RocknRolla - A Grande Roubada
RocknRolla - A Grande Roubada
RocknRolla - A Grande Roubada
Para ser honesto, há mudanças, sim. A trama enfoca um assunto do momento, o domínio da máfia russa sobre o futebol inglês. Ritchie, talvez tentando responder às acusações de misoginia, desta vez dá um papel de destaque a uma atriz sensual, Thandie Newton. E - olha o avanço - apresenta um bandido homossexual. De resto, são as caricaturas já conhecidas. No lugar de seu ator-fetiche, Jason Statham, o cineasta achou outro cara de rosto duro e coração de ouro, o ator em ascensão Mark Strong. E o tipo marginalizado, que é arrastado para dentro da trama e ganha a simpatia do público, papel de Brad Pitt em Snatch, agora fica com o junkie Johnny Quid (Toby Kebbell), o rock 'n roller do título.
As estruturas também se repetem. Com didática narração em off, Ritchie apresenta os peões do jogo e repassa a hierarquia do submundo - apenas para invertê-la logo em seguida, com chefões à mercê dos ladrõezinhos. Se antes os chefões intimidavam esses mesmos ladrões com métodos esdrúxulos, como dar de comer a porcos em Snatch, agora só muda o animal: lagostins. E o MacGuffin continua sendo um objeto estranho àquele universo de banalidades. Em Jogos, Trapaças era a espinguarda vintage, agora é uma pintura a óleo (que muda de mãos gratuitamente; Ritchie já foi mais convincente na hora de formar a teia de reviravoltas de seus filmes).
Curioso que, não contente em imitar a si mesmo, o cineasta cita de Exterminador do Futuro 2 (o russo perseguindo o carro) a Pulp Fiction (a dança de Gerard Butler com Thandie Newton, vestida à la Uma Thurman). Por isso mesmo RocknRolla é muito mais eficiente como comédia do que como filme de máfia: simplesmente já não dá pra levar o marido da Madonna a sério.
Enxergar em seus personagens algums traços da personalidade do cineasta é uma tentação. Do chefão da história, Ritchie tem a nostalgia dos velhos tempos (o cineasta continua usando o ska reggae dos anos 80 nas suas trilhas, por exemplo). Dos descamisados musculosos e bem torneados, tem o componente velado do homoerotismo (que redunda na percepção de que seus filme são misóginos). Dos mafiosos em geral, tem o encanto infantil pelas armas de fogo e pelas armas brancas.
Não é de se estranhar que a principal cena de RocknRolla seja o momento em que o menino apanha por ouvir Clash alto demais. Os filmes de Guy Ritchie são todos uma brincadeira puerilmente violenta e deslumbrada de rancor e nostalgia.