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Entrevista

Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio | Omelete entrevista o diretor Justin Lin

Cineasta discutiu o papel da ação, seu trabalho na série, a liberdade que busca como diretor e até o "Melô da Popozuda"

25.04.2011, às 18H10.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

O Omelete participou dos eventos de divulgação de Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio (Fast Five) no Rio de Janeiro. A cidade recebeu em meados de abril o elenco e a equipe do filme, além de sediar a premiére mundial do novo capítulo da franquia. Conversamos por lá com Vin Diesel, Paul Walker, Dwayne Johnson, Jordana Brewster, Chris “Ludacris” Bridges, Tyrese Gibson, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Elsa Pataky, Don Omar e Tego Calderon, e agora você lê a primeira dessas entrevistas, a conversa com o diretor Justin Lin.

O cineasta falou sobre o universo de Velozes e Furiosos, seu trabalho na série, o respeito e a liberdade que busca como diretor, discutiu o papel da ação e a evolução desse tipo de cinema, a parceria com Vin Diesel e até o "Melô da Popozuda". Divirta-se!

Justin Lin e Vin Diesel

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Justin Lin e Vin Diesel

Velozes e Furiosos 5

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Velozes e Furiosos 5

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Velozes e Furiosos 5

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... na cena filmada em dois dias

Velozes e Furiosos 5

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Velozes e Furiosos 5

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A correria na favela...

Justin Lin no set

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Justin Lin no set

Como foi retornar ao universo de Velozes e Furiosos?

Bem difícil. Com qualquer franquia, quando você faz uma quinta parte é sempre um grande desafio. Eu sempre gostei dessa série porque os cinco filmes são bem diferentes um do outro. Tanto em termos de estilo como em temática... eles têm sido bem diferentes. Minha ideia para Velozes nunca foi fazer o mesmo filme várias vezes, mas criar três filmes bem diferentes, com personagens parecidos. Como frequentador de cinema, eu gosto disso - é o que procuro. É como visitar velhos amigos, sabe? Se eu vou visitar um amigo que eu conheci quando tinha 16 anos, eu gosto de ver como ele ou ela está com 25, 30 anos. Mas se eles ainda agem como se tivessem 16 anos, então eu não vou querer vê-los novamente.

O maior desafio é surpreender o público então?

Eu acho que o maior desafio é descobrir quais são os desafios para os personagens. Já se passaram 10 anos. Os personagens não têm os mesmos problemas e até o gosto deles para carros mudou. Agora eles não ligam tanto para a pintura e coisas do tipo, por exemplo. Eles evoluiram, amadureceram. Uma grande parte do meu trabalho é descobrir isso e explorar essa evolução. Então você não vê mais Dominic Toretto entrando em corridas de carros repletas de garotas de 18 anos. A história não é mais sobre isso.

Por que você quis retornar? Como você escolhe seus projetos?

Eu venho do cinema independente. Eu trabalho bem diferente de muitos diretores focados em trabalhar com estúdios. Eu não apareço, pego meu roteiro e gravo aquilo que está registrado ali. Eu tento encontrar um tema e trabalhar a partir dele...

Acho que o núcleo dessa franquia é sobre a família, mas de uma forma bem inconvencional. O terceiro filme tinha uma visão pós-moderna da identidade, uma exploração bem diferente do tema. O quarto, uma exploração mais pessoal e sombria sobre o sacrifício e o que isso significa. Para mim, Velozes e Furiosos 5 fala de liberdade e eu queria explorar isso com todos os personagens. Porém, temos um monte de personagens pra trabalhar, então o desafio, que também me ajudou a optar pelo filme, foi buscar uma razão para que eu pudesse ter Tyrese [Gibson], Sung [Kang], Gal [Gadot] e todos os outros reunidos.

O desafio é buscar justificativas para a ação, então?

Legal que você comentou isso. As pessoas falam muito sobre a ação, mas eu acho que a ação não significa nada, a não ser que você possa baseá-la em alguma coisa. O verdadeiro desafio é ter uma base emocional, para que todos possamos nos relacionar ao filme. Ao mesmo tempo, a ação precisa ser uma extensão dos personagens. Eu comparo filmes assim aos esportes: eu posso te dizer que sou o melhor jogador de basquete do mundo, mas se eu entrar em uma quadra de basquete, em cinco minutos você vai saber se eu sou realmente bom ou não. É isso que eu gosto na ação, fazer com que ela sirva aos personagens e ao ponto em que estão em suas vidas.

Como você veio do cinema independente, é mais fácil trabalhar com orçamento de blockbuster ou com a libertada das pequenas produções?

