Direto do Saturn Awards, o nosso correspondente em Los Angeles, Steve Weintraub, do site parceiro Collider, conseguiu mais de 20 minutos ao lado de Guillermo del Toro. O mexicano, solicito como sempre, falou - mais uma vez - sobre a saída de O Hobbit e quais dos seus 3 mil projetos ele está desenvolvendo. Ah, e com a câmera já desligada, ele contou que em breve será lançado o Blu-ray de Cronos, da Criterium Collection, com um documentário de 15 minutos feito na casa onde ele guarda toda a sua coleção.
Assista ao vídeo (sem legendas) abaixo ou leia a transcrição:
Guillermo del Toro
Olha só quem está aqui! Como está o senhor?
Guillermo del Toro: Estou bem, obrigado.
É um sentimento "agridoce" voltar para casa?
Não, é doce, doce. Porque eu estava com muita saudade de casa, então é ótimo voltar e vir ao Saturn.
Nós sabemos que quando você prepara um filme, você faz muitos e muitos desenhos e agora eles [os desenhos de O Hobbit] pertencem a outra pessoa, ou...?
Bem, acho que meu próprio caderno tem muitos desenhos. Quem sabe eu os use um dia, mas tenho que esperar o filme sair.
Eles vão usar todo o trabalho que você fez para O Hobbit?
Acho que vai depender de quem for dirigir. Claro que eu acho que eles deveriam se sentir livres para usar qualquer coisa que foi desenhada. Se eles gostam de alguma coisa ou se quiserem mudar alguma coisa, devem mudar. Peter, Fran, Phillipa e eu nos divertimos muito e estávamos numa ótima direção visual para o filme, então não espero uma mudança abrupta de repente, mas nunca se sabe. Acho que deve ser como em qualquer filme - deve ser uma escolha do diretor.
Já no voo para cá, teve quem dissesse para você, do mesmo jeito que estou dizendo agora, que estão tristes porque você não vai fazer o filme?
Sim. Esses dias eu estava saindo do aeroporto - onde era? Em Burbank. E um cara disse, "Eu queria ver o seu Hobbit!". Isso pareceu meio obsceno, mas eu disse "Eu também queria, cara".
Eu definitivamente preciso te perguntar: antes de O Hobbit, você tinha uns 18 projetos diferentes. E agora que você saiu de O Hobbit, estão falando que você poderia fazer Hellboy 3, estão falando de Nas Montanhas da Loucura, estão falando de Frankenstein, estão falando de Van Helsin, estão falando de tantas coisas. E você mencionou que vai dizer na Comic-Con. Você está pendendo para um projeto em especial, neste momento?
Sim. Por exemplo, existem coisas que eu realmente adoraria fazer sempre, sou como um disco quebrado. Adoraria fazer Nas Montanhas da Loucura, mas mesmo agora é muito difícil para os estúdios aceitarem fazer uma franquia de censura 18 anos, com um final difícil, sem uma história de amor, e que se passa em outra época. Mesmo que seja de um escritor como Lovecraft. que eu insisto que tem tantos leitores quanto qualquer best-seller, mas isso não pode ser quantificado porque as obras dele são de domínio público. Mas o fato de que elas foram reimpressas por tantas décadas e que cativaram a imaginação de tantos cineastas, mostra o poder que esse cara tem. Mas já que não poderei fazer Nas Montanhas da Loucura, eu reduzi para três o número de projetos que me interessam.
Estão falando muito que também vou começar a produzir e ajudar a tirar projetos do papel. Acho que o comunicado oficial pode acontecer na Comic-Con ou um pouco depois da Comic-Con. Não sei a data certa, mas vai ser por essa época.
E Frankenstein? Esse é um filme mais fácil de aprovar?
Seria. Vou apresentar os argumentos para a Universal, vou mostrar porque eles vão fazer o roteiro. Mas eu acho que quero começar a filmar em maio do ano que vem, então preciso de alguma coisa que esteja pronta para entrar em pré-produção imediatamente.
Mas se você conseguisse fazer Hellboy 3 agora, seria uma solução para toda essa questão?
O problema de Hellboy 3 é o mesmo, precisaríamos escrever o roteiro e os roteiros de Hellboy não são rápidos de escrever. Por alguma razão, eles acabam sendo muito complicados de escrever, não sei porque. Então se entrássemos em Hellboy, precisaria ser o próximo filme depois deste, ou algo assim. Ainda não sei.
