Durante a última Comic-Con estivemos reunidos com os principais envolvidos no remake de A Hora do Pesadelo: Jackie Earle Haley (Freddy Kruger), os produtores Andrew Form e Bradley Fuller e o diretor Samuel Bayer. Durante 20 minutos, eles falaram sobre o que pretendiam fazer com o filme, o respeito que tinham com o personagem criado por Wes Craven e imortalizado por Robert Englund e como queriam reiniciar sua história ao mesmo tempo homenageando o que foi feito por duas décadas e elevando o nível de medo e terror. Veja como foi o bate-papo:
De onde veio a ideia de recriar este personagem icônico?
A Hora do Pesadelo
A Hora do Pesadelo
A Hora do Pesadelo
A Hora do Pesadelo
A Hora do Pesadelo
A Hora do Pesadelo
Bradley Fuller - Por que não? É uma consequência do que estamos fazendo nos últimos 8 anos, com O Massacre da Serra Elétrica, Terror em Amityville e Sexta-Feira 13. E este projeto tinha o melhor conceito para um filme de terror: se você dormir, você morre. Os seus sonhos são assombrados por este vilão que pode te matar. É um ponto muito interessante para podermos reiniciar a franquia novamente.
Vocês, em algum momento, titubearam em fazer o remake?
Andrew Form - Este filme é um desafio e tanto, pois neste filme o vilão também fala, então ele precisa atuar e não ficar só perseguindo e matando pessoas. É um filme muito mais complexo, então tivemos que nos prepararmos para isso. E ao convidarmos o Sam (diretor) tínhamos a certeza de que ele conseguia trabalhar bem em projetos pessoais. Gostamos muito dele. Mais do que tudo, ele precisava trabalhar bem a história, não só o visual. E para nós parecia que este seria o filme mais maduro de todos da franquia. E com isso foi importante escalar o elenco de acordo com este desejo. Foi justamente por isso que sempre tivemos Jackie Earle Haley na cabeça e nos empenhamos muito - até imploramos! - para que ele estivesse no projeto.
O que faz desta franquia única e especial?
AF - Além de nunca ter sido indicado ao Oscar (risos)... Olha, é algo muito difícil entrar nessa, colocar o chapéu e vestir o sweater listrado. Se a nossa empresa está empenhada em refilmar a franquia, nós queremos fazer do nosso jeito. E por conta disso nos empenhamos em buscar o melhor ator que pudesse fazer o papel. Precisávamos de alguém que incorporasse e acrescentasse ao personagem e como Jack topou, foi ótimo!
E como é para você poder atuar e não apenas sair correndo assustando as crianças? Como é poder, como eles disseram, falar em um filme destes?
Jackie Earle Haley - Foi maravilhoso. Foi desafiador, mas também foi divertido. E o mais divertido foi poder interpretar este mito. Foi algo no qual eu realmente me envolvi. Eu tentei ao máximo focar no lado humano do personagem, o que aconteceu para que ele se tornasse aquilo.
O que você conseguiu captar da psicologia de Freddy Kruger além das cicatrizes?
JEH - Ele é um cara que foi queimado por diversas vezes e de diversas formas, e ele está bem puto. Há várias coisas que já sabemos sobre Freddy, o que é legal. Para mim o importante foi balancear o que já sabemos com o que ainda está escondido. Pelo que Sam (o diretor) desejava, acho que conseguimos alcançar o resultado.
Como foi dirigir o filme, uma das franquias de terror de maior sucesso da história do cinema?
Samuel Bayer - Foi um grande desafio porque eu queria quebrar a imagem do personagem, exatamente como foi feito nos últimos filmes do Batman. Tim Burton é um grande diretor e fez um bom trabalho. Então o Chris Nolan revelou coisas novas usando os mesmos símbolos e personagens. É um reboot, um recomeço. Estamos muito empolgados para isso.
Quando se faz um filme destes, de franquia, você não pensa apenas em um capítulo, mas em 3, 4, 5, 6 partes. Seu contrato é de quantos filmes?
JEH - Assinei para três. Um já fizemos. Se este primeiro fizer sucesso e eles quiserem fazer mais um, eu obviamente já me coloco à disposição.
