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Rei Arthur | Crítica

<i>Rei Arthur</i>

16.09.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H16

Rei Arthur
King Arthur

EUA / Irlanda, 2004
Drama/Guerra - 126 min

Direção: Antoine Fuqua
Roteiro: David Franzoni

Elenco: Clive Owen, Ioan Gruffudd, Mads Mikkelsen, Joel Edgerton, Hugh Dancy, Ray Winstone, Ray Stevenson, Keira Knightley, Stephen Dillane, Stellan Skarsgård, Til Schweiger, Sean Gilder, Pat Kinevane, Ivano Marescotti, Ken Stott

Épicos cinematográficos normalmente seguem fórmulas que têm o intuito de extrair o máximo de emoção da audiência. Câmera lenta acompanhando a ação, música que sobe, discursos inflamados e gritos guturais estão entre os ingredientes do gênero. É assim desde que Hollywood é Hollywood.

É quase impossível não se emocionar com o canto do hobbit Pippin enquanto Faramir cavalga para a morte, com o sacrifício de William Wallace em nome da liberdade, com a "Cavalgada das Valquírias" sobre as praias do Vietnã, ou com o ataque das tropas de Lawrence da Arábia à cidade costeira de Agraba. Atos de heroísmo em nome de um bem maior, lutas que transcendem as telas e entram para o imaginário cinematográfico.

A diferença entre um bom filme do gênero e um exemplar pífio desse tipo de produção está nos detalhes, no desenvolvimento dos personagens, na história e, enfim, na paixão do diretor pelo tema. São exatamente esses elementos que comprometem Rei Arthur (King Arthur, 2004), a nova versão da história do regente bretão, agora dirigida por Antoine Fuqua (Lágrimas do Sol). Não espere a competência demonstrada pelo diretor em Dia de treinamento. Aqui, ele é um mero par de braços para o produtor Jerry Bruckheimer.

Verdadeiro Midas da indústria, Bruckheimer produz sucessos avassaladores no cinema e na TV. Em seu currículo estão filmes como Top Gun - Ases indomáveis, Um tira da pesada, Bad Boys e Piratas do Caribe. Na telinha, é dono de três das mais lucrativas telesséries da atualidade: a franquia C.S.I., Without a Trace e Cold case. Porém, a decisão de tornar Rei Arthur um filme "light", moldado nos padrões do famigerado PG-13 (a censura 13 anos dos Estados Unidos), resultou num filme sem personalidade. Difícil falar de ardentes triângulos amorosos sem sexo ou mostrar violentas batalhas sem sangue. Mas assim funciona o mercado: censura mais alta, menos lucros. Claro que no caso de Rei Arthur, fracasso de crítica e público, garanto que o produtor está pensando que as coisas poderiam ter dado certo se a ousadia tivesse sido maior.

A aventura era promissora. Desde o início, o estúdio dizia que a trama mostraria a "verdadeira história que inspirou a lenda". Balela, claro, afinal, não existem dois historiadores sérios que concordem em todos os pontos sobre a existência - ou não - do lendário regente bretão. Mesmo assim, uma balela interessante, que já rendeu uma ótima saga literária (As Crônicas de Arthur, de Bernard Cornwell) e poderia explorar a política e os conflitos históricos da época. Infelizmente, Rei Arthur sequer arranha tal complexa situação, sintetizando esse lado da trama na figura de um emissário papal (Ivano Marescotti).

A história começa contando como garotos nativos pagãos da Britânia são capturados pelo exército romano para lutarem pelo Papa. Lancelot (Ioan Gruffudd), Tristan (Mads Mikkelsen), Gawain (Joel Edgerton), Galahad (Hugh Dancy), Bors (Ray Winstone) e Dagonet (Ray Stevenson) são alguns desses jovens. Agora crescidos, tornaram-se guerreiros lendários, liderados por Arthurius - ou Arthur (Clive Owen) - um comandante romano cristão cujo dever é proteger uma seção da Muralha de Adriano (obra de engenharia que delimitava o final do Império de Roma no norte da Inglaterra). O muro mantém afastados os Pictos, tribo bárbara local liderada por Merlin (Stephen Dillane) - clássico personagem que ficou totalmente desinteressante nessa versão.

Como 15 anos se passaram desde o recrutamento, acabou o direito de Roma sobre o grupo de Arthur, que agora pode conquistar sua tão sonhada liberdade. No entanto, às vésperas da libertação surge uma última missão - talvez a mais perigosa - que consiste em resgatar uma família romana do outro lado da muralha (o que eles estão fazendo lá, totalmente desprotegidos já que eram são importantes, não é explicado). Sem opção, os guerreiros partem, apenas para encontrar uma ameaça ainda maior que a dos pictos. Um incrível exército de bárbaros saxões aportou no extremo norte e avança para conquistar e destruir toda a Britânia. Resta a Arthur e seu pequeno grupo conter os invasores e seu chefe, Cerdic (Stellan Skarsgård). No processo, liberam a bela e misteriosa Guinevere (Keira Knightley) de seu cativeiro e passam a contar com a ajuda da hábil guerreira, que desempenhará papel fundamental na história.

As atuações não comprometem o filme. Todos os artistas - inclusive os pouco conhecidos - fazem um trabalho bom. Mas nem todas as lendas de Hollywood reunidas conseguiriam salvar o roteirinho raso do fracasso. É a grandiosa história do Rei Arthur que está nas telas, mas o sentimento é que o filme não passa de uma produção genérica, com um ou outro momento inspirado. De fato, a única cena verdadeiramente interessante é uma luta sobre um lago congelado. Plasticamente incrível, a seqüência salva o longa do esquecimento total.

Diz a lenda que o Rei Arthur voltará do túmulo quando o seu povo mais precisar dele. Depois dessa afronta norte-americana ao maior dos mitos da Grã-Bretanha, talvez seja hora dele se reerguer e se tornar um diretor de cinema, só para esculhambar Abraham Lincoln, George Washington, ou qualquer outro grande ícone da Terra do Tio Sam. Talvez assim eles aprendam a respeitar os mitos e o passado alheio.

Nota do Crítico
Regular
Rei Arthur
King Arthur
Rei Arthur
King Arthur

Ano: 2004

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 0 min

Direção: Antoine Fuqua

Roteiro: David Franzoni

Elenco: Clive Owen, Ioan Gruffudd, Keira Knightley, Mads Mikkelsen, Joel Edgerton, Hugh Dancy, Ray Winstone, Stephen Dillane, Ray Stevenson, Til Schweiger, Stellan Skarsgård, Sean Gilder, Ken Stott, Charlie Creed-Miles, David Murray, Ned Dennehy, Phelim Drew, Des Braiden, Bosco Hogan, David Wilmot, Lochlainn O'Mearain

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