A uma altura dessas, você já deve ter visto no YouTube uma edição de trechos de várias chamadas da TV Globo em que o locutor mostra o tanto de "confusão" que vai acontecer na Sessão da Tarde. A falta de criatividade do departamento de criação, claro, não é exclusividade do Plim-Plim. Ela está espalhada por todo o mundo. Um exemplo claríssimo da "globalização" do fundo do poço é a estréia de Deu a Louca em Hollywood (Epic Movie, 2007).
Do Hemisfério Norte vem mais um filme-colagem cujo único propósito é juntar o maior número possível de referências dos blockbusters, misturar num liqüidificador e bater para ver se alguém aprova essa massamorda que é o resultado final.
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Do lado de cá da linha do Equador, além de acolher uma atrocidade dessas, ainda somos obrigados a ver em cartaz mais uma produção com a gasta palavra "louca" em seu título. Parece que o "Manual das Distribuidoras" ordena que, na dúvida, deve-se batizar seu filme de "qualquer coisa muito louca", como já alertou o cozinheiro Pedro Hunter na sua crítica da animação Deu a louca na Chapeuzinho.
Mas se nada deste papo interessa e você vai ao cinema (ou alugar o DVD) assim mesmo, a desfiada linha que costura a história pega como inspiração principal Crônicas de Nárnia. Quatro órfãos que em nada se assemelham acham um bilhete dourado em um chocolate e ganham a chance de visitar a famosa fábrica Willy. Lá encontram um armário que os leva para o mundo de Gnarnia (com "G", para evitar processos), onde vive a Branquela Perversa, que quer acabar com os órfãos antes que a profecia se concretize.
É fácil encontrar referências a Piratas do Caribe, Serpentes à bordo, X-Men, O Código Da Vinci, Superman - O Retorno, Nacho Libre e até Borat. E este é o maior de todos os problemas do filme. Em vez de parodiar os blockbusters, os diretores e roteiristas Jason Friedberg e Aaron Seltzer se limitam a reproduzir os originais. Não há um tom satírico, um sarcasmo contra o cinemão pipoca. Nem ao menos a piada pronta, usar um sósia do Michael Jackson como Willy Wonka, eles tiveram coragem de usar. Preferiram segurar a caneta e apostar apenas no que é certo. O resultado, obviamente, é tão sem graça quanto sopa de chuchu - e sem sal!
Bons tempos, nos anos 80, quando as comédias besteirol eram criativas, como Apertem o Cinto, o Piloto Sumiu, Corra que a Polícia Vem Aí e Top Secret. A nossa sorte é que ainda não conseguiram colocar em prática, em grande escala, o projeto de um cinema sensorial, com odores. Com o tanto de flatulências que se usa nestas comédias despropositadas de hoje em dia, ninguém mais se aventuraria a acompanhar um filme desses in loco.