AF - Nós falamos sobre isso quando estávamos fazendo Sexta-Feira 13. Nós não entramos para fazer o filme com a a cabeça em uma possível sequência. Queremos fazer o melhor agora e deixar que ele se sustente. Daí, se as pessoas gostarem e forem ver, nós começamos a pensar em um segundo. Nós não ficamos economizando cenas para um segundo filme, nós usamos tudo que temos de melhor.
O conceito de mal mudou ao longo dos anos. Como vocês vão se comunicar com o público atual que têm este novo tipo de conceito?
SB - O que Freddy Kruger faz, não importa se é 1984 ou agora, ainda o faz um cara muito malvado e horrível.
AF - A sua motivação continua verdadeira para ele estar fazendo tudo aquilo, o que é muito assustador. E o conceito continua o mesmo: isso pode ocorrer com você se cair no sono. Focamos esta situação no filme, com diversas pessoas tentando se manter acordadas. Isto é algo com que todos podem se identificar. Em algum momento da sua vida você tentou ficar acordado por algum motivo e acabou ficando tão cansado que seus olhos fechavam sozinhos. Neste filme, se você dormir pode acabar morrendo.
SB - A questão do sono no filme me atraiu de imediato e acho que isso vale também para o Jackie e os garotos. Dormir é um processo ainda muito inexplicado. Há séculos pessoas tentar entender porque estão sonhando sobre determinada coisa repetidas vezes. O porquê isso ocorre com o cérebro humano continua inexplicável, assim como a forma como a nossa mente funciona durante o sono. A idéia deste filme surgiu originalmente, nos anos 70, quando diversas crianças do Cambodja estavam morrendo durante o sono. [Wes] Craven leu o artigo e teve a ideia do filme. Dormir é algo assustador e não entender isso é algo terrível. Esta é a raiz do mal deste filme.
Qual foi o maior desafio durante as filmagens?
AF - Para cada um foi desafiante por razões diferentes. Para o Jackie tenho certeza de que foram as quase cinco horas de maquiagem por dia. Este filme, assim como outros de terror que fizemos, tem que ser filmado durante a noite o que é muito difícil para nossos organismos. São várias semanas trabalhando das 6h da noite até as 6h da manhã. Fora isso, as filmagens eram bem normais.
SB - Normais em termos de tempo de filmagem, não de conteúdo. (risos)
Robert Englund imortalizou o personagem. Você sentiu uma pressão extra por conta disso?
JEH - Sim, haveria uma pressão muito grande se eu ficasse só pensando nisso. O que eu fiz foi deixar isso de lado. O fato é que Robert Englund interpretou este personagem de forma espetacular por duas décadas. O personagem pertence a ele e isso cria uma grande pressão. Mas acho que precisamos entender que isso é um reinício, estamos recomeçando tudo, e ainda assim homenageando muito o que foi feito, principalmente no primeiro filme. Agora temos um novo Freddy e eu espero não desapontar os fãs. Eu tenho certeza que há muitas pessoas que amam o Robert e sempre vão preferi-lo e eu compreendo isso, já que ele ficou tanto tempo com o papel. É muito difícil imaginar outro ator para o personagem, mas está sendo uma experiência incrível.
Você criou na sua cabeça algum tipo de explicação para ele ser uma criatura do inferno?
JEH - Sim, alguma coisa. Não muita coisa que pudesse ser listada em um pedaço de papel, mas eu pensei em algumas coisas, principalmente na questão da eternidade.
E ele quer o quê? Apenas vingança?
JEH - [suspiro e longa pausa] E muito mais complexo que isto. É uma questão chave que pode dar margem para a dúvida.
Como fãs de filmes de terror, como foi ver Jackie encarnando Freddy?
BF - A primeira vez que eu o vi, eu me lembro da cidade, da temperatura do quarto, eu me lembro olhando para ele e dizendo “Oh meu Deus!”.
JEH - Na escola?
BF - Exato!
AF - Vale até a pena voltar um pouco no tempo. Nós ainda não tínhamos visto como tinha ficado e precisávamos encobertá-lo porque estávamos filmando em uma escola e tinha muita gente lá. Então ele chegou com uma capa preta, com capuz...
BF - Parecia o Darth Maul.
AF- Nós víamos aquela coisa entrando na sala onde estávamos e ficamos petrificados.
