Enquanto as telonas apresentam cada vez menos novidades e afundam ano após ano suas bilheterias, as atrações da telinha parecem só melhorar.
Com A vida e a morte de Peter Sellers (The Life and Death of Peter Sellers, 2004) a HBO de Band of Brothers, A sete palmos, Sex and the City, Angels in America e dezenas de outras produções impecáveis, volta a jogar litros de combustível no eterno debate sobre a qualidade dessas duas mídias primas.
Como o próprio título do telefilme já escancara, ele narra a vida do ator britânico Peter Sellers, começando com seu sucesso na era do rádio, seu desejo em investir no cinema e seguindo até sua morte, em 1980. O australiano Geoffrey Rush (Frida), dono de um Oscar em 1997 por Shine - Brilhante, é o protagonista. Mas o papel que lhe rendeu a estatueta dourada fica até ofuscado perto do que ele faz aqui neste A vida e a morte de Peter Sellers.
Rush obtém sucesso em interpretar um sujeito quase ininterpretável. Isso porque o virtuoso Sellers foi um dos maiores gênios da comédia que o cinema já viu, mas fora das telas era um verdadeiro turbilhão de emoções negativas. Pra coroar o trabalho de Rush, ele ainda interpreta outros papéis ao longo do filme em cenas-chave, como a mãe, o pai, a ex-esposa e outras figuras importantes para a trama. Essas seqüências entram sem aviso, substituindo o artista que vive tal personagem pelo ator para que se inicie um monólogo que conta alguns detalhes e visões de Peter Sellers. A transformação é desconcertante. O talento de Rush é tão surpreendente que demora alguns segundos para que consigamos entender o que aconteceu. Assim, são quase vinte papéis que ele vive na produção, incluindo personagens antológicos como o Inspetor Clouseau (a cena em que Sellers o inventa num avião é memorável) e o Dr. Fantástico.
Além de Rush, outros ótimos atores completam o elenco. John Lithgow (3rd. rock from the sun) vive o escritor e diretor Blake Edwards (da série A Pantera Cor-de-Rosa), Stanley Tucci (Estrada para Perdição) interpreta o genial cineasta Stanley Kubrick, Emily Watson (Dragão Vermelho) e Charlize Theron (Monster) são, respectivamente, a primeira e a segunda esposas do ator.
Se existe um problema em A vida e a morte de Peter Sellers ele não é técnico ou criativo, mas meramente emocional. Com a desmitificação da figura de Sellers, fica praticamente impossível assistir aos engraçadíssimos filmes dele sem lembrar que aquela figura fantástica foi tão humana quanto qualquer um de nós. É duro aceitar que ele não era espiritual como o Chauncey de Muito além do jardim, inocente como o Hrundi V. Bakshi de Um convidado muito trapalhão ou determinado como o Inspetor Clouseau... era sim extremamente egocêntrico e difícil, algo que ele próprio tenta justificar numa das cenas mais fortes do filme, com olhares de louco, para sua filhinha: Sou uma casca vazia. Não tem ninguém em casa.
O melhor trabalho da carreira do diretor Stephen Hopkins (alguns episódios de 24 horas, Predador 2, Perdidos no espaço) foi aclamado em todos os principais prêmios da TV estadunidense, incluindo aí Globos de Ouro e Emmys. É merecido, claro. Mas melhor mesmo seria se ele tivesse sido lançado na tela grande. Ela precisa desesperadamente de produções de tal qualidade.
Detalhes do DVD
Menu interativo; Seleção de cenas; Cenas eliminadas;
Criando Vida e Morte de Peter Sellers (8 cenas); Formato de vídeo:
Widescreen Anamórfico; Áudio: não fornecido; Legendas:
Português, Inglês, Espanhol. Compre
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