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O Cheiro do Ralo

Selton Mello vive anti-herói trash em adaptação da obra de Lourenço Mutarelli

22.03.2007, às 14H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 19H00

A parceria entre o consagrado quadrinhista brasileiro Lourenço Mutarelli e o publicitário e cineasta Heitor Dhalia começou com o elogiado Nina. No filme de 2004, o escritor e desenhista cuidou das viscerais passagens animadas. Agora, no longa O cheiro do ralo (2006), atinge maior expressão, já que adapta para as telonas o primeiro romance de Mutarelli, que - veja só! - aproveita para debutar também como ator.

O roteiro adaptado é do próprio Dhalia e Marçal Aquino (Crime delicado, O invasor), sujeito que dispensa apresentações. A dupla já trabalhou junta em Nina e retoma aqui a ótima colaboração, ao transportar a obra sem perder um grama sequer de sua deliciosa ironia.

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Na trama, Lourenço (Selton Mello), um comprador de objetos usados, vive enfurnado em um galpão, protegido dos fracassados do mundo por uma secretária (Martha Meola) e um segurança (o próprio Mutarelli, divertidíssimo e envelopado em um estiloso terno vinho). Os dois cuidam de filtrar os desesperados que podem entrar na sala do chefe e oferecer seus tesouros e tralhas a ele.

Lourenço começa o filme quase normal. É noivo, come estrogonofe com batatinha ao lado da futura esposa, dirige uma Veraneio e leva a vida de forma comum. Porém, conforme sobe o cheiro desagradável que vem do ralo do banheiro de seu caótico escritório, cresce também a sensação de poder dele, de domínio sobre aqueles desgraçados que ele "coisifica", catalogando-os em função de seus objetos. Começam também as obsessões... um olho de vidro, uma bunda continental... na mente de Lourenço, tudo está conectado.

Dhalia leva com competência a obra marginal de Mutarelli às telas, enriquecendo a narrativa com pequenas pistas visuais sobre a questionável personalidade do personagem. Direção de arte, fotografia, figurino, tudo espelha o universo do comprador de velharias, que dá vida ao ambiente disparando engraçadíssimas frases de efeito com a mesma facilidade que respira e se afunda no ar fedido do banheirinho.

Mas nem todo o talento cinematográfico do planeta teria êxito em levar à tela essa história, que depende quase que exclusivamente do personagem principal, se não houvesse um protagonista perfeito liderando o elenco. Selton Mello abraça a cria de Mutarelli e a arranca das páginas do livro com cínica perfeição.

A voz rouca do ator e sua atitude blasé dão ao anti-herói trash sua carne e osso, mas é a genial desconfiança de Mutarelli sobre a sociedade a responsável pela sua alma deliciosamente perturbada.

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