Parte do sucesso do game Max Payne se deve à apropriação de dois clichês dos filmes de ação dos anos 2000, o tiroteio em câmera lenta e em bullet time. Nesse sentido, a adaptação ao cinema produzida pela 20th Century Fox é fidelíssima. Max Payne tem tanta câmera lenta que, em tempo real, o filme ficaria com umas 5 horas de duração.
Pra ser justo, muita coisa no roteiro de Beau Thorne também permanece sintonizada com o jogo, desde nomes de personagens e a premissa em si até referências à mitologia viking e coincidência de cenas. Tanto o jogo quanto o filme, por exemplo, abrem num banheiro de metrô, já com a primeira troca de tiros (e a primeira câmera lenta).
O ex-policial do departamento de homicídios Max Payne (Mark Wahlberg) está seguindo as poucas pistas que ainda sobram, três anos depois, do assassinato de sua esposa. O mundo preto-e-branco do lado de fora, quase uma Sin City, mas sem a afetação do alto contraste, simboliza o estado de espírito de Max. Ele só pensa em achar o assassino da mulher, em nada mais.
Como no jogo, essa busca desembocará numa conspiração que envolve uma droga sintética. Somos apresentados a meia dúzia de coadjuvantes até a metade do filme, tudo parece cada vez mais intrincado, mas não se preocupe... Como a personagem de Mila Kunis diz a certa altura, "quer dizer que tudo se resume a isso, uma droga"?
Quem viu os trailers de Max Payne talvez tenha a impressão de que estamos diante de um novo Constantine. Não chega a tanto - mesmo porque Francis Lawrence é muito mais diretor do que o John Moore que assina Max Payne - mas o fato é que as alucinações da droga conseguem oferecer um mínimo de novidade a este filme atolado na clicheria dos policiais de ação.
O roteiro é um queijo suíço, a parceria de Wahlberg com a mirrada Mila não faz o menor sentido e o espectador atento vai sacar quem é o vilão com 20 minutos de filme (o espectador sonolento deve perceber a meia hora do final, pelo menos). Mesmo assim, é muito divertido ver como em câmera lenta a mira dos capangas vilões é ainda pior. Porque Max Payne não se resume à trama das drogas. Resume-se à pirotecnia.
Em meio aos efeitos, Moore encontra sacadas visuais que vão do sublime (a neve em cima da pistola) ao catártico (as faíscas na saída do rio). Pena que, como narrativa, Max Payne seja tão precário. Nos videogames dá pra pular a parte da historinha, no cinema não.