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Entrevista

<i>O jardineiro fiel</i>: Omelete entrevista Ralph Fiennes

<i>O jardineiro fiel</i>: Omelete entrevista Ralph Fiennes

13.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 05H00

O jardineiro fiel

The Constant gardener
EUA, 2005 - 129 min.
Drama/Suspense

Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Jeffrey Caine

Elenco: Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Danny Huston, Anthony LaPaglia, Pernilla August, Sidede Onyulo





Ralph Fiennes
© Gabriela Magnani


Ralph Fiennes e Fernando Meirelles
© Gabriela Magnani


O jardineiro fiel
© UIP


O jardineiro fiel
© UIP

Ator shakespeareano premiado com um Tony pela sua interpretação de Hamlet na Broadway. Duas vezes indicado ao Oscar (Ator principal - O paciente inglês, Ator coadjuvante - A lista de Schindler). Tem no currículo filmes dirigidos por Steven Spielberg, David Cronenberg, Robert Redford, Anthony Minghella e, agora, Fernando Meirelles. Filho mais velho de pai fotógrafo e mãe escritora e pintora, com irmãos nas mais diversas artes, da atuação à música. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, no quarto capítulo da série Harry Potter. Ralph Fiennes (pronuncia-se ráf fines) veio ao Brasil para promover O jardineiro fiel (2005). Na entrevista coletiva, ele falou de como foi trabalhar com o brasileiro, a forma como escolhe seus papéis e até mesmo do fraco Os vingadores, que ele estrelou ao lado de Uma Thurman.

Omelete - Dizem que foi você que escolheu o diretor para o filme. Isso é verdade?

Ralph Fiennes - Eu já tinha visto Cidade de Deus e na época nós tínhamos um diretor [Mike Newell] que havia abandonado o projeto. O produtor do filme comentou que Fernando estaria interessado e eu fiquei bastante empolgado, pois parecia certo que ele abraçaria o projeto.

A câmera de Fernando Meireles está sempre em movimento, do ponto de vista do ator, esse estilo de filmagem traz algum tipo de energia diferente ao set de filmagens?

Sim, eu acho impressionante seu movimento com a câmera, ela está sempre em movimento, em todas as cenas. Eu gosto muito do jeito que Fernando utiliza a câmera porque isso acaba adicionando mais intensidade e novos elementos à história. No seu processo de filmagem, podemos interpretar cenas de forma contínua, sem ter que parar para cenas de close. Ele nos deixou atuar de maneira bem livre.

O que te atrai no personagem que você interpreta?

Justin tem uma belíssima jornada. Ele começa como uma pessoa gentil e passiva, que não costuma se confrontar com nada. De repente, com a morte de sua esposa, a força ou até mesmo a determinação, se você preferir, começa a brotar de dentro dele. O que eu adoro é a transição por que passa esse homem. Ele não é fraco, simplesmente gentil, faz o seu trabalho e é apaixonado pelo seu jardim, que se transforma ao passar por essa odisséia.

No filme, seu personagem cultiva um amor especial pelo seu jardim. Você sabe como cuidar de plantas?

Meu pai era um grande jardineiro e eu cresci vendo ele cuidar das plantas lá de casa, que eram poucas, pois morávamos em Londres e não tínhamos muito espaço.

Como foi desenvolver o papel de um diplomata? Você teve contato com algum para poder usar como base?

Nós conhecemos alguns diplomatas em Nairobi e conheci outros que trabalhavam na embaixada no Quênia. É uma profissão entediante, porém interessante. Passei algum um tempo com um deles que pode até não concordar, mas usei um pouco da sua personalidade para compor Justin. Essa parte foi a mais interessante que aconteceu no início das filmagens.

Você acha que filmes que tratam de um assunto como este serão produzidos em números tão grandes quanto os que tratam do holocausto?

Eu recebi dois roteiros recentemente que tratam das questões africanas. Acredito que seja uma tendência, pois cada vez mais as pessoas têm contato com as histórias que ocorrem lá. Nesse ano inclusive, houve o filme Hotel Ruanda, que fala sobre o massacre entre tribos. Sim, eu acho que a tendência é que se aumente o número de filmes feitos com essa temática.

