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Sucker Punch - Mundo Surreal: Visita ao set do filme

Um vislumbre do novo filme de Zack Snyder

03.11.2010, às 16H06.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H10

O diretor de Madrugada dos Mortos, 300 e Watchmen já havia provado em duas ocasiões ao Omelete que não tem qualquer problema com jornalistas em seus sets - pelo contrário. Mas desta vez, com Sucker Punch - Mundo Surreal, Zack Snyder foi ainda mais solícito.

É fácil entender o porquê. Em seus três primeiros longas-metragens, ainda que empolgadíssimo, Snyder estava adaptando o trabalho de outras pessoas (seus ídolos George A. Romero, Frank Miller e Alan Moore). Agora, o cineasta cuida de seu primeiro filme original. A satisfação de finalmente criar seus próprios brinquedos era facilmente notada em seu rosto.

Sucker Punch

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Baby Doll prestes a invadir o bunker

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Visitei o set de Sucker Punch em novembro de 2009, quando as filmagens estavam aproximadamente na metade. Deborah Snyder, produtora e esposa do cineasta, recebeu o pequeno grupo de jornalistas - apenas cinco pessoas - debaixo de uma chuva gelada na porta do Vancouver Film Studios e imediatamente nos levou ao estreito corredor onde penduraram artes e fotografias de produção do filme. Uma rápida passagem pelo local já deu uma boa ideia do que esperar: o inesperado! Visualmente, Sucker Punch não é apenas um filme. São seis.

A trama acompanha a história de Baby Doll (Emily Browning), uma garota enviada a um manicômio depois que seu padrastro descobre que ela é a única herdeira da mãe. O objetivo do homem é lobotomizá-la, para que a fortuna fique em suas mãos. A menina descobre então que tem apenas cinco dias até que o cirurgião chegue - e a pressão faz com que ela se refugie em sua própria mente. Na imaginação de Baby Doll, o asilo para insanos vira um bordel, de onde ela pode escapar com a ajuda de quatro amigas, enfrentando missões impossíveis.

O "mundo real" e a imaginação da protagonista são os dois cenários principais. Mas há segmentos em um mundo de fantasia à J.R.R.Tolkien, em uma distorcida Primeira Guerra Mundial, no Japão feudal (ou quase isso) e em outro planeta. Para cada um desses cenários Snyder emprega estilos de direção levemente distintos e visuais radicalmente diferentes. "A história é a linha mestra, as personagens idem, mas cada segmento tem uma qualidade única", explicou. Isso significa que, além de enquadramentos e fotografias diferentes, até mesmo os efeitos estão sendo resolvidos por várias empresas de efeitos diferentes. "É um filme de ação pra pensar, provocativo", complementa Deborah Snyder.

Sucker Punch parece, assim, uma enorme e válida desculpa para que Snyder possa experimentar seus gêneros favoritos de uma só vez - aproveitando toda a experiência que adquiriu com os fundos falsos de 300 e os cenários realistas de Watchmen. "Nem acredito que me deram dinheiro pra fazer isso", brinca o diretor.

Obviamente, essa fusão é complexa, portanto, os especialistas em efeitos especiais estão o tempo todo estudando as cenas através de pré-visualização. Pude conferir aproximadamente 10 minutos delas, incluindo Baby Doll contra os samurais e o ataque do dragão. Na primeira cena, dublês lutam em um ginásio e depois têm seus movimentos transferidos para bonecos 3-D. Essa animação preliminar dá à equipe todo o conhecimento necessário para que se decidam quais trechos serão live-action, quais serão em computação gráfica, quais empregarão dublês, quais usarão atores e quais serão uma fusão de todas as técnicas. O resultado é naturalíssimo.

A visita seguiu com uma conversa com o figurinista Michael Wilkinson, que explicou como Snyder deu a ele a tarefa de representar em cada uma das protagonistas - Baby Doll, Blondie, Sweet Pea, Amber e Rocket - arquétipos fetichistas. O figurinista aproveitou também para contar uma história que ilustra bastante a obsessão de Snyder por detalhes: apaixonado por Excalibur, ele pediu à equipe que criasse armaduras semelhantes às do filme de 1981. Depois, teve a ideia de contratar o mesmo armeiro do longa, que foi localizado e ainda tinha diversas das roupas do filme. As prateadas vestes dos Cavaleiros da Távola Redonda encontraram assim novo espaço nas telonas. "Mas eu mexi aqui e ali para torná-las algo meu também", disse Wilkinson.

Cenários também têm contrapartidas no mundo dos sonhos de Baby Doll e sua existência miserável. A Casa Lennox, a instituição na qual a menina está presa, por exemplo, transforma-se fisicamente nos cenários fantásticos... Os mais atentos também notarão que elementos do mundo real, como a escrivaninha do padrasto, encontram sempre espaço na imaginação de Baby Doll, muitas vezes reinterpretados, ocorrência comum quando o assunto é sonho.