É bem parecido. O engraçado é que, para um filme de grande orçamento, nós não tivemos dinheiro suficiente. Então, em certo ponto, eu tive que dizer à equipe e ao elenco que tínhamos que tratar esse filme como se ele fosse independente. Isso até estimulou todo mundo. Conseguimos fazer até cenas que não deveríamos ter filmado, já que o estúdio disse que não tínhamos dinheiro. A cena da perseguição na favela, por exemplo, não era para ter sido filmada. Então conseguimos dois dias e meio na agenda e resolvemos filmá-la de qualquer maneira. Havia três equipes diferentes trabalhando ao mesmo tempo: enquanto Vin Diesel caía do telhado, Paul [Walker] e Jordana [Brewster] estavam fazendo outra coisa... uma correria e todo mundo ocupado e cheio de energia! Geralmente, quando o filme tem um grande orçamento, as filmagens ficam mais lentas, mas nós usamos isso a nosso favor. Os atores até conseguiram se entrosar mais; as cenas cômicas deram mais certo...

E a questão da liberdade? Você chegou aos produtores, aos grandes atores, ao estúdio com suas próprias ideias e recebeu o sinal verde para executá-las? Como foi?

Eu não faço esses filmes apenas por fazer. Preciso ter um motivo. E para que eu tenha feito três deles, tem que ser um ótimo motivo. A última coisa que eu quero fazer, especialmente vindo de onde eu vim, é aparecer pra trabalhar e aceitar ordens pra pegar um cheque no fim do mês. Eu não sou pago para isso. Eu sou um cineasta. Se o filme for ruim, a culpa é minha. Se for um sucesso, a culpa é minha. Esse é meu trabalho. Se você não gostou de um determinado ator no filme, não reclame com ele, reclame comigo. Se houve algum problema, é meu problema. Eu quero ter a culpa e a responsabilidade. É isso que um cineasta faz. Eu respeito muito a decisão do estúdio de me dar uma franquia para desenvolver e liberdade para fazê-lo, algo raro hoje em dia. Mas é claro que existiram momentos em que eu precisei sentar com Neil [Moritz] pra discutir aspectos do filme. Eu sei que liberdade assim é algo bem raro e é por isso que eu fico animado. Eu cheguei a um ponto onde eu não tenho que lidar com besteira. O orçamento é secundário. Eu gosto de fazer filmes sem orçamento tanto quanto gosto de fazer filmes com um grande orçamento, contanto que eu tenha poder como diretor. Se não tiver, aí eu não quero mais.

É surpreendente que você não tenha rodado em 3D. Qual é sua opinião sobre isso?

Nós até pensamos nisso, mas aí o orçamento virou um problema. Normalmente eles dizem "filma aí e depois nós convertemos", mas eu senti que isso seria errado, especialmente com essa franquia. A conversão ainda não é boa e essa é uma das poucas séries de ação cujos fãs são, em grande parte, trabalhadores que dão duro por seu dinheiro. Eu não quero que eles desembolsem grana extra apenas para usar um par de óculos alegórico.

Você gosta de 3D?

É diferente filmar em 3D. Se eu o tivesse feito nesse formato, os cortes seriam menos rápidos e mais longos. Eu teria que repensar como filmar isso... então eu não faria esse filme em 3D. Não mesmo.

Realmente, as cenas de ação ficariam estranhas. Quando você tem uma edição tão rápida quanto essa, não dá pra ter 3D.

Sim, as pessoas provavelmente teriam convulsões. Não é bom para o cérebro. Eu acho que se for pra existir um Velozes e Furiosos em 3D, ele precisa ser feito direito. As pessoas que pagam para ir ao cinema têm que ser respeitadas. Conversei com o estúdio, eles desistiram do 3D e me deixaram fazer o filme que eu queria fazer. É, novamente, a questão da liberdade. Você não pode dizer sim para tudo.

Estão falando muito ultimamente em filmar em 48 quadros por segundo; Peter Jackson está fazendo isso e James Cameron já fala em 60 quadros por segundo. Esse tipo de tecnologia vai mudar o 3D, já que a edição poderá ser mais ágil. Isso é algo que você pensa em acompanhar?

James Cameron e Peter Jackson, sinceramente, têm recursos que eu ainda não tenho. Então não vou fingir que estou acompanhando isso. Mas eu espero um dia chegar lá. Quando eles fazem um filme, eles têm brigas diferentes das minhas. Eu brigo como um cineasta novo que está tentando fazer um filme. Eles lideram o caminho. Eu já fui convidado para sessões-teste de James Cameron, eu escuto o que ele tem para dizer e fico feliz que ele esteja tão disposto a dividir essas informações comigo porque, conforme eu cresço, quero me manter realizando filmes da maneira certa. Eu acho que, no fim do dia, isso é tudo que eu posso fazer; lutar para fazer filmes da maneira certa.

Você já roda o filme pensando na velocidade que pretende imprimir à edição?

Sim. Eu tenho três câmeras rodando ao mesmo tempo e o enquadramento que eu escolho para cada uma delas é muito importante. Quando estou editando alguns efeitos, uso seis quadros por segundo, algumas vezes oito - isso é um terço de segundo! Conforme você assiste a essas cenas, as processa como uma ação. Mas não acho que o público seria capaz de quebrá-las e processá-las há 15 anos. É uma evolução técnica e também do público. Também estamos evoluindo como audiência. As vezes eu ponho um pequeno corte, só para enfatizar a cena inconscientemente para um certo movimento. Isso foi desenvolvido ao longo do tempo como uma escolha pessoal. Alguns diretores podem não fazer isso, mas eu faço certas coisas simplesmente porque elas funcionam para mim.

