Youth Without Youth
Youth Without Youth
Youth Without Youth
Ou um projeto que, diante da certeza da morte, fala da ânsia de completar um testamento - tema que inevitavelmente se associa a Coppola, que faz 70 anos em 2009, cujo cinema áureo ficou pelos anos 70 e cujo legado sobrevive pelas mãos de seus filhos também cineastas, Sofia e Roman. O que deixar para o mundo? É isso que assombra o protagonista do filme, Dominic Matei (Tim Roth), um estudioso da linguagem humana que, com 70 anos recém-completos, talvez não viva a tempo de finalizar o seu único livro.
Acontece que Dominic ganha uma "prorrogação" dos céus. Ao desembarcar na sua cidade natal, na Romênia, onde planejava cometer suicídio, ele é atingido por um relâmpago. A descarga elétrica rejuvenesce Dominic em uns 30 anos - como os médicos descobrem assim que a pele e os cabelos, derretidos pelo raio, se reconstituem. Velha Juventude é uma adaptação do conto homônimo do estudioso de religião e escritor romeno Mircea Eliade (1907-1986), por sua vez inspirado em uma fábula romena do século 19. Há na história, porém, ecos de H.G. Wells - mesmo porque o rejuvenescimento é, na prática, uma máquina do tempo para o protagonoista.
Isso fica claro quando, a certa altura do filme, depois de fugir incessantemente de cientistas nazistas na época da Segunda Guerra, o romeno ganha a oportunidade de desfazer uma burrada amorosa da sua juventude "anterior", quando trocou a paixão de uma mulher pela paixão dos estudos. Velha Juventude tem suspense de espionagem, tem ficção científica e tem muita filosofice, mas é o hollywoodianíssimo tema da segunda chance que liga todo o resto.
Coppola é fiel não só a essa tradição, mas à sua própria. O visual de Velha Juventude, seja na composição do enquadramento ou na iluminação, remete automaticamente ao seu trabalho com o diretor de fotografia Gordon Willis em O Poderoso Chefão, particularmente no uso barroco das sombras como muleta dramática (aqui, a cargo do diretor de fotografia Mihai Malaimare Jr.). Barrocos são também os efeitos, desde as fusões de imagens até os giros de 90 e 180 graus que Coppola dá na passagem de um plano a outro - com o inestimável apoio de seu montador de longa data, Walter Murch - para amplificar o impacto.
E aí a coisa envereda pela questão do gosto. Coppola filma como se ainda estivesse nos anos 80, narrativa e estilisticamente falando. Fala de rosas vermelhas e sânscrito. Não é o tipo de filme que teria apelo hoje em dia, não fosse pela volta do ícone. No fim das contas, porém, talvez o nome já baste - mesmo porque o cineasta está aqui se espelhando em Dominic Matei, tratando da impossibilidade da vida eterna e se contentando com mais uma pequena vitória sobre a morte. Depois deste, Coppola já tem mais um filme a caminho. Velha Juventude é o testamento que se nega a sê-lo.