No departamento de objetos de cena, pude empunhar alguns dos "hero props", itens criados com precisão de detalhes para as cenas mais próximas. Espadas e armas foram produzidas com esmero, mas dois itens receberam tratamento especial: a katana e a pistola Colt 1911 de Baby Doll. A arma branca foi criada a partir do zero com materiais como couro de barriga de arraia, couro envelhecido e uma liga metálica mais leve que a normalmente usada nas katanas. "Quebramos várias brocas tentando gravar imagens na lâmina de katanas de verdade", explicou o supervisor de objetos de cena. A ornamentação, afinal, era fundamental para a trama: na espada de Baby Doll, na forma de ícones, está gravado todo o filme. A pistola, por sua vez, é uma colt original modificada, com cabo de madeira trabalhada, baixo relevo nas partes metálicas e chaveirinhos japoneses de celular pendurados. "Pra ficar mais fofo", completou o responsável.

Depois de passear pelos interiores realistas do bordel, incluindo dois dos quartos de sexo e um banheiro - que de tão bem construído parecia nojento de verdade -, a primeira cena que vimos sendo rodada foi a invasão de um bunker (veja ao lado, na galeria, uma nova foto dessa cena). Nela, depois de auxiliada por suas companheiras - cada uma teve uma empolgante cena de luta contra os medonhos antagonistas, que pude conferir na sala de edição - Baby Doll precisa encarar sozinha o monstruoso comandante, uma espécie de "chefe de fase" a la Darth Vader sem máscara. Abbie Cornish parecia pequena, mas feroz em sua roupinha de colegial enquanto empunhava sua katana com a mão direita e atirava com a esquerda.

Mais interessante que isso, porém, foi ver como o enérgico e bem-humorado Snyder controlava duas equipes de filmagens simultaneamente. Ao grita "corta!" para a cena dos nazistas ele virou-se para outro monitor e engatou "ação!". A segunda unidade estava a poucos metros dali, registrando cenas mais simples. "Bata na porta três vezes, depois mais três. Olhe para baixo enquanto faz isso", pediu. "Ótimo! Pode imprimir!" Naquele dia nada menos que três unidades filmavam ao mesmo tempo e 400 pessoas estavam no set, entre construtores, extras, técnicos, pessoal de escritório, ajudantes e elenco. "É o dia mais complicado de toda a nossa agenda de filmagens. Nem acredito que todos aceitaram que recebêssemos a imprensa hoje", confidenciou Deborah Snyder.

Mas ainda que as cenas tenham sido interessantes, o melhor estava por vir. Na trama, cada uma das meninas tem uma cena de dança elaborada, criada especificamente para sua personagem nos segmentos do bordel. Naquela semana, cada uma das atrizes teve sua noite de glória, gravando esse número musical em um cenário gigantesco, um teatro burlesco, completo com balcão, adereços, dançarinas, banda ao vivo e audiência de gângsteres. Na noite em que estivemos por lá foi a vez de Vanessa Hudgens - e posso garantir que a menininha casta de High School Musical cresceu.

Hudgens apresentou uma dança do ventre, com direito a véu e espada, com outras dez dançarinas, um harém, todas com figurinos belíssimos. Só o da protagonista tinha 30 mil dólares em cristais Swarovsky, que brilhavam à luz dos holofotes - especialmente dispostos por iluminadores experientes do teatro. As músicas também merecem destaque, já que foram remixadas ao melhor estilo Moulin Rouge - Amor em Vermelho (inclusive pelo mesmo produtor musical que costuma trabalhar com Baz Luhrmann, Marius de Vries). Sem cortes e com mais de um minutos de duração, a cena foi refeita cinco vezes - e a sensação é de que eu estava num show de verdade, não em um set de filmagem. Os aplausos ao final explodiam na plateia cinematográfica e também em toda a equipe de produção. As outras atrizes eram as mais empolgadas, gritando e torcendo pela colega.

A união entre elas, aliás, é outro ponto a ser destacado. Cada uma declarou-se extremamente ligada às demais. "Somos irmãs agora, nossa ligação vai muito além do filme. Rimos e sofremos juntas, estivemos lado a lado em nossos momentos mais vulneráveis", contou Jenna Malone. Eu já havia escutado essa mesma história antes, mas dos machões de 300, no set em Montreal do filme. Zack Snyder parece ter se especializado em colocar seu elenco junto em meses de treinamento. "Foram três meses de treino de armas, artes marciais e condicionamento físico com ex-integrantes dos Fuzileiros Navais", explicou Jamie Cheung, citando a conhecida tropa de elite da marinha dos Estados Unidos que treinou o grupo de junho a setembro de 2009, colocando-as em uma dieta pesada - que foi refletida na alimentação de toda a equipe. "Essa união transparece nas telas, elas estão muito próximas, vivem juntas e estão sempre aqui umas para as outras", confirmou mais tarde Deborah Snyder.

Com sua história de "sonho dentro de um sonho dentro de um pesadelo", Sucker Punch - Mundo Surreal promete uma aventura empolgante, visualmente arrojada e dramaticamente elaborada. Estaremos de olho!

Sucker Punch - Mundo Surreal estreia no Brasil em 25 de março de 2011.

O Omelete entrevistou elenco e equipe em San Diego - leia aqui.

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