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É tema recorrente no cinema nacional a dura vida no sertão nordestino e a vontade dos sertanejos de buscarem melhores oportunidades.
O caminho das nuvens também explora o gênero, mas com um diferencial. A história da família migrante transforma-se em road movie, o que ajuda a relatar esse grave problema social de forma mais leve e atraente para o público.
O filme de Vicente Amorim tem uma produção competente, com bela fotografia, mas o cinema brasileiro já produziu histórias mais interessantes.
Baseado em fatos reais, O caminho das nuvens conta a história de um casal e seus cinco filhos pequenos que percorrem 3.200 km de bicicleta em busca de um sonho. Romão (Wagner Moura), um caminhoneiro desempregado, e sua mulher Rose (Cláudia Abreu), deixam o interior da Paraíba, e, ao longo de seis meses, atravessam cinco estados até o Rio de Janeiro. Romão submete toda a família às agruras da viagem pois carece de um serviço de mil real por mês. Na concepção dele, só assim poderá dar uma vida decente à sua família.
Na viagem, os sete enfrentam a fome e a sede, a falta de dinheiro, de condições de viajar, de coragem de continuar. Algumas cenas são apaixonantes, como o empenho de Rose e seu filho do meio em descolar alguns trocados cantando Como é grande meu amor por você, de Roberto Carlos - a quem o filme é dedicado. Algumas chegam a deixar o espectador com raiva da teimosia e arbitrariedade de Romão. Antonio (Ravi Lacerda), o filho do meio, insiste que a viagem é uma perda de tempo, e tem discussões com o pai que põem a prova o papel de chefe da família. Romão é mesmo um cabra teimoso.
Os viajantes conhecem pessoas, atravessam cidades, enfrentam situações. Passam por Juazeiro do Norte para pedir benção ao Padre Cícero, por Porto Seguro, onde arrumam um suposto emprego, por uma construção no Espírito Santo, onde ocorre uma importante mudança, e chegam finalmente ao Rio. Romão, Rose, os cinco filhos e mais quatro bicicletas correm em busca de um sonho e chegam ao destino. Mas o final feliz, como para todos os brasileiros que migram para o sonho da cidade grande, está longe de acontecer.
No caminho da música
A trilha do filme é quase toda de canções de Roberto Carlos. As canções do Rei tiveram uma participação especial em O caminho das nuvens, já que Rodney (Felipe Newton), o filho do meio, é fã de Roberto. As músicas estão em bares e paragens da estrada, e até ajudam a família na hora de arrumar alguns trocados.
Outro que veio da música, mas faz sua estréia no cinema sem cantar, é Sidney Magal. O cigano interpreta Panamá, um produtor charlatão que contrata os retirantes para um emprego mais charlatão ainda. Não dá pra esperar uma grande atuação, mas é engraçado vê-lo fazendo algo além de suas hilárias canções.