Você conseguiu viver bem durante o estágio de pré-produção de O Hobbit?
A Nova Zelândia é o paraíso. Eu e minha família ficamos todos tristes de ter que ir embora, porque viver lá é fantástico.
Mas eles te pagaram bem para trabalhar lá?
Bem, eu diria que... Sim! Claro! Estou super feliz. Como alguém poderia reclamar de ganhar dinheiro fazendo filmes? No país de onde vim, México, você paga para fazer os filmes. Então, com certeza.
Quanto ao Hobbit, você acha que o filme vai seguir em frente com outro diretor sem que a situação a MGM se resolva? Deixe eu te perguntar isso: eles já estão pensando em outra pessoa?
Eu não estou mais qualificado para responder isso. Passei as últimas duas semanas terminando minha parte do roteiro. Vou continuar escrevendo com eles, mas vou continuar o processo de roteirizar daqui. Vamos continuar trocando os arquivos e tudo mais. Nas últimas semanas me concentrei em escrever minha parte, que eles precisam com urgência. Mas acho que não estou qualificado para isso nem deveria ser o porta-voz do projeto. Acho que não é a coisa certa a fazer.
Voltando a Frankenstein por um segundo, a recepção meio fria para O Lobisomem deixou a Universal meio relutante em usar monstros clássicos de novo nos filmes?
Não, acho que não. Para mim, Frankenstein é a jóia da coroa, ele e o Monstro da Lagoa Negra são os Santos Graais dos monstros da Universal. Isso para mim, se você for à casa que uso como refúgio e guardo minhas coisas, você verá que minha criatura favorita é Frankenstein. Tenho uma coleção de bustos e bonecos e um Frankenstein em tamanho real. Sou obcecado por ele. Acho que é o monstro mais lindo já criado.
Você mencionou que gostou do Frankenstein do Doug Jones. Vocês já estão pensando nisso?
Ah, sim. Estou pensando nisso, estou fazendo acontecer. Estamos fazendo testes, já fizemos todas as esculturas. Isso está completamente pronto: o corpo, o rosto, todas as partes, incluindo o parafuso. Vamos fazer um teste com Doug muito em breve.
Você falou dos três projetos que está considerando, mas fala com muita paixão sobre Frankenstein-
Mas o roteiro não está pronto, esse é o problema. E eu ainda tenho que pensar nisso, porque não é um roteiro fácil de fazer. Já tivemos muitas versões e eu gostaria muito de fazer algo novo, e acredito que estamos fazendo algo novo. E sem mudar nada - essa é a parte curiosa. Eu acho que nos manter àquilo que o livro propõe é justamente a novidade. Mas se eu disser o que é, vou estragar tudo.
Isso significa que os outros três projetos que você está discutindo já têm roteiros mais adiantados?
Sim. Se aquele filme que eu acho que vai acontecer, acontecer mesmo, é uma coisa que começou há 15 anos. É algo que eu queria fazer há 15 anos. Nós começamos, não conseguimos fazer, fizemos uma volta linda e gigantesca e agora ele voltou para mim.
Nós vamos saber o que é, quando for anunciado?
Sim, sim. Pode acreditar. Esses são projetos que trazem ótimas associações. Projetos que trazem a criação de um mundo, projetos grandes. Para mim, a alternativa era fazer um filme muito pequeno agora, aqueles que eu escrevo e que são muito loucos. Ou fazer um filme que tinha a criação de um mundo, para mergulhar nele muito rápido. Infelizmente para mim de novo, estou na página 25 de Saturn and the End of Days, que é o próximo filme doido que eu quero fazer. E não consigo passar da página 25. Isso acontece de vez em quando. Aconteceu com Labirinto do Fauno, fiquei parado na página 15 durante um ano e meio, e um dia me deu um estalo e foi isso.
Esse filme até que saiu muito bom.
Até que deu certo.
Você aprendeu alguma lição em O Hobbit que poderá levar para seus outros filmes?
