideologia.

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Ainda assim, ao longo das cinco horas de Carlos - a versão integral exibida em Cannes, depois cortada em três partes para a televisão francesa, é a que veio ao Festival do Rio -, são os atos de Ilich Ramírez Sánchez que acompanhamos. A Assayas interessa o subtexto, sim, mas é preciso recontar momentos-chave da história do terrorista para que tenhamos a dimensão da sua transformação e para que o filme não se limite a simbolismos gratuitos.

O diretor não gasta tempo, por exemplo, explicando o apelido Chacal (que Carlos ganha por causa do livro de Frederick Forsyth, O Dia do Chacal) ou contextualizando demais a geopolítica ano a ano. Sabemos que os governos mudam por conta dos retratos de presidentes pelas paredes. O que é acessório na construção da imagem Assayas descarta ou põe em segundo plano.

A trama começa com o venezuelano Ilich, recém-formado em Moscou, discutindo com a sua mulher que a revolução de esquerda não virá por meios pacíficos. Ela o acusa de aderir à violência por questão de vaidade. Ele responde pela metade, a agressão fica no ar, e diz apenas que dali por diante passaria a se valer de um codinome, Carlos.

Nos anos 70, Carlos cometeu em nome da Frente Popular para a Libertação da Palestina os seus atentados mais arrojados, com apoio de aparelhos alemães, árabes, franceses. Um deles, quando explodiu um banco que a FPLP julgava sionista, é marcante no filme: Carlos arremessa a bomba, assume num telefone público a autoria, e a cena corta para o quarto dele, com Carlos nu diante do espelho, triunfante. Ali já se sente no mito a sua aura, literalmente. Assayas com frequência coloca o ator Édgar Ramírez numa posição à frente de janelas que permite que a luz banhe Carlos de forma quase divina.

Assumir autorias de atentados por telefone, esse processo tão curioso da liturgia do terrorismo, sintetiza bem o que Olivier Assayas propõe discutir com Carlos. Pelo ideal anti-imperialista estão unidos grupos os mais diversos, mas a glória anônima não convém a ninguém (a cena em que um grupo rival assume autoria por um atentado cometido pelo grupo de Carlos chega a ser cômica). Nesse sentido, é natural, quase um acordo faustiano, que Ilich deixe a propaganda de si mesmo lhe subir a cabeça.

Não espere das cinco horas de projeção grandes momentos catárticos (com exceção do complexo sequestro dos chefões da OPEP, o maior ataque de Carlos, que ocupa umas boas duas horas de filme), revanchistas ou mesmo um grand finale operístico. É com melancolia que Assayas narra a inevitável queda do terrorista. Não confundir melancolia com simpatia; o filme é bastante crítico sem precisar apelar para discursos prontos. Assim como sua câmera, sempre rápida e fluida procurando detalhes, Assayas não chega com ideias prontas. A verdade ele procura nas imagens diante de si.

Nota do Crítico
Ótimo
Carlos
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Ano: 2010

País: França/Alemanha

Classificação: 16 anos

Duração: 330 min

Direção: Olivier Assayas

Roteiro: Olivier Assayas, Dan Franck, Daniel Leconte

Elenco: Édgar Ramírez

Onde assistir:
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