Acompanho a carreira de Christopher Nolan desde que ele surgiu, no ótimo Amnésia (Memento, 2008). Pessoalmente, já tinha me encontrado com ele durante a divulgação de O Grande Truque (The Prestige, 2006), e achei ele um cara apagado, meio tímido, de fala baixa. Quando nos encontramos dessa vez, no set de filmagens, a timidez me pareceu mais sob controle e a empolgação muito maior. Provavelmente porque ele sabia que estava construindo uma obra-prima. Leia abaixo os melhores momentos da conversa:
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Essa é a primeira vez que você trabalha em uma seqüência. Como você está lidando com isso?
É uma bênção e problema ao mesmo tempo. Revisitar um lugar que você já conhece é algo empolgante, pois você não tem mais que começar a contar uma história do zero, o que já é uma grande vantagem. Mas o que mais me agrada é o desafio de fazer um filme melhor do que o anterior. Se não fosse isso, nem estaria aqui.
Você ouviu aos apelos dos fãs, sobre o que eles gostariam de ver?
Na verdade, eu tentei me isolar de tudo isso. Digo, claro que nós ouvimos os fãs, e a resposta foi fenomenal, com todos muito empolgados quando saiu o primeiro filme, e isso nos serve de inspiração. Mas quando o assunto é imaginar o que fazer agora e em que direção levar o personagem, eu tentei me distanciar o máximo possível.
E o que a nova história traz de novo?
Nós não temos mais que contar sua origem. O personagem agora já está mais maduro. Nós queríamos começar já mostrando como ele está completo, já estabelecido e ver as conseqüências que isso trariam para os que estão à sua volta. E enquanto ele vai sendo testado no decorrer do filme, como ele vai lidando.
Agora você tem uma nova atriz no papel da Rachel Dawes. Você vai explicar isso para o público?
Acho que o nosso público é esperto. Nós meio que reapresentamos a personagem, mais para situar o público quem ela é, mas de uma forma geral, acho que as pessoas estão acostumadas a ver esse tipo de mudanças.
Por que você se decidiu por uma nova Rachel?
Katie não ia poder e nós precisávamos da personagem para contar a nossa história. E para nossa sorte Maggie Gyllenhaal topou e é ótima.
E diferente...
Sim, claro! Ela traz uma maturidade ao papel. Ele tem uma enorme credibilidade, é charmosa. Nós adoramos ter trabalhado com Katie no primeiro filme, mas embora as duas sejam muito diferentes há uma continuidade no personagem. Claro que é uma interpretação diferente.
Heath Ledger já vai começar o filme como o Coringa, ou vocês vão mostrar seu processo de transformação?
Nós não vamos mostrar a origem do Coringa. Não queríamos perder tempo com isso de novo. Mas no começo da história, ele não é aquele vilão poderoso . Eu diria que, de certa forma, o filme mostra a ascensão do Coringa.
Fale um pouco sobre a escolha de Heath Ledger como o Coringa. Ele era o primeiro da sua lista?
Sim. Foi um desses raros momentos em que você sabe que é o cara certo por instinto. Nós já havíamos nos encontrado várias vezes nos últimos anos e eu sempre procurava algum papel em que pudesse encaixá-lo, mas nunca tinha dado certo. E o que aconteceu é que ele ouviu que nós íamos usar o Coringa neste filme e tanto a nossa idéia quanto a que ele tinha do personagem casavam. Nós nos encontramos antes até do roteiro ser escrito e discutimos algumas coisas sobre como o Coringa apareceria e se comportaria no universo de Batman Begins. Por tudo isso, nós demos sorte de tê-lo a bordo desde o início, e foi ótimo construirmos o personagem já com ele em mente.
E como vocês se armaram para evitar as comparações com o personagem Jack Nicholson?
Não estou tentando evitar comparações, exceto que ele é um ator muito forte que traz uma forma bastante singular de construir o personagem. É difícil listar o que ele fez de diferente. É um personagem mais novo, mais sombrio e que lembra muito aparições mais antigas do Coringa nos quadrinhos. Tudo isso de um jeito próprio. Claro que as comparações são inevitáveis, mas o nosso mundo é diferente daquele construído por Tim Burton. Toda a forma como vemos o personagem é diferente. É uma versão muito mais realista do personagem essa que nós temos de lidar.
É como se fosse uma evolução do personagem?
Na verdade, nós nunca comparamos dessa forma. Nossas discussões eram mais sobre o tom do filme e do nosso universo e como o Coringa se encaixava nisso tudo. E foi nisso que ele nos ajudou, trazendo o aspecto psicológico que o personagem teria. E é aterrorizador!
Você tem trabalhado há três filmes com os mesmo ator [Christian Bale]. É saudável essa repetição?
Muito! Existe uma ótima comunicação entre nós, Christian, Michael [Caine, que também esteve em Batman Begins e O Grande Truque] e eu.
Você acha que para o Christian, esse filme é a oportunidade de se soltar mais como ator e ir além, já que ele já criou o personagem no filme anterior e provou do que é capaz? E você acha que ele encontrou a forma de desenvolver o personagem mostrando que as conseqüências das suas ações não podem se ater apenas a vingança e justiça?
Sim, acho que existe o desafio de desenvolver o personagem. No primeiro filme, nós mostramos ele lidando com a tragédia da morte de seus pais. Agora, ele tem de mostrar que isso é passado. Não dá mais para mostrá-lo choramingando isso. Ele tem de ter uma presença estóica. Queríamos mostrar uma versão madura do personagem, já totalmente formado, e como ele reage com o surgimento de um Coringa e tudo o que está acontecendo ao seu redor, a opinião pública de Gotham e como tudo isso vai afetar a imagem que ele faz de si mesmo e a sua crença no que ele está fazendo. Nós tentamos testar tudo isso de várias formas interessantes.
Olhando a sua filmografia, sempre há algum tipo de perda, seja da memória, da mente... o que vai ser perdido por aqui?
Ah... tudo! (risos) O Batman é muito testado durante o filme. Esse é o motivo de tudo: aumentar os riscos. Acho que o fim de Batman Begins aponta para isso que vamos ver agora. Ali nós criamos o tipo de resposta para o crime de Gotham e um contragolpe da fraternidade criminal. Então os riscos são enormes para todos.
E há este sentimento de que os vilões são uma espécie de espelho do Batman, que é algo que vem dos quadrinhos...
Tem uma idéia, que acho que veio à tona no Batman - Ano Um, de que desde que o Batman chegou a Gotham mais e mais vilões e malucos se mudaram para lá, tornando Gotham no que ela é. Nós tentamos usar isso no fim de Batman Begins quando Gordon diz "você veste uma máscara e pula do alto dos prédios, o que você esperava que as pessoas fizessem?" Então, no início do filme nós estamos lidando com essas conseqüências. Este é o início do nosso filme.