Gus Van Sant (Elefante e Last Days) retoma em Paranoid Park (2007) sua linha de experimentação artística. O longa-metragem é uma oportunidade para o público apreciar o talento de Van Sant em uma proposta minimalista. Seu novo filme foi feito com um orçamento modesto e encenado em Portland com atores não profissionais - o que não é problema, já que o elenco, na verdade, é uma das ferramentas que ele utiliza para expressar suas idéias.
Vencedor do prêmio do 60º Aniversário no Festival de Cannes 2007, o longa gira em torno de um adolescente skatista de 16 anos. Certo dia, Alex mata acidentalmente um agente de segurança nas proximidades de Paranoid Park, área em Portland onde skatistas treinam suas manobras. Alex decide não contar o que aconteceu a ninguém. Mas a sua vida, antes bastante normal, entra numa espiral de confusão, estratégias de acobertamento e culpa.
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O roteiro é baseado no romance homônimo de Blake Nelson e, partindo desse argumento, Van Sant aproveita a trama para traçar um painel sobre a alienação que impera na adolescência. Ao mesmo tempo em que o jovem encara a culpa e o medo por ter cometido um acidente fatal, este ato desencadeia uma série de conflitos morais internos pontuados com dilemas.
Na busca dessa reflexão, o cineasta usa uma narrativa fragmentada em que passado e presente se mesclam. Ele não está preocupado em solucionar o crime, mas sim apresentar como a juventude está desconectada da realidade e à procura de afeto. Percebe-se isso através das relações de Alex, produto de uma família partida. Seus pais estão se divorciando e sua forma de encontrar alguma emoção genuína é através do skate. Os skatistas em Paranoid Park são uma forma de metáfora sobre a falta de comunicação, mesmo em um ambiente eufórico. Eles estão reunidos, mas não há diálogos entre eles. Essa maneira de se relacionar está presente durante toda a projeção, até mesmo quando Alex está com a sua namorada ou outras meninas. Diálogos são substituídos por imagens que capturam um estilo de vida. O único complemento é uma narração feita por Alex para ilustrar seu diário sobre os acontecimentos.
Essas intenções são corroboradas tecnicamente através do excelente trabalho de fotografia de Christopher Doyle (colaborador do cineasta Wong Kar Wai). São longas tomadas em 35mm em que a câmera flutua em volta dos atores. O complemento vem através das seqüências feitas em super 8 por Rain Kathy Li, e que mostram os skatistas em ação. Van Sant ainda trabalha com cores, ritmos e o slow motion como forma de flertar com o drama e a emoção.
A trilha sonora também recebeu os devidos cuidados. São músicas de vários estilos que passeiam pelo clássico, thrash metal, country, jazz, entre outros gêneros. Em alguns casos as canções mudam em segundos na mesma cena, clara ilustração da influência do iPod nos jovens de hoje em dia.