Muitas, muitas. Aprendi muito escrevendo. Acho que Phillipa, Peter e Fran são incríveis, e o jeito que eles abordam o material é único e maravilhoso. Houve muitos questionamentos durante o processo de escrever o roteiro que eram completamente novos para mim. Eu passei três anos escrevendo o roteiro - e já escrevi uns 19 ou 20 roteiros -, e ainda estava aprendendo coisas novas. Fazer parte de uma equipe com aquelas três pessoas foi realmente um privilégio e foi muito divertido. Do ponto de vista do design, aprendi muito com John Hall e Allan Lee, coisas que eram novas para o meu mundo. E também ao trabalhar com a Weta Effects. A beleza é que eu nunca paro de aprender.
Você tem um contrato de desenvolvimento com a Universal. Seu próximo projeto será pela Universal?
Daqui a pouco a gente vai começar a brincar de adivinhação. Eu realmente não sei. Um deles é, é claro, e os outros dois não sei. E tem sido um ótimo processo ser muito cuidadoso em ver qual deles é da minha área de interesse. Uma coisa com a qual tomei muito cuidado foi ler roteiros pelo qual sinto muita paixão. Houve muitas coisas que me deixaram tentado, mas eu não queria fazer o primeiro filme que aparecesse depois do Hobbit. Eu não queria acordar no dia seguinte e dizer, "Meu Deus, o que eu fiz?". Em cada filme, faço uma pergunta, que não é se eu preciso do filme, que tem uma resposta muito fácil porque você precisa de todo filme que aparece para você, mas se o filme precisa de mim. Em outras palavras, se o filme não poderia ser feito sem você. Se o filme não seria feito exatamente do mesmo jeito. Se você pode fazer alguma coisa para que o filme seja único, então você aceita.
É por isso que todos nós estamos chorando por causa do Hobbit.
Bom, eu sou o primeiro a chorar. E isso não é eufemismo: foi literalmente a decisão mais difícil que já tive que tomar. E tenho 45 anos e já fiz muitas dietas, então falo sério quando digo que foi uma decisão difícil.
Eu só queria perguntar uma coisa: se a situação da MGM se resolvesse, se a Lionsgate acabasse fazendo a fusão com eles e se o acordo saísse nas próximas semanas ou nos próximos dois meses, existe a possibilidade de você voltar para o filme?
Eu não sei. Olha, falando sério, e digo isso da maneira mais sincera possível, até me magoa falar sobre isso. Minha esposa e minhas filhas moraram na Nova Zelândia durante um ano. Eu morei quase dois anos lá. Nós amamos o país, nós amamos o projeto, mas estamos vendendo as casas que compramos lá e estamos comprando uma casa aqui. Para mim, falar disso é realmente... Você está falando de uma ex-namorada logo no dia seguinte.
O filme da Morte vai acontecer, em algum momento?
Morte: O Alto Preço da Vida... Eu nunca pretendia dirigir esse filme. Don Murphy, Susan Manford e eu somos os porta-vozes da ideia, mas a única pessoa que pode dirigir esse filme é Neil Gaiman.
Você acha que esse filme vai acontecer?
Eu adoraria que acontecesse. Mais e mais eu descubro que Hollywood opera por caminhos muito misteriosos. E eu acho que em algum momento vamos fazer esse filme, mas ele ainda não se materializou.
Muita gente gosta de Splice e nós sabemos que foi uma venda difícil. Qual você acha que será o próximo projeto de Vincenzo [Natali]?
Eu não sei. Eu gosto muito do cara e acho que fomos abençoados pelo fato do filme sair com um grande lançamento. Acho que é um filme que abre novos terrenos. As reações que tivemos nas cenas de clímax - sem trocadilho - foram muito fortes, porque as pessoas nunca tinham chegado lá, literalmente. Eu assisti em cinemas em que as pessoas gritavam, riam, aplaudiam ou faziam uma cacofonia de barulhos. Foi realmente novo e estou muito feliz que nós contaminamos muitas, muitas mentes.
Você estará este ano na Comic-Con. Você vai apresentar alguma coisa, de que painéis você vai participar?
Nós com certeza vamos apresentar Don't Be Afraid of the Dark, que é a produção que fiz com Mark Johnson e Troy Nixey na direção. Estrelado por Katie Holmes e Guy Pearce. É um remake do telefilme que destruiu a minha infância inteiramente. Fiquei com tanto medo do filme original que ele ficou na minha cabeça para sempre. Então vamos apresentar isso. Tem um projeto que com certeza vamos anunciar, não vou dizer em qual painel, mas será em um painel grande. Estou escrevendo e produzindo e considerando dirigir. Não sei se imediatamente ou logo depois, mas é um projeto que está no meu coração. E acho que será uma grande revelação. Se tudo acontecer na hora certa, eu vou conversar sobre dirigir.
