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Um Lugar Chamado Brick Lane - Mostra SP 2008

Adaptação do livro de Monica Ali mostra condição de imigrante muçulmana em Londres

30.09.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H40
É enorme a população de estrangeiros morando em toda a Europa. Mas em Londres parece que tem mais. Primeiro porque as pessoas acabam tropeçando umas nas outras, numa convivência mais equilibrada, sem tantos guetos destinados a este ou aquele grupo (não que eles não existam. A área de Bayswater, por exemplo, já foi apelidada de Brasilwater, de tantos conterrâneos nossos que acabam por ali.)

Brick Lane

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O segundo motivo é a existência de um acordo entre a Rainha e suas ex-colônias, o Commonwealth, que dá aos seus ex-súditos a vantagem de poder ir e vir para o Reino Unido e os outras nações parceiras quando quiserem. Por fim, o óbvio efeito econômico, já que o câmbio da libra e a economia britânicas são mais estáveis do que na maioria dos outros países. Somando todos esses fatores (além de melhor educação, saúde pública, transporte, moradia, etc.) é fácil entender por que uma pessoa troca a sua vila na Índia ou na África do Sul para pelo menos tentar a sorte na capital inglesa.

Este, porém, não é o caso de Nazneen Ahmed (Tannishtha Chatterjee). Ela é obrigada a seguir as ordens do pai e se mudar para Londres depois que tem um casamento arranjado com Chanu Ahmed (Satish Kaushik). Na terra do fish and chips, ela vai se adaptando como pode. Seguindo a doutrina muçulmana e a própria educação que recebeu, não entra em conflito com o marido, contrastando com outras mulheres ocidentais ou "ocidentalizadas". Nem mesmo quando ele resolve pedir demissão do seu trabalho e se enterrar em dívidas ela contesta as ações do marido. O mesmo já não vale para as filhas. Principalmente a mais velha, que não pensa duas vezes antes de arranjar confusões.

O desenvolvimento contínuo de Nazneen contrasta com a inércia de Chanu. E por isso mesmo torna o desfecho da trama tão surpreendente, sem jamais descaracterizar os personagens. É este um dos grandes trunfos da diretora Sarah Gravon, que em sua estréia como diretora de um longa-metragem para o cinema guia a história de forma bastante segura e visualmente muita rica, abusando das luzes, sombras, foco, reflexos e vultos capturados pelo diretor de fotografia Robbie Ryan.

Cuidado, porém, se você assistiu ao trailer. Ao contrário do que tenta vender o tal vídeo promocional, Um Lugar Chamado Brick Lane (Brick Lane, 2008) tem pouco daquele romance. Sua história é dramática. Doída. E até mesmo política. Mesmo sendo Londres uma cidade tão aberta aos que vêm de outros mares, a sociedade atual continua não facilitando para muçulmanos, imigrantes e mulheres. O que dizer se você é tudo isso ao mesmo tempo.

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