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Gay Nerd | Casamento homoafetivo e a cultura pop

O papel do entretenimento no debate do casamento igualitário

14.07.2015, às 18H54.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 17H00

A batalha pelo casamento de casais do mesmo sexo ganhou um novo marco no dia 26 de junho quando a Suprema Corte dos Estados Unidos reconheceu, em todos os estados do país, que esses casais possuem os mesmos direitos civis de casais heterossexuais. Simplificando, por lá agora todo mundo tem o direito de casar perante a lei. No Brasil, o casamento civil homoafetivo já é permitido desde 2011 numa medida aprovada pelo Supremo Tribunal Federal que obriga cartórios de todo o país a oficializar a união. Entretanto, a aprovação por aqui não ganhou tanto destaque na mídia quanto a dos EUA, muito menos nas redes sociais. O cenário era outro, o Facebook não era forte como hoje e o Brasil tem bem menos potencial de espetáculo do que a terra do Tio Sam.

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A máxima é bem simples: tudo nos EUA vira espetáculo, em alguns casos de forma positiva. Neste caso o estardalhaço é importante para, como disse na coluna anterior, nos dar representatividade e, além disso, mostrar que o mundo está se tornando um lugar mais humano, mais amável e igualitário. No cenário de espetáculo de um Facebook multicolorido, qual o papel da cultura pop na disseminação dos direitos LGBTI e na constatação de que casais homoafetivos são como outros casais?

Exemplos maravilhosos não faltam, começando por Modern Family que trouxe para sua narrativa Cameron (Eric Stonestreet) e Mitchell (Jesse Taylor Ferguson), um casal numa relação estável de longa data vivendo as aventuras de criar uma filha e manter uma família em tempos modernos. Entre uma risada e outra há um compromisso com a verdade do casal, incluindo absurdos como conflitos com casais lésbicos. Outra pérola é o casal Michael (Hal Sparks) e Ben (Robert Grant), de Queer as Folk, que ao representar um casal soro discordante (um tem HIV e o outro não) concretizam o matrimônio no Canadá e adotam dois filhos.

Também tivemos David (Michael C. Hall) e Keith (Matthew St. Patrick) em A Sete Palmos, com duas crianças adotadas; Kevin (Matthew Rhys) e Scotty (Luke Macfarlane), em Brothers and Sisters, protagonizando o primeiro casamento de personagens principais; Callie (Sara Ramirez) e Arizona (Jessica Capshaw) em Grey's Anatomy; e Bette (Jennifer Beals) e Tina (Laurel Holloman) em The L World. Além desses, temos muitos outros casais em Desperate Housewives, Glee, Orange is the New Black, Looking, Sense8 e True Blood, só para citar algumas das séries que acompanhei. Todas elas tomam o cuidado de colocar os LGBTI numa posição de igualdade com heterossexuais, tanto em conflitos existenciais quanto diante dos problemas criados pela sociedade.

A questão do casamento homoafetivo também esteve presente no mundo dos quadrinhos com a união do Estrela Polar e seu namorado Kyle em Surpreendentes X-Men. A cerimônia, para horror dos invejosos, foi celebrada em pleno Central Park. Ryqueza! Na editora concorrente, Batwoman pediu em casamento sua companheira de longa data. Puro amor, mas grandes momentos como estes na cultura pop não vêm sem uma pitada de polêmica e burburinho, como qualquer coisa relacionada aos direitos LGBTI. De qualquer forma, o importante é que a questão foi abordada e colocada em pauta.

Embora o casamento igualitário esteja presente aqui e ali no mundo do entretenimento, pouco se fala sobre a importância jurídica da união. A questão é que um casal heterossexual com união civil possui direitos antes não garantidos a casais homossexuais. Por exemplo: não podíamos ser inclusos no plano de saúde dx parceirx, alterar o estado civil, participar da divisão de bens e nem ter direito na herança do cônjuge. Hoje isso já é possível no Brasil e nos EUA. Apesar disso, não é incomum encontrar casos em que não há união civil, mas um relacionamento estável de anos (sem registro ou documentação) e, na ocasião da morte de um dos parceiros, a família impede que o outro acesse seus direitos. A união civil é importante não só para representar o amor entre duas pessoas, mas para que direitos sejam garantidos.

O direito ao casamento é um direito do cidadão, afinal a lei pode e deve permitir que pessoas livres casem com quem desejam, independente de sexualidade ou condição sexual. O que aconteceu nos EUA é um marco para algo que vem acontecendo aos poucos ao redor do mundo: o status de união civil para todxs. Quando somos iguais, não precisamos mais falar de 'casamento gay' ou 'casamento homoafetivo', mas simplesmente 'casamento'. Direitos iguais para todxs. Amor livre para todxs.

Por fim, é ótimo que um país como os EUA, o lar dos espetáculos, coloque uma questão de extrema importância para as minorias em discussão no mainstream, disseminando a boa nova pelo mundo. Tenho certeza de que a luta pelos direitos LGBTI continuará na vida real e na cultura pop e só tende a crescer, afinal nunca antes tivemos um cenário tão rico e humano para lutar (apesar das perdas). A união civil é só uma das vitórias de uma longa batalha protagonizada por gerações anteriores. O bastão está em nossas mãos e é nosso dever lutar por mais lugares ao sol e mais personagens LGBTI em quadrinhos, séries, games e filmes. Não é, Marvel?

Por hoje é só! Um bayjo e um quayjo.

Adotamos a sigla LGBTI por ser a mais completa para se referir à diversidade de gênero e identidade sexual nos dias atuais. O T se refere a "TRANS" (travestis, transexuais e transgêneros) e o I a "Intersexual", pessoas com características de ambos os sexos e que podem se reconhecer como homem ou mulher, independente das características físicas. Esta definição é contribuição do leitor Vinícius.

*Gay Nerd é uma coluna quinzenal que mistura nerdices aos temas LGBTI


Isaque Criscuolo é editor do Imerso, nerd, adora um lipsync e acredita que menos é mais

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