Gerard Butler em cena de Alerta Máximo (Reprodução)

Créditos da imagem: Gerard Butler em cena de Alerta Máximo (Reprodução)

Filmes

Crítica

Alerta Máximo supera estigma do filme de ação B com ótimas ideias visuais

Jean-François Richet faz um dos thrillers mais tensos e interessantes dos últimos anos

Omelete
4 min de leitura
27.02.2023, às 14H34.
Atualizada em 27.02.2023, ÀS 14H50

A carreira de Gerard Butler revela, em muitos sentidos, a trajetória infeliz do cinemão americano nas últimas décadas. Galã de comédias românticas e astro de blockbusters de ação de primeira grandeza durante os anos 2000, o ator escocês - talvez por se levar menos a sério do que os estúdios acham que ele deveria - nunca foi absorvido por franquias gigantescas e nem fez o pulo para produções de prestígio acadêmico. Ao invés disso, Butler ficou mais de uma década transitando em um meio termo desconfortável que só agora começa a gerar dividendos.

Como ficou claro com o improvável sucesso da franquia Invasão, por exemplo, ele é um nome e um rosto bancável para um público específico, mais velho e menos cínico do que aquele que enche os multiplexes para assistir a seres super poderosos enfileirando piadas enquanto despacham o exército inimigo da vez. Esse público, no entanto, não comanda os bilhões de dólares de bilheteria que os blockbusters contemporâneos exigem. Desta forma, Butler ficou preso por muitos anos em produções de orçamento médio-baixo, dirigidas de maneira protocolar e escritas calculadamente (e, até por isso, pobremente) para agradar a um público conservador que se sentiu excluído pelo progressismo oportunista dos grandes estúdios de Hollywood.

É difícil apontar exatamente quando essa trajetória começou a mudar, mas Alerta Máximo é certamente um marco nesse sentido. Sucesso de bilheteria e crítica principalmente (mas não exclusivamente) nos EUA, o longa já foi aprovado para uma continuação e pode virar símbolo de um despertar de consciência: é através dele que boa parte do público poderá perceber que as melhores ideias do cinema de ação americano, hoje em dia, não estão nas produções do Marvel Studios, mas sim refugiadas em filmes originais de médio porte.

Os motivos dessa passagem de bastão, por outro lado, não são segredo nenhum. Termos como “desgaste” e “fadiga” viraram figurinhas carimbadas em discussões sobre grandes franquias, preocupadas com sua longevidade caso o ritmo dos lançamentos e o processo de padronização estético-narrativa não sejam freados. Em um cenário de enfraquecimento da ordem vigente, nasce sempre no público a nostalgia pela forma como as coisas eram feitas antes - junte isso à ostracização de determinados tipos de diretores pelos grandes estúdios, obrigando-os a se concentrarem nessa via alternativa de produção, e você tem o coquetel perfeito para o sucesso: um público faminto por algo que um artista está plenamente disposto e habilitado a prover.

É aí que entra em cena Jean-François Richet. O francês é o tipo de talento estrangeiro que Hollywood absorveria sem pensar duas vezes em décadas passadas, especialmente tendo em vista o sucesso da sua duologia criminal Inimigo Público Nº 1 (2008), mas o cinemão americano atual tem pouco espaço para os épicos de ação visualmente sofisticados, predicados na manutenção de uma tensão quase insuportável, que Richet está interessado em fazer. Marvel e Star Wars pouco têm a ganhar, em sua busca obstinada por fidelização de público, com esse tipo de direção - em compensação, para filmes do porte e das ambições de Alerta Máximo, é um trabalho vital.

Acima de tudo, Richet se nega obstinadamente a ceder aos chavões fáceis da criação de tensão: nada de câmera na mão o tempo todo, nada de filtros de imagem granulados, nada de enquadramentos claustrofóbicos. Alerta Máximo é filmado com elegância, e está sempre buscando o contraste imagético, seja ao mostrar Mike Colter escondido por entre as folhas em verde vívido de uma floresta ou ao gravar Gerard Butler agachado na escada de desembarque do avião, um monstro tão grandioso quanto King Kong ou Godzilla quando registrado de ângulos glorificadores pela câmera do diretor de fotografia Brendan Galvin.

É claro que Alerta Máximo repete clichês duvidosos do filme de ação B, especialmente a exotização do vilão estrangeiro, mas o roteiro de Charles Cumming e J.P. Davis encontra maneiras espertas de contornar ou suavizar essas beiradas mais ásperas do subgênero em que se meteram. Leia-se: o protagonista ganha um copiloto asiático cuja desenvoltura e competência salva a pele dos passageiros mais de uma vez, e o próprio personagem de Butler é caracterizado como herói muito mais nos termos de suas qualidades empáticas de liderança do que de sua habilidade física de brutamontes.

Essas ginásticas retóricas que tornam o filme mais digerível, no entanto, são o que menos importa. Alerta Máximo funciona por sua qualidade cênica e por sua determinação em manter o charme simples e direto de um bom thriller de ação original, tão preterido pelos grandes estúdios de Hollywood que se transformou, de produto descartável na prateleira das locadoras, em artigo de luxo nas salas de cinema.

Nota do Crítico
Ótimo
Alerta Máximo
Plane
Alerta Máximo
Plane

Ano: 2023

País: Estados Unidos

Classificação: 14 anos

Duração: 107 min

Direção: Jean-François Richet

Roteiro: J.P. Davis, Charles Cumming

Elenco: Mike Colter, Tony Goldwyn, Daniella Pineda, Paul Ben-Victor, Gerard Butler

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