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As Confissões de Schmidt | Crítica

Seria uma história repetitiva e sem graça se não fosse vivida pelo genial Jack Nicholson.

21.03.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

É tanta a falta de perspectiva na vida de Warren Schmidt, que ele se vangloria de saber, aproximadamente, quando morrerá - uma vez que trabalhou, durante décadas, com estatísticas numa empresa de seguro de saúde. Na faixa dos sessenta, acaba de se aposentar, substituído por um jovem gênio qualquer. Em casa, repete para si mesmo, insistentemente, que não reconhece mais a mulher com quem divide uma cama há quatro décadas. Para completar, sua filha logo juntará os trapinhos com um vendedor de colchões d'água - e o velho já não sabe o que fazer para evitar o casório.

Seria mesmo tudo uma pasmaceira no filme do norte-americano Alexander Payne, não fossem as tais Confissões de Schmidt (About Schmidt, 2002) vividas pelo genial Jack Nicholson.

Um dia, sentado à frente da televisão, Schmidt assiste a um apelo da organização Childreach (que existe na vida real): "por 22 dólares mensais, você pode sustentar um órfão da Tanzânia". Por que não? Ele decide participar e recebe, em troca, a chance de enviar um recado ao pequeno Ndugu, seu novo afilhado. Um dos melhores momentos da película, na hora de redigir a carta, de explicar o seu dia-a-dia, Schmidt faz um raivoso desabafo contra tudo e todos.

E a ficha cai. Schmidt percebe que desperdiçou a sua existência. A partir daí, começa um road-movie de redenção, sem a poesia de um A História Real (The straight story, de David Lynch, 1999), às vezes abusando de piadas manjadas, mas sempre com simpatia e inspiração. Tudo se baseia, obliquamente, no romance About Schmidt (1996), de Louis Begley - ele próprio um advogado nova-iorquino de renome, que debutou na literatura apenas em 1992, aos 57 anos. Aliás, pode-se esperar uma sequência do filme, uma vez que Begley escreveu uma continuação em 2000, Schmidt Delivered, já traduzida para o português.

Diretor esperto, responsável pelo mordaz A Eleição (Election, 1999), Payne suaviza o livro, elimina conflitos mais polêmicos, como questões religiosas e políticas - e transforma o personagem principal, originalmente mal-intencionado, num velhinho apenas ranzinza. Nesse contexto, os fãs costumeiros de Nicholson podem se surpreender. Longe do careteiro que deixou a sua marca em O Iluminado (The Shining, 1980) e As Bruxas de Eastwick (The Witches of Eastwick, 1987), o ator convence com uma atuação comedida, silenciosa, quase minimalista.

Nicholson levou o Globo de Ouro de Melhor Ator pelo papel. Concorre, pela oitava vez, ao Oscar de Melhor Ator. Somente pela cena final de As Confissões de Schmidt, um misto de alegria e melancolia, já mereceria levar o homenzinho dourado para casa.

Nota do Crítico
Bom
As Confissões de Schmidt
About Schmidt
As Confissões de Schmidt
About Schmidt

Ano: 2002

País: EUA

Classificação: LIVRE

Duração: 125 min

Direção: Alexander Payne

Roteiro: Louis Begley

Elenco: Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis, Dermot Mulroney, June Squibb, Howard Hesseman, Connie Ray, Harry Groener, Mark Venhuizen, Cheryl Hamada, Matt Winston

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