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Crítica

Crítica: Che

Steven Soderbergh busca o Ernesto de la Serna Guevara por trás do mito

30.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H41

Ernesto Guevara de La Serna, o "Che": Uma das figuras mais imediatamente reconhecíveis do século 20. Uns o vêem como um exemplo, um ideal, outros como assassino romantizado. Mas, independente de como o guerrilheiro, escritor e médico argentino seja visto, sua importância histórica é inegável. O cineasta Steven Soderbergh também tem sua visão própria do ícone, mas optou por mostrar nas telas a história do homem, não o mito.

Em seu épico de 4 horas e meia, o diretor que mais alterna superproduções e filmes autorais em Hollywood (ele vai de Onze Homens e um Segredo a Bubble, de Traffic a Full Frontal) acompanha Che desde o primeiro encontro com Fidel Castro em 1956 até a morte na Bolívia em 1967.

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É uma cinebiografia, sim, mas uma que não faz as infames concessões mercadológicas que costumam arruinar produções do gênero. Não vemos "os amores de Guevara". Não o temos um momento sequer em poses consagradas, como as famosas imagens registradas pelas lentes de Alberto Korda. Não são amenizados os crimes cometidos em nome da liberdade. Não há hiperdramatização. O Che de Soderbergh e do protagonista Benicio Del Toro (Coisas Que Perdemos Pelo Caminho) não é uma idéia, mas um homem movido por uma.

A primeira metade do longa, que será lançado em duas partes pela inviabilidade da duração proposta, cobre, com um belo formato Scope digital e quase sem trilha sonora, os anos da revolução cubana. Batizado Che (The Argentine), o filme tem estrutura não-linear, saltando entre a turnê de Guevara por Nova York em 1964 e seu famoso discurso na ONU (gravados em preto e branco granulado), a viagem do barco Granma (que levou 82 revolucionários à ilha caribenha) e as batalhas para derrubar o regime de Fulgencio Batista. O segundo filme, Che - A Guerrilha (Guerrilla) faz uma breve recapitulação dos seis anos que se passaram desde o primeiro segmento e começa com Che chegando à Bolívia.

Apesar de contarem uma grande história, os dois filmes têm tons distintos. Enquanto o primeiro parece mais otimista e acelerado, o segundo - linear e alternando saturações de cores - é mais sombrio e contemplativo, retratando a seqüência de derrotas físicas e morais de Che e seus comandados na América do Sul. Soderbergh em alguns momentos se parece até com Terrence Malick em Além da Linha Vermelha, parando para observar o vento nas copas da árvores, os campos, as ravinas em que Che encontraria seu fim.

Tecnicamente, o filme é perfeito. O digital em alta definição (que provavelmente viabilizou o custo) funciona perfeitamente bem. Mais que isso, o filme é lindo (infelizmente, porém, a cópia que assisti tinha problemas de foco no canto esquerdo). Soderbergh superou-se não apenas como diretor, mas também como fotógrafo. E o roteiro de Peter Buchman e Benjamin A. van der Veen, inspirado nos diários do próprio Guevara, tem momentos de pura genialidade, como o final do primeiro ato, às portas da capital cubana. Capitaneado pelo inspiradíssimo Del Toro (impossível pensar em alguém melhor para o papel), o elenco eclético conta com Catalina Sandino Moreno, Demián Bichir, Rodrigo Santoro, Julia Ormond, Lou Diamond Phillips, Franka Potente e Benjamin Bratt, entre dezenas de outros. Não há pontos fracos.

Simples e honesto, Che resulta em um trabalho quase documental, contando como viveu e morreu o ícone. Se Guevara foi mesmo o "Guerrilheiro Poeta" romantizado ou um assassino que ajudou a substituir um regime por outro, cabe a cada espectador decidir.

Assista aos clipes

Nota do Crítico
Excelente!
Che
The Argentine
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The Argentine

Ano: 2008

País: Espanha/EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 126 min

Direção: Richard Fleischer

Elenco: Omar Sharif, Jack Palance

Onde assistir:
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