Quanto das corridas são efeitos visuais e quanto foi feito na prática?

O que você acha? [risos]

Para mim, estava tudo bem realista. Eu não percebi a falsidade dos efeitos visuais.

Quando a franquia era mais nova, eu acho que queriamos nos mostrar mais, então era mais divertido fazer daquele jeito, com efeitos práticos. Mas agora, com o desenvolvimento dos personagens, eu queria que o estilo crescesse, queria que os acidentes de carro crescessem, então o modo que retratamos isso é bem diferente. Eu quis fazer alguns na prática, mas também tivemos muita ajuda de efeitos especiais. Tínhamos uma equipe grande de efeitos visuais e nessa franquia, quando eles fazem o trabalho deles, fica difícil perceber.

Então você não vai nos dizer exatamente quanto tinha ajuda de efeitos visuais?

Isso não é divertido? [risos]

Você pensa em fazer filmes mais pessoais como um autor?

Sim, eu penso. Eu alterno. Adoro o desafio de fazer grandes filmes de estúdio e isso também me ajudou com o cinema independente. Ficou mais fácil conseguir financiamento, por exemplo. Mas eu sinto como se ainda estivesse começando, como se esse fosse o primeiro capítulo de muitos que virão na minha carreira e fico muito feliz por ter a oportunidade de participar das coisas que tenho participado nos últimos dez anos. Eu espero que possamos nos encontrar daqui a 20 anos e falar sobre coisas diferentes.

Você vai dirigir o próximo filme de Velozes e Furiosos?

Ainda estamos conversando. Eu não estou comprometido e prefiro fazer um filme por vez. Eu tenho padrões diferentes e se esse próximo filme se encaixar nos meus padrões, eu o farei. Se os padrões não forem pessoalmente agradáveis, então eu posso até ajudar na produção, mas não vou dirigi-lo. Amo meu trabalho, mas se não são os motivos certos, eu não quero fazer.

Como foi trabalhar com Vin Diesel como produtor e ator?

Ele é um bom produtor porque sabe quando precisa se afastar e me deixar dirigir. Ser um bom produtor é encontrar um bom parceiro - e uma vez que temos isso, deixá-lo dirigir. Vá ser o ator e eu tomo conta de você. Acho que foi por isso que trabalhamos tão bem juntos; existe confiança. Eu adoro a relação que tenho com ele, nós a desenvolvemos ao longo do tempo e isso é algo que eu respeito muito. Saber quando se afastar para que eu torne a vida deles mais fácil é algo que exige muito dele e de Neil [Moritz]. "Você faz isso, eu faço aquilo". Isso é um time.

E a trilha sonora? Foi você que escolheu as músicas?

Sim. Eu adorei porque quando eu ouço música aqui [no Brasil], eles usam trechos de outras coisas... Quando eu estava na favela assistindo a um jogo de futebol, eu percebi que eles pegam uns pedaços de músicas dos anos 80 dos EUA, trechos dos filmes do Indiana Jones... Isso me deu uma boa base para quando eu estava procurando a música para esse filme. Quando você pensa no Rio, pensa em Copacabana, existem certas músicas e certos estilos, um tipo de música clássica que vem à cabeça. Então nós conseguimos pegar isso e utilizar de uma forma mais contemporânea. Eu fui usando o estilo que ouvi na favela e incorporando com outras coisas, criando aquele som.

Mas na cena da corrida, o funk "Melô da Popozuda" foi você que escolheu? Porque a letra da música não tem nada a ver com a cena.

Realmente, não tem, mas eu acho...

Você sabe o que é uma popozuda?

Não, o que é?

Uma mulher que tem a bunda grande.

Sim! Eu sabia do tema da música, mas não o significado da palavra. É meio que uma piada interna. Falando com as pessoas elas me diziam que a música era bem popular e divertida. Aquela corrida, no contexto do filme, não é nada mais do que os caras se divertindo e eu achei que aquilo seria apropriado. Então eu peguei um pedaço dessa música e pedi que um músico europeu brincasse com ela. "Mulheres bundudas"; isso é grande parte dos primeiros dois filmes e eles provavelmente ouviriam uma música assim, mas agora eles estão mais velhos, então isso é meio que um flashback cômico. Eu queria encontrar a música certa nessa cultura porque tudo se concentra no fato de que eles estão no Rio.

Finalmente, qual é seu carro favorito do filme?

[risos] Meu carro favorito? Uau. Tenho que dizer que o grande achado para mim foi o Skyline clássico. Foi bem difícil achar esse carro onde estávamos. Eu o imaginei visualmente, mas não sabia se existia, então quando o achamos foi quase que um sonho que virou realidade.

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