Oceanos (Oceans) é a antítese dos filmes que se apoiam no texto. Um completo oposto ao que fazem cineastas como Kevin Smith e Quentin Tarantino ao usar as línguas afiadas de seus personagens para contar uma história. Com o perdão da expressão, Jacques Perrin e Jacques Cluzaud literalmente mergulharam no assunto do seu novo filme e mostram imagens em altíssima qualidade da fauna marinha como nunca se viu antes.
Estão lá o balé dos golfinhos (dezenas e dezenas de golfinhos!), as formas geométricas com que cardumes de atuns se agrupam na hora de tentar fugir de seus predadores, os mergulhos precisos de aves que furam a água como tiros, os tubarões que chegam a pular da água na hora de abocanhar focas e até orcas que nadam até a orla atrás do seu almoço. Ainda falando sobre o predadorismo, pode-se ver também momentos incríveis em que peixes usam o mimetismo para se esconder de suas presas até a hora do bote certeiro.
Oceanos
Oceanos
Oceanos
Mas é claro que não tem só isso. Os câmeras-mergulhadores captaram lindas imagens de águas-vivas, arraias e tantos outros animais que a maioria de nós nem sabia que existiam, das mais variadas formas, tamanhos e cores. O filme mostra como a natureza equilibrou os seres vivos e criou as cadeias alimentares, dando espaço também para as relações simbióticas entre eles - e como é legal ver enormes predadores sendo limpados por animais tão pequenos e também tão importantes.
Oceanos é exibido quase que integralmente em câmera lenta, o que o deixa ainda mais bonito. E a forma como foi montado, aliado à trilha sonora precisa de Bruno Coulais (Coraline e o Mundo Secreto) engrandece ainda mais o trabalho de roteiro de Perrin e Cluzaud.
E daí tem os humanos - sempre eles! Neste ponto do filme, os cineastas deixam de lado as belas imagens para mostrar o predadorismo cruel, que coloca motivos financeiros acima de qualquer outra coisa. Em uma das cenas mais duras, vemos pescadores despejando um tubarão de volta para o mar depois de arrancar suas barbatanas, nadadeiras e rabo. E o animal, um dos mais temidos dos oceanos, vai afundando e sangrando enquanto ainda tenta nadar, sem sucesso. A cena é chocante, mas contrasta demais com o restante do filme, fazendo assim menos efeito do que deveria.
E sobra tempo ainda para mostrar a sujeira produzida e eliminada nos mares, em imagens de satélite que mostram o oceano sendo infectado por manchas negras. É a terapia de choque para mostrar o que o homem vem causando e alertar para os animais que já estão em extinção e o que pode acontecer em breve, quando a exploração dos pólos poderá levar à extinção de ainda mais espécies.
Dá para entender a ideia dos franceses e da Disney Nature ao colocar essa moral da história, a lição do He-Man ali no fim. Mas da forma como foi feita, parece que a ideia surgiu já no fim do projeto, talvez até imposta, e costurada ali. Ao trocar as imagens pelo texto, o filme abdica do poder das imagens da natureza e, por um momento, deixa de ser perfeito, passando a ser humano.
Ano: 2009
País: França, Espanha
Classificação: LIVRE
Duração: 86 min
Direção: Jacques Perrin, Jacques Cluzaud
Roteiro: Christophe Cheysson, Jacques Cluzaud, Laurent Debas, Stéphane Durand, Laurent Gaudé, Jacques Perrin, François Sarano
Elenco: Pierce Brosnan, Jacques Perrin, Rie Miyazawa, Aldo Baglio, Matthias Brandt, Lancelot Perrin, Manolo Garcia