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Crítica

Crítica: No Princípio

História baseada em fatos dá uma segunda chance para o ideal social-democrata francês

28.09.2010, às 17H51.
Atualizada em 09.04.2017, ÀS 08H02

"No princípio havia os besouros", começa explicando Paul (François Cluzet) quando o seu golpe é finalmente descoberto. Mas antes dos besouros ainda tinha mais.

O protagonista de No Princípio (À L'Origine, 2009) ganha a vida fingindo ser representante da multinacional de construção CGI, retirando maquinário com autorização falsa em depósitos pela França e revendendo no mercado negro. O mapa em que o cinquentão Paul marca os locais onde agiu já está cheio. O fato de preocupar-se mais em passar a ferro as suas notas de euro do que em se despir para dormir evidencia a sua condição.

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Estrada afora, um dia, Paul chega numa vila onde teoricamente deveria existir um escritório da CGI. Encontra abandonada a obra de um trecho de rodovia. O lacre no portão diz que o projeto foi parado e o escritório desmontado porque o solo da região sofre com besouros. No centro da vila, quando se apresenta como funcionário da empresa, como sempre, Paul de repente é recebido com tensão. Todo mundo ali quer saber que rumo a CGI tomará com a obra; empregos dependem disso.

Está montada então no filme do roteirista e diretor Xavier Giannoli a oportunidade para aqueles falsários em fim de carreira que desejam se endireitar. Paul não sabe ainda que está entrando num arco de redenção, mas para o espectador fica evidente logo: a vila é o clássico depositório de tipos negligenciados pelo Estado. Tem o operário desempregado com família para criar, a adolescente que engravida, o moleque que comete furtos porque não tem perspectiva de vida, a prefeita viúva cheia de boas intenções.

Giannoli pega emprestado esse mote básico do cinema dos EUA, o das segundas chances ("um brinde às segundas chances!", diz a prefeita a certa altura), para criticar "tudo isso que está aí" na França dos dias atuais. É evidente desde o começo que o alvo são o governo omisso e as grandes indústrias de mudança para os BRICs. Seria até estranho se Giannoli ignorasse a tradição social-democrata francesa e não fizesse um filme sobre as pessoas puras e desassistidas do campo.

Nesse cenário, em que tudo em No Princípio ganha forma de discurso e o ex-canalha Paul se reencontra na terceira via de um liberalismo solidário, Giannoli vai do cafona (os rostos nas folhas de currículo, o bailarino na coreografia com a escavadeira, a bandeira no final), passando pelo ato falho (o único operário que ataca Paul tinha que ser justo o imigrante?), até alguns momentos sublimes (a sombra de Paul projetada na terra que desliza). É o tipo de filme hiperdramatizado, com fotografia de impacto, que ecoa forte com o público carente de boas notícias. Se for baseada em história real, como No Princípio, então melhor ainda.

Nota do Crítico
Bom
No Princípio
À L'Origine
No Princípio
À L'Origine

Ano: 2009

País: França

Classificação: 14 anos

Duração: 130 min

Direção: Xavier Giannoli

Roteiro: Xavier Giannoli

Elenco: François Cluzet, Emmanuelle Devos, Gérard Depardieu, Soko, Vincent Rottiers, Brice Fournier

Onde assistir:
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