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A discussão sobre os fatores e situações que podem levar as pessoas a comportamentos extremados é o tema de A experiência (Das experiment, 2002), longa-metragem de estréia do diretor Oliver Hirschbiegel no cinema.
Nesta produção alemã, um grupo de vinte voluntários é atraído para uma experiência através de um anúncio de jornal. Cada um receberá 2 mil dólares e seu papel na investigação científica é relativamente simples. Durante 15 dias, oito deles serão guardas de uma prisão simulada, enquanto os doze restantes serão detentos do local.
A experiência é baseado no romance Black Box, de Mario Giordano (que também assina o roteiro). Por sua vez, o livro tem como origem um incidente acontecido na prestigiada universidade norte-americana de Stanford em 1971. Foi lá que um grupo de pesquisadores teve de cancelar, depois de apenas 6 dias, uma experiência idêntica na qual estudantes se passaram por guardas e prisioneiros. O motivo foram os intensos efeitos psicológicos que a pesquisa teve tantos nas cobaias quanto nos cientistas. A versão ficcional de Hirschbiegel extrapola o assunto, com a proposta de verificar o que aconteceria se o processo não fosse cancelado antes de começar a dar errado.
No filme, um taxista chamado Tarek Fahd (Moritz Bleibtreu, de Corra Lola corra) resolve responder ao misterioso anúncio, com o intuito de transformar a sua participação num artigo jornalístico. Tarek e seus 19 companheiros, todos normalíssimos cidadãos, são divididos aleatoriamente entre guardas e prisioneiros. Os oficiais vestem-se com impecáveis uniformes, enquanto os encarcerados dispõe apenas de uma túnica rústica, que parece um vestido, e pantufas. Identificados apenas por números, têm que seguir apenas algumas regras básicas, como tratar seus cacereiros por Sr. Guarda Penitenciário e comer toda a comida do prato. Se falharem em algumas dessas regras, terão que submeter-se aos castigos dos oficiais que, por imposição dos responsáveis pela experiência, não podem ser violentos.
Assim como acontece nos reality shows como Big Brother, a dinâmica entre os participantes começa a se estabelecer logo nos primeiros dias. No início do convívio, sobram brincadeiras, festinhas e a felicidade pelo cheque no final. Em menos de 72 horas, porém, inimigos mortais já estão formados. Não tarda também para que a moderna instalação carcerária comece a parecer o nosso extinto Carandiru e que o líder dos guardas comece a parecer-se com um certo ditador alemão que tentou conquistar o mundo.
Com uma boa trilha sonora, cenografia convincente - a prisão subterrânea foi contruída sob uma antiga fábrica de tubos -, e filmagens que alternam câmeras de vídeo, película e digitais, Das Experiment é uma ótima exploração das origens do autoritarismo, sem cair em discussões intelectuais ou científicas. Pelo contrário, a ação predomina em boa parte da fita e explode no final, em chocantes momentos de violência.