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Leonera

Filme com Rodrigo Santoro foi o escolhido da Argentina para tentar vaga no Oscar 2009

02.10.2008, às 00H30.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H40
Em uma das cenas mais tocantes de Do Outro Lado da Lei

Leonera

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(2002), a polícia de Buenos Aires comemora o Ano-Novo com muitos tiros para o alto, mesmo sabendo que o estoque de munição é escasso no dia-a-dia. Em Leonera (2008), na mesma época do ano, vemos subir os fogos de artifício, mas eles estão muito além do muro do presídio.

Essa melancolia, também presente em outro filme do diretor argentino Pablo Trapero já exibido no Brasil, Família Rodante, é um sentimento portenho acima de tudo. Tem a ver com o tango: encenar um espetáculo (os fogos, as festas, o drama da dança) para dar conta de um sofrido estado de espírito. Nessa linha quem-canta-seus-males-espanta, a música infantil que abre Leonera faz todo o sentido. É um filme de gosto agridoce que celebra a vida, ainda que conte uma história de morte.

Morte num sentido literal e também figurativo. Julia (Martina Gusman) está sendo presa com a acusação de matar o namorado em uma situação incerta, que também envolve o suposto amante (Rodrigo Santoro) do namorado. A perspectiva, se condenada, é que fique uns oito anos encarcerada no presídio feminino local - a morte simbólica. Acontece que Julia está grávida, então vai parar numa ala que mais parece uma creche. Ali há alegria e melancolia em tudo - a começar pelas paredes cinzentas de concreto, coloridas com os rabiscos das crianças.

"Leonera", em espanhol, é o lugar onde se mantêm os leões. No caso, as leoas. Trapero mais uma vez despudoriza os corpos, atrás de extrair significados, e é uma imagem forte ver o barrigão de Julia no chuveiro do presídio. Não é o caso, no entanto, de um cineasta que se encanta com o próprio talento. Quando arruma uma imagem que transborda simbolismo - como o filho que brinca se balançando na grade da cela - Trapero ainda assim mantém o plano com uma duração econômica. Não corta rápido demais a ponto de perdermos o significado, e não se alonga a ponto de explorar a imagem em "proveito próprio".

Essa humildade, podemos chamar assim, com que Pablo Trapero conta histórias acessíveis, com narrativas clássicas, mas forradas de signos, é o que lhe tem rendido reconhecimento. Não por acaso, a Videofilmes de Walter Salles é uma das produtoras de Leonera, que foi exibido em Cannes 2008 e pontua uma trajetória iniciada com o prêmio da crítica no Festival de Veneza em 1999, com Mundo Grúa. Os filmes de Trapero são do mundo, falam de temas universais - e não deixam de ter coração portenho.

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