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Não dá para dizer que são filmes revolucionários, que mudaram a sétima arte, e que nós fomos prejudicados pela falta de audácia de alguém que decidiu não arriscar seu bônus de fim de ano. Quem mais se aproxima desta revolução é Borat, e este chegou inteiro aos nossos cinemas falando alto e fazendo rir mais alto ainda. A fama do jornalista cazaque, aliás, impulsionou o nome de Sacha Baron Cohen, que apesar de fazer um personagem menor em Ricky Bobby ganhou destaque até mesmo no release que chega à imprensa.
No filme, o comediante britânico interpreta Jean Girard, um piloto francês de Fórmula 1 que é gay e viaja aos Estados Unidos para desafiar o atual campeão da Nascar, Ricky Bobby (Will Ferrell). Dizer que as batidas espetaculares em circuitos ovais da mais popular categoria do automobilismo americano tem tantos fãs por aqui quanto o campeonato de hóquei no gelo não me parece um exagero. Mas reduzir Ricky Bobby a "filme de corrida" é um tremendo engano. A comédia esconde uma divertida crítica aos próprios estadunidenses, que julgam o resto do mundo um bando de "losers", ou "perdedores" no bom português.
Ricky Bobby carrega desde pequeno o lema "Se você não é o primeiro, você é o último", síntese da gana americana por vitórias, mas também da sua arrogância e (por que não dizer?) ignorância. Quando está por cima, ganhando todas as corridas e todos os contratos publicitários, Ricky fala o que quer para quem quer. Age como o dono da rua. Dá até para afirmar que se fosse, digamos, presidente em vez de piloto, ele trataria de invadir qualquer país que se opusesse aos seus pensamentos. Sentiu a ironia?
Quando o francês, que lê Camus enquanto pilota, chega para ejetá-lo do alto do pódio sua vida começa a ruir. Um terrível acidente o tira das pistas e ainda cria um enorme trauma que ele terá que combater. Seu melhor amigo, Cal Naughton Jr. (John C. Reilly), que sempre ficou em segundo lugar, finalmente sai da sombra e enfrenta Ricky, que também encontra problemas em sua própria casa.
Falta ainda ao diretor Adam McKay (o mesmo de O Âncora) aprender a manter o ritmo em um longa-metragem. Talvez acostumado com as gags rápidas da televisão, onde trabalhou no mesmo Saturday Night Live que mostrou Ferrell ao público, ele estende demais algumas seqüências, esgotando a graça da situação. E qualquer um sabe que na comédia, o timming é imprescindível. Nada que estrague o filme, mas que uma pisadinha no acelerador tornaria a corrida mais agradável, não há dúvida.
O DVD
A versão que chega aqui ao DVD é maior que a exibida nos cinemas mundo afora. São 122 minutos, contra os 108 originais. Mas não se empolgue muito com o "Sem Censura" na embalagem. O mais explícito que você verá é um beijo entre Will Ferrell e Sacha Baron Cohen.
Os extras garantem mais uma horinha sentado na frente da televisão. Além das cenas excluídas e estendidas, há também erros de gravação, testes de elenco com Leslie Bibb e um de seus filhos no filme. Entre os featurettes, há um que mostra Will Ferrell voltando à Talladega e outro com o diário de Adam McKay, no estilo que muitos diretores vêm fazendo hoje e colocando na Internet para promover seus projetos. O mais divertido dos extras reúne os atores, ainda em seus papéis, dando entrevistas. Se McKay tivesse o bom senso de transformar os excessos do filme em mais extras como este, talvez Ricky Bobby tivesse dado umas voltas pelos nossos cinemas.