Cena de Clonaram Tyrone! (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Clonaram Tyrone! (Reprodução)

Filmes

Crítica

Clonaram Tyrone! compensa estética inconsistente com texto e elenco afiados

Juel Taylor conta história brilhante que faz valer imitação fraca do blaxploitation

Omelete
3 min de leitura
24.07.2023, às 14H09.

O trabalho do diretor de fotografia Ken Seng é emblemático da trucagem na qual Clonaram Tyrone! apoia sua construção estética. Responsável por filmes como Deadpool e O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, Seng recebeu a missão de emular o movimento blaxploitation dos anos 1970 e decidiu que a chave para isso era simplesmente passar a imagem captada na sua câmera digital por um filtro que adicionasse a ela a granulação e as “falhas” típicas da fotografia em filme analógico. 

O resultado, como você deve ter adivinhado, é um filme que se parece com qualquer outro blockbuster hollywoodiano atual - completo com a iluminação insuficiente e cores desbotadas que isso implica -, mas com a adição irritante de uma camada de aspereza tão autêntica quanto um efeito de Instagram. O problema é que Seng parece entender o movimento estético-narrativo que precisa replicar em termos tão redutivos quanto qualquer estereótipo racista: o blaxploitation de Clonaram Tyrone! tem toda a brutalidade dos filmes que mostraram “o mundo real” dos americanos negros para o público, e nada da exuberância que fez cada um deles se tornarem clássicos atemporais.

A sorte do novo filme da Netflix é que o roteiro de Juel Taylor e Tony Rettenmaier (dupla de Space Jam: Um Novo Legado) não compartilha a preguiça do trabalho estético em torno dele. Assim, de cara, não há muita complicação na trama: os três protagonistas são o traficante Fontaine (John Boyega), o cafetão Slick Charles (Jamie Foxx), e a prostituta Yo-Yo (Teyonah Parris). Todos vivem no mesmo bairro de periferia de uma cidade não especificada no Sul dos EUA, e por uma série de coincidências macabras acabam investigando juntos uma conspiração governamental envolvendo clonagem e controle mental.

O brilhantismo do texto de Clonaram Tyrone! está mesmo nos detalhes, especialmente na forma como Taylor e Rettenmaier resgatam referências culturais da negritude estadunidense e as transformam na linha com a qual o seu mistério é costurado. É desse processo que o filme tira os momentos mais sutis de sua sátira, bancando uma ousada ambiguidade moral na forma como retrata hábitos musicais, religiosos, culinários e estéticos estereotipados da comunidade que aborda. Este é um filme que reconhece a cultura popular como método de controle social ao mesmo tempo que identifica e celebra os elementos subversivos e libertadores dela.

Outro acerto é a escalação do trio principal. Teyonah Parris entrega um trabalho notavelmente íntegro como Yo-Yo, construindo um mundo intelectual e emocional rico (e único) para a personagem sem abrir mão da caricatura de suas trocas cômicas com Jamie Foxx. Ele, enquanto isso, cumpre a demanda oposta com igual eficiência: a ideia com o seu Slick Charles é encontrar momentos de claridade narrativa por baixo dos improvisos e excentricidades que formam boa parte de seu tempo de tela. Juntos, eles se provam potentes o bastante para carregar até os momentos em que a tentativa de humor ultrajante dos diálogos passa mais perto de irritar do que de fazer rir.

No coração da história, no entanto, está um John Boyega em atuação profundamente dedicada, que desde os primeiros segundos de tela sublinha com excelência os dilemas reprimidos e vazios existenciais típicos da masculinidade. Se Parris e Foxx preenchem o filme de barulho, e se encontram no meio dele, o triunfo de Boyega está nos silêncios - tanto que, mesmo diante do marasmo visual de Clonaram Tyrone!, as emoções contraditórias impressas no rosto do ator de Star Wars por vezes são mais do que o bastante para criar entretenimento de primeira.

Nota do Crítico
Bom
Clonaram Tyrone!
They Cloned Tyrone
Clonaram Tyrone!
They Cloned Tyrone

Ano: 2023

País: EUA

Duração: 122 min

Direção: Juel Taylor

Roteiro: Tony Rettenmaier, Juel Taylor

Elenco: Teyonah Parris, Kiefer Sutherland, John Boyega, David Alan Grier, Jamie Foxx

Onde assistir:
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