BF - Eu e o Andrew, antes de mais nada, sempre fomos muito fãs. Ao ponto de não acreditarmos que estávamos com o Freddy Kruger no set de filmagens.
AF - Era difícil ficar olhando para o Jackie no set, dava muito medo (risos).
JEH - Sim, eu lembro deles falando comigo e irem andando para trás (risos).
AF - Ele ficava fingindo que não estava nem aí, mas sabia. Era impossível conversar com ele quando estava todo maquiado.
JEH - Eu não ficava andando e falando muito pelo set. Eu demorei muito para me acostumar com a maquiagem e mesmo quando eu achava que estava acostumado com a maquiagem eu tentava parecer que não estava, para transmitir uma mensagem de incômodo no personagem. Eu tentava manter a pose, mas tinha algo errado propositalmente para que o sentimento de terror continuasse. Eu fiz de tudo para manter o ar pesado e aterrorizante de acordo com a direção de Sam.
A franquia tem a tradição de reimaginar formas diferentes de matar os personagens e mostrar muito sangue. O que vocês podem dizer para acalmar os fãs da série?
AF - Teremos muito dos dois. Oferecemos a direção de um filme para o Sam umas quatro ou cinco vezes antes deste. E ele negava e daí voltávamos a procurá-lo. E pela primeira vez posso dizer que estou até feliz que ele tenha negado os convites anteriores porque com sua habilidade, ele pega lindas imagens e eleva a um nível superior, e usa isso como algo fundamental para a história. Quando você fala de um diretor que consegue criar imagens muito bonitas e ao mesmo aterrorizantes para os sonhos, não imagino outra pessoa que pudesse fazer isto.
SB - Obrigado. Vou te pagar uma cerveja depois (risos). As sequências dos sonhos sempre foram a parte mais fraca dos filmes anteriores. As ideias eram muito interessantes, mas fracas na execução talvez por questões orçamentárias ou a falta de tecnologia necessária para poder filmar devido ao próprio período em que foram feitas. Este foi um dos aspectos que mais me atraiu para o filme. Eu não posso adiantar muita coisa, mas está tudo muito bonito e ao mesmo tempo aterrador. Tem uma cena que começa a nevar no quarto e a neve se torna outra coisa. É algo muito abstrato, mas também muito artístico. Os sonhos sempre têm alguma relação direta com os personagens. Não é só o Freddy surgindo e se transformando em algo, os sonhos auxiliam para a condução da trama e estão conectados. Eu tentei ser bem cerebral neste aspecto. Não cabe a mim ficar falando de artistas como Matthew Barney, que me influenciaram a construir esse visual. Mas também vai ter muito sangue explodindo pela tela. Esses dois [apontando para os produtores] são os reis do sangue. Teve uma cena em que cobrimos uma pessoa de sangue e eles ficavam falando “Mais sangue, mais sangue. Tá faltando aqui” (risos). Temos especialistas em sangue na nossa equipe. Estejam preparados para isto, para o melhor e o pior.
Com tantos filmes de terror sendo feitos, vocês não acham que o gênero corre o risco de perder a graça?
JEH - Eu quero responder essa. Acho que alguém me perguntou um dia: o que pode ser mais assustador do que algo que você não sabe como vai ser ou algo que você já conhece um pouco? E acho que é a coisa que você já conhece porque, por mais que exista uma outra razão, não importa o que você faça ou diga, nada vai mudar. E a grande questão é que estas coisas não têm explicação ou razão. Sendo assim, não há resposta para esta pergunta. Em alguns casos, dependendo como a história do filme é contada uma coisa idiota pode ser muito assustadora, muita mais do que algo conhecido. O jeito como a história é recontada pode ou não ser mais aterrorizante. Portanto, acho que a resposta para esta pergunta é “depende”, ou seja, não há uma única resposta para esta pergunta.
BF - Quero acrescentar uma coisa ao que o Jackie estava falando. Acho que Robert [Englund] fez um trabalho maravilhoso e sei que deixamos alguns fãs desapontados por não incluirmos ele no projeto. Mas acho que não faz mais sentido fazermos os filmes como eram antes. Eu tenho certeza que o Freddy Kruger que criamos é muito mais aterrorizante.
- Leia mais no Especial A Hora do Pesadelo