Filmes

Crítica

Vicky Cristina Barcelona

Woody Allen descomplica o amor por lhe aceitar a irracionalidade

24.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H41

Na cena final de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), Woody Allen lembra uma piada antiga. Um homem diz a um psiquiatra: "Doutor, meu irmão é maluco, ele pensa que é uma galinha". O médico diz: "Então, porque você não o interna?". Ao que Allen responde: "Bem, eu o internaria, mas acontece que preciso dos ovos". À piada segue uma pequena, porém brilhante, reflexão: "Assim é como me sinto sobre relacionamentos, eles são completamente irracionais, malucos, absurdos, mas continuamos, insistimos porque a maioria de nós precisa dos ovos".

Absolutamente coerente com a "filosofia dos ovos", depois de tantos anos esmiuçando os paradoxos do romance, Woody Allen ainda tem muito o que dizer sobre a irracionalidade, a maluquice, os absurdos de um relacionamento amoroso.

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Vicky Cristina Barcelona tem esse mesmo leitmotiv. Mas o tratamento aqui é outro. Há uma leveza maior sem, no entanto, banalizar ou simplificar as emoções dos personagens. Talvez o tempo tenha amenizado a angústia e o diretor e roteirista tenha compreendido que algumas coisas nem sempre podem ser analisadas de forma racional e cartesiana. Às vezes, nem um analista ajuda.

Isso parece ser dito na abertura do filme. E é dito de forma alegre, quase descompromissada, graças à saltiante música-tema "Barcelona", de Giulia & Los Tellarini, que pergunta: "Por que tanto perde-se/Tanto buscar-se/Sem encontra-se?".

Vicky Cristina Barcelona acompanha duas amigas de férias na capital catalã. Vicky (Rebecca Hall) é centrada, prática. Cristina (Scarlett Johansson) é o oposto: impulsiva, meio-artista. Em Barcelona, no verão, as duas visitam os cartões postais da cidade, vagueiam pelas ruas ensolaradas e numa noite conhecem Juan Antonio (Javier Bardem), um pintor que teve um divórcio conturbado da mulher, Maria Elena (Penélope Cruz), linda - e maluca.

O encontro entre as garotas e Juan Antonio parece dizer ao público: "bem, agora sim elas chegaram a Barcelona". Agora, sim, o filme começa. E é o que de fato acontece. Surgem então as observações espirituosas, o humor e as idiossincrasias tão caras ao diretor. Enquanto um personagem se questiona se o amor autêntico é o que dá sentido à vida, outro pergunta com afetação a um casal de amigos se eles têm idéia de quanto custa um tapete oriental.

Como diria um especialista em metafísica transcendental que não acredita na conquista da Lua, o mundo pode ser dividido justamente assim. Entre os que querem saber o que dá sentido à vida e os que se importam verdadeiramente com o valor de mercado de uma bela tapeçaria.

Se valeu a pena a cidade de Barcelona ter investido dinheiro no projeto de Woody Allen? Indiscutivelmente. Vicky Cristina Barcelona é um dos filmes de verão mais charmosos dos últimos anos. E prova que não é preciso muita elucubração intelectual para absorver a cidade, sua estética, seu espírito. A beleza dela - assim, sem filtros, com todos os temperamentos catalães que tem a extravasar - está à distância de um toque.

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Nota do Crítico
Ótimo
Vicky Cristina Barcelona
Vicky Cristina Barcelona
Vicky Cristina Barcelona
Vicky Cristina Barcelona

Ano: 2008

País: EUA/Espanha

Classificação: 12 anos

Duração: 96 min

Direção: Woody Allen

Elenco: Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Javier Bardem, Penélope Cruz, Christopher Evan Welch, Chris Messina, Patricia Clarkson, Kevin Dunn, Julio Perillán, Juan Queseda, Ricard Salom, Maurice Sonnenberg, Manel Barceló, Josep Maria Domènech, Emilio de Benito, Jaume Montané, Lloll Bertran, Joel Joan, Silvia Sabaté, Pablo Schreiber, Carrie Preston, Zak Orth, Abel Folk

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