De história forte e humores arraigados, Coco Chanel é uma personagem cinematográfica por excelência. Tanto que foi alvo de três cinebiografias distintas nos últimos dois anos - nenhuma delas, curiosamente e por mais que a estilista seja um ícone cultural local, dirigidas por um francês.
Em Coco Antes de Chanel, o mais pop e meloso da "trilogia chaneliana", dirigido por Anne Fontaine e com Audrey Tautou no papel principal, a história gira ao redor dos anos pré-fama da estilista. Mais completo é o filme para a TV norte-americana, guiado por Shirley MacLaine, que é uma biografia mais óbvia da madame. Mas é neste Coco Chanel & Igor Stravinsky, dirigido pelo belga Jan Kounen, que a personagem se sobressai de verdade - em interesses biográficos e cinematográficos.
Coco Chanel & Igor Stravisnky
Coco Chanel & Igor Stravisnky
Coco Chanel & Igor Stravisnky
O filme de Kounen, baseado em livro de Chris Greenhalgh, funciona como uma sequência involuntária ao de Fontaine. Nenhum deles mostra o motivo de Chanel ser tão importante à moda e cultura francesas. Aquele acaba antes que ela chegue às vias de fato. Este começa quando a estilista já está com sua marca estabelecida. Novamente, o contexto não faz falta. Não é o que importa: mais uma vez, é sua vida pessoal que é assunto aqui.
Como o título denuncia, Coco Chanel & Igor Stravinsky foca no relacionamento da francesa com o compositor russo Igor Stravinsky - então exilado na França por conta da Revolução Russa e ainda afamado pelo escândalo que fora a primeira montagem de A Sagração da Primavera em Paris. A reencenação do balé, aliás, pode ser considerado um dos pontos altos do filme.
Admiradora de Stravinsky, a mecenas Chanel convida o russo e sua família para um retiro em um château fora de Paris. É aí que o filme sai da história para entrar no campo das suposições alimentadas pelo livro original. Rezam as lendas da alta sociedade da época que o interesse da estilista era maior no compositor do que nas composições, e que o casal teria alimentado um romance durante essa temporada.
A maior parte do enredo é dedicado ao relacionamento conturbado entre os dois artistas, com família e criações espremidas entre uma e outra cena tórrida. E é aí que Kounen constrói o filme maduro que a personagem merece.
Coco Chanel & Igor Stravisnky tem tudo o que Coco Antes de Chanel não tem. É sexy e real, forte e poético, sabe se contar mais através das entrelinhas do que via diálogos didáticos.
A francesa e o russo eram figuras semelhantes e complementares. Polêmicos, talentosos e arrogantes na medida. Ela, colecionadora de homens poderosos, manipulava a todos. Ele, bronco por outro lado, desdenhava a moda de Chanel como um ofício não artístico. O embate é inevitável e dá abertura ao jogo de olhares e sensações entre a bela francesa Anna Mouglalis e o ótimo dinamarquês Mads Mikkelsen (lembre-se dele como Le Chiffre, o Bond-vilão de Casino Royale).
Enquanto isso, segundo a teoria do enredo, o affair libera o potencial criativo dos dois. Stravinsky passa a compor com estilo mais desanuviado e Chanel larga o luto (do seu falecido amante anterior, Boy Capel) e cria finalmente seu icônico perfume Chanel n. 5 (sequência sensacional para os chanelmaníacos).
Mais do que justo à personagem ou historicamente correto, Coco Chanel & Igor Stravinsky é um filme tenso. Em relações humanas e personas poderosas e cínicas. Tipo vida real.
Saiba onde Coco Chanel & Igor Stravinsky está passando
Ano: 2009
País: França/Japão/Suíça
Classificação: 16 anos
Duração: 120 min
Direção: Jan Kounen
Roteiro: Chris Greenhalgh
Elenco: Anna Mouglalis, Mads Mikkelsen