A região francesa de Lorena, que faz fronteira com Alemanha, Bélgica e Luxemburgo, cenário de Há Tanto Tempo que te Amo (Il y a Longtemps que je T'Aime, 2008), é um berço tradicional de misturas culturais no país. Isso logo fica claro no filme: um casal com filhos vietnamitas adotados, um polonês sobrevivente do Holocausto e um médico iraquiano imigrante dividem a mesma mesa sem qualquer problema.
há tanto tempo que te amo
há tanto tempo que te amo
E isso só intensifica o drama pelo qual passa a parisiense Juliette Fontaine (Kristin Scott Thomas). Ela está saindo da prisão depois de uma pena de 15 anos e vai morar com a irmã (Elsa Zylberstein) em Lorena. O mundo a que ela estava habituada não existe mais, e ali o choque é maior - não só pela quantidade de informação, mas também porque o espírito provinciano da cidade meio que força a ex-condenada a adotar mais rápido aquele lugar como lar.
O diretor estreante Philippe Claudel não desgruda a câmera de Kristin Scott Thomas para mostrar como é difícil a reinserção social - um processo que, neste caso, logo o espectador descobre, se mistura ao luto. O rosto forte da atriz inglesa, cujo "centro" dramático são seus olhos grandes e fundos, a todo momento recebe o close-up. Pelo papel, Kristin foi indicada ao Globo de Ouro este ano, e Há Tanto Tempo que te Amo recebeu indicação a melhor filme estrangeiro.
Mas não é uma personagem fácil, e frequentemente a atriz força nas expressões faciais para deixar mais clara a tensão interior de Juliette. Talvez seja insegurança na direção do elenco do novato Claudel, mesmo porque, na decupagem, ele também privilegia cenas funcionais. Juliette interage individualmente com diversos coadjuvantes e quase sempre há um "ponto a ser trabalhado": com os novos empregadores e com a assistente social ela refuta o paternalismo, com as sobrinhas demonstra que é mulher "de bem", com o cunhado ela reafirma o talento de médica que tinha antes da prisão, etc.
Há Tanto Tempo que te Amo se enfraquece aos poucos (nem a revelação final, do motivo do crime, tem o fôlego que se esperaria dela) porque não é difícil perceber esse esquematismo, como se a reinserção social dos presos tivesse uma cartilha a ser preenchida. Não é tão simples. Claudel usa de academicismo no trato desse drama (as menções às pinturas de luto, ao Crime e Castigo de Dostoievski), mas o tema definitivamente não é tão simples. Aliás, "cartilha" é um termo que cai bem ao intelectualismo de Claudel.
Aliás, o único momento em que Juliette parece ganhar um pouco de oxigênio, de alívio de toda aquela culpa (e o rosto de Kristin é bastante iluminado nesse plano, com ela deitada na cama, sob o sol), acontece quando ela depara com uma segunda tragédia, uma sobre a qual não tinha controle algum. É a cena do destino do policial. Ali o peso do filme sai das costas da personagem (o peso de tentar entendê-la, perdoá-la etc.) e aceita-se a complexidade do mundo, onde nem tudo foi feito para ser psicanalisado.
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Ano: 2009
País: França, Alemanha
Classificação: 14 anos
Duração: 115 min
Direção: Philippe Claudel
Roteiro: Philippe Claudel
Elenco: Kristin Scott Thomas, Serge Hazanavicius