O boca-a-boca transformou A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999) em um dos filmes mais lucrativos da história recente de Hollywood. Esse mesmo movimento fez do espanhol [REC] (2007) uma das grandes sensações do terror dos últimos tempos, com seus direitos já devidamente comprados, refilmados e lançados também em Hollywood, sob o título Quarentena (Quarantine, 2008).
O bom é que a produção espanhola merece todo esse burburinho. Trata-se de um filme que pega elementos já utilizados em outros projetos similares do gênero, mas sabe como utilizá-los para criar algo novo e envolvente. Da própria Bruxa de Blair traz tanto a câmera inquieta quanto a moça que fica à sua frente. Manoela Velasco, atriz e apresentadora da TV espanhola é um achado. Além de linda, tem um carisma enorme, que empresta à sua personagem, Ángela Vidal, apresentadora do fictício programa barceloneta "Enquanto Você Dorme".
[REC]
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Ángela e seu câmera, Pablo (Pablo Rosso, o diretor de fotografia), estão montando um episódio sobre os bombeiros, que recebem um chamado sobre uma velha que está trancada em seu apartamento. Lá vão eles noite adentro pelas ruas da cidade. Chegando ao prédio, os policiais já estão no local e todos os vizinhos no saguão, pois a mulher estava gritando muito alto e acordou a todos, que - desesperados - acabaram descendo.
Empolgada pela agitação, Ángela dá a ordem "Não pare de gravar!" E lá vão os bombeiros, os policiais e a equipe de reportagem escadas acima. E começa a gritaria, o sangue e a correria! Sem perder nada, Pablo captura o momento em que um dos policiais é atacado pela velha pelada e descabelada, que pula no seu pescoço até arrancar um pedaço. De uma matéria simples de comportamento, a repórter percebe que pode ter em mãos o furo que pode alçá-la a um novo patamar e muda então para a curiosa. Mas quando vê que as portas estão fechadas, começa a sua busca pela verdade e por tudo o que está acontecendo por ali. Por fim, Ángela quer apenas sobreviver.
A evolução que vemos na personagem principal vai se refletindo também com o filme, já que ele é feito em primeira pessoa. A cada novidade que é revelada sobre o que está acontecendo por ali, todos vão ficando mais nervosos e apreensivos. O detalhe é que os atores foram contratados sem saber o que aconteceria com seus personagens, e os diretores Jaume Balagueró e Paco Plaza ainda utilizavam elementos surpresa para pegá-los desprevinidos, capturando assim suas verdadeira reações.
Confesso que os últimos 10 minutos fiquei extremamente tenso, esperando os raros momentos de respiro do clímax para poder fechar um pouco os olhos e me reequilibrar. Estava literalmente passando mal com o efeito da câmera que não pára, a pouca luz e o excelente trabalho do áudio que esconde os barulhos no escuro e vão tornando o filme altamente angustiante e extremamente claustrofóbico.
E como bom filme de terror, [REC] não se limita aos sustos. Seu ponto forte é justamente o desgaste psicológico, que leva os personagens a se despirem de suas correções políticas, demonstrando a xenofobia ao acusar, por exemplo, os chineses pela epidemia, ou a síndrome do pequeno-poder do policial que quer mandar em todos porque é o único armado por ali.
Mas quer saber o que me dá medo de verdade? Saber que todos os acertos que serviram para ganhar o público e até mesmo o direito de um remake hollywoodiano sejam jogados fora no já anunciado [REC] 2 , que inclusive já começou a ser filmado .