Nosferatu |
Lon Chaney como o Wolfman |
A noiva de Frankenstein, com Boris Karloff |
Bela Lugosi como Drácula |
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A década de vinte consagrou adaptações de clássicos como O corcunda de Notre-Dame, Dr. Jekyll e Mr.Hyde, O cão dos Baskervilles. Foram anos que dividiram o gênero em duas vertentes: a americana e a européia. Nos Estados Unidos, o horror teve mais a função de entretenimento, enquanto que, na Europa, sua sutileza transpirava mensagens mais complexas.
Até Griffith fez filmes de horror, como One exciting night, 1922, no qual temos a exploração de uma casa mal-assombrada. Em Jekyll e Hyde de 1920, produzido por Zukor (mais tarde dono da FOX), podemos ver mais uma vez o tema da psicanálise na investigação da dupla personalidade. O Dr. Henry Jekyll separa o bem e o mal em sua personalidade, com um misterioso experimento químico, criando assim um alter ego monstruoso. Em 1921, houve o lançamento de Nosferatu, de Murnau, o primeiro dos grandes filmes de vampiro.
SANGUE ERÓTICO
Sendo uma adaptação não-oficial do livro Drácula, de Bram Stoker, Nosferatu causou enorme celeuma ao ser lançado nos cinemas. Após processo movido pela família de Stoker, um juiz inglês ordenou que todas as cópias do filme fossem destruídas. Felizmente, a maior parte das alemãs sobreviveu, deixando o legado que prova sua reputação como um dos maiores feitos cinematográficos da história.
Toda a sexualidade reprimida do início do século passado está presente em Nosferatu. O desejo do protagonista por sangue beira a tensão erótica. O frenesi que o vampiro alcança ao morder sua vítima pode ser entendido como o ápice da excitação. Como ele se alimenta, com igual apetite, tanto de homens quanto de mulheres, temos ainda um perfil andrógino e de sexualidade indefinida. Por sua vez, confirmando o caráter sexual do ato, quem é mordido também passa por uma catarse libidinosa. Sem oferecer resistência e de forma masoquista, deleita-se com a violência.
O conceito de vampiro, então, é sensual. Sua ambientação noturna impregna-se caráter erótico. Muitos chegaram ao exagero de dizer que Max Schreck, com sua pesada maquiagem, calva, levantando-se de seu caixão na Transilvânia representaria em si uma ereção.
HORROR PARA TODA A FAMÍLIA
Longe do pesado terror europeu, no novo continente, a escola americana de entretenimento, representada por películas com o ator Lon Chaney (o homem de mil faces) como O fantasma da ópera (1924) e O corcunda de Notre-Dame (1923), The magician, (1926) e London after midnight (1927), vivia anos de glória. Pavimentava-se, assim, o caminho para o estúdio Universal. Horror mais leve, despretensioso e divertido, esta variedade de filmes era acessível ao público médio e à tradicional família americana.
Marcaram as décadas de trinta e quarenta obras como Bride of Frankestein, Frankestein meets the wolf man, The mummy (recentemente refilmado e estrondoso sucesso de bilheteria), I walked with a zombie, (1943) etc. que não lidavam com temas polêmicos ou ousados, mas sim repetiam uma fórmula segura de sucesso. Em suas locações, surgiram grandes nomes como Boris Karloff, que fez o imortal e estereotipado Monstro de Frankestein, sob a direção de James Whale, e Bela Lugosi, o eterno Drácula da versão clássica (a primeira oficial) do diretor Todd Browning, outro mestre do macabro.
Ainda no tema vampiros, o excelente Vampyr (1931), de Carl Theodore Dreyer, delineia a história do jovem David Gray que se envolve com duas irmãs: Leone, que aparenta morrer de alguma doença misteriosa, e Gisele, supostamente prisioneira. Estranhos acontecimentos envolvem o trio, quando Gray dá-se conta que as moças estão sob o domínio de alguma estranha força. O filme tem um contraste exótico presente nos seus efeitos de chiaroscuro, bem como faz menção a sonhos e ao inconsciente. David Gray, em certa cena, chega a sonhar com o seu próprio funeral, e nós espectadores podemos ver o mundo a partir da perspectiva enevoada de um caixão.
Muitas outras seqüências da película seguem a mesma linha abstrata e irregular. Aparentemente desconexas, há diversas cenas que quebram o fio narrativo, como um sabá de bruxas, a visão curiosa de um homem de uma perna só e sua sombra, etc. Mais uma vez, estão aí temas psicanalíticos em voga na época: sonhos e desejos reprimidos.
ABERRAÇÕES
Em 1932, Todd Browning, o genial mestre do horror por trás de várias parcerias com o enigmático Lon Chaney e o Drácula de Lugosi, fez outro filme espetacular: Freaks. Trata-se de uma terrível colisão da normalidade com a anormalidade.
No circo, Baclanova, uma artista de trapézio, casa-se com um anão, interessada apenas na riqueza do noivo. Com a ajuda do amante, o levantador de pesos Vitor, ela pretende envenená-lo.
O anão inclui-se na seleção de anomalias do circo: a mulher barbada, os gêmeos siameses, o hidrocéfalo, o homem cujos quatro membros foram amputados e que, usa a boca para apanhar o que deseja e a mulher com o crânio subdesenvolvido. Enfim, os horrores do picadeiro. Quando descobrem o plano de Baclanova, o grupo mutila-a com facas, numa cena dantesca. Com muito vagar transformam-na em outra aberração.
O filme causou polêmica quando lançado (Browning usou aberrações, ou pessoas realmente deformadas) e foi proibido na Inglaterra por trinta anos. Apresenta uma visão humanista do mundo, tendo como tema central o tradicional julgar pelas aparências. As aberrações são encaradas como vítimas inocentes de uma sociedade que não as tolera e as segrega. Nossa repulsa inicial por elas torna-se lentamente compreensão.
TERROR ATÔMICO
Na década de cinqüenta, após o fim da Segunda Guerra Mundial, floresce um horror próprio da Guerra Fria, levando o gótico ao esquecimento. Houve, porém, ao longo dos anos, retornos pontuais deste gênero, mas jamais um ressurgimento completo dessa era de ouro do cinema de horror. O filme baseado no livro da escritora Anne Rice, Entrevista com vampiro foi um destes raros momentos.
Com o emprego das bombas atômicas em seres humanos, impôs-se um novo terror. Os monstros agora eram mutações causadas pela radiação. Os vampiros, gólems, sonâmbulos, castelos mal-assombrados e demônios do passado foram substituídos pelo medo do apocalipse nuclear, da ciência sem ética e da tecnologia descontrolada. Porém, a essência última do terror continuava a mesma. Como explicou o Dreyer, diretor de Vampyr, quero criar um pesadelo acordado, e mostrar que o horrível não esta ao redor de nós, mas em nossa própria mente inconsciente. Quer nosso medo provenha de cientistas loucos, vampiros, lobisomens e monstros, ele não passa do temor de nós mesmos e da imprevisibilidade da mente humana.
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