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Zatoichi é um personagem lendário no Japão. Já foram feitos 26 filmes e uma série para TV sobre o mítico guerreiro cego que vagava pelo Japão medieval ajudando os trabalhadores e outros menos afortunados contra criminosos e senhores feudais. Nessa versão do diretor Takeshi Kitano, Zatoichi está louro e usa uma bengala que esconde uma espada afiadíssima. O filme ganhou os prêmios de Melhor Direção no Festival de Veneza e de Público no Festival de Toronto em 2003.
A história começa no Japão, século 19. Zatoichi é um andarilho cego que sobrevive como massagista e jogador de cartas, mas por trás de sua aparência humilde esconde-se um espadachim de raro talento. Numa de suas andanças, ele chega a uma aldeia dominada pelo sanguinário bandoleiro Ginzo, que, com a ajuda do samurai Hattori, seu capanga, elimina quem se opõe a seus objetivos. O embate entre Zatoichi e a quadrilha de Ginzo torna-se inevitável quando o cego conhece duas gueixas que desejam vingar a morte de seus pais. O filme é baseado no conto de Kan Shimozawa sobre uma das melhores aventuras do samurai, em que ele não está atrás de nobreza, apenas luta por necessidade e forças da circunstância.
Na interpretação de Kitano, Zatoichi ganha longos silêncios meditativos, para logo atacar com ferocidade seus inimigos. O efeito cumulativo de violência é paradoxalmente usado para nos lembrar que toda existência é preciosa. Estes elementos já estavam presentes em seu outro filme, Brother (2000). Aliado à sua interpretação, efeitos de computação gráfica são criados para estilizar as lutas. O samurai errante mata seus oponentes com imensa velocidade e eficiência. O sangue explode na tela com esguichos avermelhados. É tudo artificial e belo ao mesmo tempo. Parece que estamos num imenso videogame. A matança é coreografada de forma brutal e poética, transformando a produção em pura arte.
A estrutura narrativa do filme é perfeita. Tem aventura, ação, comédia e musical na medida certa. Kitano constrói cenas de fazendeiros preparando a terra e trabalhadores construindo uma casa, embalados pela música de Keiichi Suzuki. Na trilha sonora há violinos, órgãos e sintetizadores que criam uma fusão da música moderna e clássica japonesa. Essa sincronia do ambiente com o visual espelha harmoniosamente temas como inclusão, tolerância e renascimento. Todo esse aparato culmina numa seqüência de sapateado com quase todo o elenco reafirmando o espírito humanista do filme.
Como já tinha feito em seus outros trabalhos, Kitano justapõe comédia com violência e o burlesco com comentário social. Pela primeira vez ele mistura elementos tão díspares com tamanha competência. Uma verdadeira obra-prima.
Ano: 2003
País: Japão
Classificação: LIVRE
Duração: 116 min
Direção: Takeshi Kitano
Roteiro: Takeshi Kitano
Elenco: Takeshi Kitano