Em que dia será o painel que você mencionou?
Estarei lá nos dias 22, 23 e 24.
Então você vai para o evento todo.
Vou porque quero fazer compras como um louco. Sou como Sarah Jessica Parker numa loja de sapatos. Quando eu fui no Monster Palooza, fui com um bolo de dinheiro igual de um traficante de drogas.
Muitas pessoas sabem que você tem uma segunda casa, e você já mencionou isso para mim, para guardar todas as suas coisas.
A Man Cave.
Exatamente. A essa altura, ela ainda não está cheia?
Na verdade ela está tão cheia que estamos construindo uma nova ala. Começamos a construção amanhã. A nova ala se chama Sala da Chuva, porque é uma nova biblioteca que estamos construindo onde ficará chovendo o dia todo, vamos contruir uma estrutura de chuva falsa do lado de fora. E será noite o dia todo. Sabe, é onde eu vou para não ficar deprimido.
Imagino que você mesmo desenhou tudo isso.
Sim. E não apenas isso. Cada peça de memorabilia, cada brinquedo, cada livro, cada revista que eu coloco lá. Eu monto os móveis, eu penduro os quadros. Tenho mais de 450 obras de arte para as quais eu escolhi a moldura e coloquei lá. Ninguém limpa, eu que limpo. E eu gosto disso. Sempre que alguém vai lá, tenho um momento de dizer, "Quem mexeu naquele brinquedo?".
Existe algum objeto que você diria que é seu favorito?
Na casa, tenho meu primeiro brinquedo até meu último. Do primeiro ao último livro. Tenho tudo. Não fiquei gordo sem ser obcecado por colecionar coisas. Eu sou um acumulador. Tudo está lá, não consigo escolher. Você não fica gordo sendo exigente. Se você me der 50 donuts, eu vou comer os 50.
O que te motiva para atingir o sucesso?
Comida. Não, histórias. Contar uma boa história. Eu adoro, até hoje, contar uma boa história. Seja um filme ou até uma história para contar para minhas filhas na hora de dormir. Eu conto histórias para elas e sempre dou opções, e elas sempre escolhem as engraçadas. Nunca terror. Eu começo a contar uma de terror e elas dizem, "Para!". "Está muito assustador". Mas eu adoro contar histórias.
Que carro você dirige?
Bem, estou dirigindo agora um Chrysler de 8 anos. Eu me visto mal, dirijo um carro velho e gasto todo meu dinheiro nas artes loucas ou brinquedos. Mas o carro que vou dirigir daqui a três meses... Meu irmão está fazendo para mim o carro do filme O Carro - A Máquina do Diabo, do James Brolin. Eu era obcecado por ele quando eu era criança e levei muitos anos para encontrar. Vocês verão o carro nas ruas de Los Angeles. Vai enlouquecer todos os donos de Prius do mundo. Vou dirigir o carro do James Brolin.
É um filme dos anos 70?
Sim. Era como Tubarão com rodas. E era um filme tão incrível para mim, quando eu era criança. Vi de novo, e de novo e de novo. E vou dirigir esse carro em alguns meses. Já terminaram o chassi, terminaram tudo e estão construindo o corpo manualmente.
Minha última pergunta para você desta noite. Desde que você voltou, muitas pessoas estão entrando em contato com você para dirigir os projetos deles?
Sim.
Como foi voltar para a roda-viva?
Tem sido ótimo. Existem tantas coisas ótimas acontecendo, que realmente estou feliz de poder ter contato com essas pessoas e saber o que está cozinhando. E tem muitas coisas legais cozinhando. Algumas proporcionarão "nerdgasmos" para todos. E muitos projetos foram muito tentadores por causa disso. Pensava, "Eu quero fazer esse filme!". Aí você tem que pensar se você realmente quer fazer o filme ou se você realmente quer assisti-lo.
Qual foi o projeto que você esteve mais perto de aceitar, mas não aceitou?
Por causa da MDA, não posso revelar. Mas era muito, muito bom. Quando eles divulgarem o diretor, eu te conto.