Nesse ano você está presente em dois filmes que estão sendo muito esperados pela crítica: O Jardineiro Fiel e The White Countess, inclusive os críticos americanos já cogitam a sua indicação como certa para o Oscar. Do que se trata esse último filme e como foi trabalhar com James Ivory?

A história de The White Countess é sobre o amor entre um diplomata americano com uma aristocrata russa. James Ivory é um diretor meticuloso, que se preocupa com os pequenos detalhes, ele passa bastante tempo trabalhando com os figurantes, e eu gosto muito da atenção que ele dá para os detalhes. Quanto ao Oscar, qualquer um que é indicado ou cogitado à indicação traz benefícios para seus filmes, mas não tem nada a ver com ser ou não, pois é como uma loteria (risos). Mas é claro que se fosse indicado, ficaria lisonjeado e teria Fernando ao meu lado.

Na questão da problemática social, você acha que pode fazer a diferença apenas com seus filmes ou precisa de algo mais?

Eu acho que qualquer um pode fazer a diferença, independentemente da sua área de atuação. Você pode fazer a diferença como jornalista, artistas podem fazer a diferença ao criarem suas obras. Até mesmo um ator, quando escolhe e faz um filme, pode criar algum tipo de questionamento. E é nisso que eu gosto de botar a minha energia.

Tem uma foto no press book em que você aparece segurando uma câmera. Por acaso pretende mudar de profissão?

Foi uma brincadeira que acabou se tornando parte do filme. Em uma das cenas, Fernando quer captar com a câmera o que eu estou olhando, enquanto caminho pelo mercado. Como não podia precisar, pedi a ele a chance de filmar essa parte por onde o meu olhar passa. Nós tentamos e deu certo, então Fernando resolveu colocar no filme e ainda tem o meu nome nos créditos, como assistente de câmera. Mas eu não acho que tenho futuro nessa profissão (risos).

Como foi trabalhar com Fernando Meireles?

Eu acho que nunca trabalhei com um diretor tão generoso e calmo. Ele tem um espírito generoso que me encantou muito. Ele é bastante flexível no seu modo de trabalhar. Ele nos encorajava a improvisar e eu adorei.

Você é um ator bastante talentoso que tem muita técnica. Você prefere atuar no cinema ou no teatro?

O teatro é um pouco arriscado e alguns atores preferem não correr esse risco. Eu adoro o público e não tenho o menor receio de atuar em peças. Trabalhar em filmes é muito bom, porém tem muita pressão, você deve estar preparado para agir nesse curto espaço de tempo, para desenvolver emoções ou interagir com outro ator. Mas eu acho que nos dois, apesar de diferentes, pode-se perceber a essência do ator. Através dos olhos você pode ver a alma da pessoa e pode se perceber isso no cinema. No teatro, é possível perceber a energia do ator. Eu gosto dos dois.

Você é um ator bastante respeitado e também muito famoso. Como você consegue equilibrar essas duas características ao escolher seus papéis?

Eu tento seguir o meu instinto em relação ao que devo fazer. Na hora de escolher um projeto, faço aquilo que gosto. Eu não sei como posso dizer o que me faz escolher algo ou não. É mais por instinto.

Você gostaria de dirigir um filme algum dia?

Sim, eu gostaria de dirigir e com o passar dos anos eu fico mais interessado nesse ramo.

Em Vingadores seu papel foi cômico. Você gostaria de fazer novamente esse tipo de filme, um misto de aventura e comédia?

Sim, eu gostaria. Mas eu tenho que dizer que não me sinto tão seguro. A reação foi tão negativa que fiquei ressentido. Mas eu gosto do personagem, desse tipo de humor, desse charme, dessa violência irreal, é tão fantasiosa. Eu gosto da série de TV, um pouco de loucura com bobeira, me faz rir.

Você faz filmes que te obrigam a viajar bastante. Você gosta de viajar? E quando viaja curte o local?

Eu adoro viajar. Eu gosto de sair do local das filmagens e conhecer um pouco do lugar e das pessoas, ver coisas diferentes. É muito bacana você ir a certos lugares e poder entrar num bar e puxar assunto com um estranho sem ele imaginar quem você é. Essa troca é a base da humanidade.

Então podemos esperar um Fiennes passeando pelo Rio?

Dessa vez não, pois a agenda está lotada. Mas com certeza voltarei para conhecer este país que é famoso por sua simpatia. As pessoas aqui são muito acolhedoras.

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