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Meu Amor de Verão | Crítica

Meu Amor de Verão

11.05.2006, às 00H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 16H00

Meu Amor de Verão
My Summer of Love
Inglaterra, 2004
Drama - 86 min

Direção: Pawel Pawlikowski
Roteiro: Pawel Pawlikowski e Michael Wynne, baseado em livro de Helen Cross

Elenco: Nathalie Press, Emily Blunt, Paddy Considine, Dean Andrews, Michelle Byrne, Paul Antony-Barber, Lynette Edwards, Kathryn Sumner

Homossexualidade é um fenômeno genético ou social? Os defensores da segunda opção - aqueles que acham que uma pessoa não nasce gay, mas torna-se gay - têm no drama Meu amor de verão (My summer of love, 2004) um provável aliado. As relações de causa e efeito no filme do polonês Pawel Pawlikowski são mais do que óbvias.

Mona (Nathalie Press) leva a difícil vida da classe operária numa cidadezinha soporífera de Yorkshire, costa do Reino Unido. Perdeu os pais. Sofre na mão de um homem casado que só quer transar com ela. E precisa viver com o irmão, Phil (Paddy Considine, de Terra de sonhos), ex-presidiário, recém-convertido à palavra divina, num pub transformado em templo de oração. Do outro lado, a bela e aborrecida Tamsin (Emily Blunt) está só de passagem. A cidade é o refúgio de verão de sua família endinheirada. A menina ignorada na imensidão da mansão, chorando a perda da irmã que todos adoravam, enquanto o pai se encontra com sua amante às escondidas.

Quando as duas se encontram, não é difícil antever que uma servirá de ombro amigo para a outra - os homens não são dignos de nota e só as mulheres se entendem, ainda mais quando a influência materna é ausente, são essas as mensagens que não levam nem quinze minutos para se impor. E é verão, entre drinques e banhos de sol Mona e Tamsin logo ficam mais do que amigas.

O lesbianismo de Meu amor de verão - filme baseado no primeiro romance da inglesa Helen Cross, publicado em 2001 - tem muito mais de válvula de escape social do que de pulsão. Como arma de transgressão, serve a propósitos variados, desde ridicularizar a neo-crença de Phil até vingar a honra de amantes e filhas humilhadas. Nesse ponto, lembra bastante Almas gêmeas (Heavenly creatures, de Peter Jackson, 1994), ainda que não tão limítrofe. O livro de Helen é muito mais engajado nesse sentido; Pawlikowski elimina muita coisa na adaptação para fazer a história caber em 86 minutos.

Mas isso não significa que variantes viscerais como desejo, submissão e poder estejam excluídas da equação. Pelo contrário, são elas que, subliminarmente, alimentam as ações de Mona e Tamsin. Logo na primeira cena em que as duas se encontram há o simbolismo-chave: Mona, estirada no campo, assiste contra o sol à chegada da outra num cavalo branco. Depois as diferenças se acentuam. A garota pobre local prova os vestidos que a nova amiga turista não usa mais. Esta apresenta a Mona seus discos de Edith Piaf e algumas idéias de Nietzsche. É evidente que constrói-se ali uma relação de dominação.

Não é necessário o falo, o membro, para que uma relação homossexual se transforme nessa medição de forças. E o que Meu amor de verão tem de mais interessante - isto é, o que tem de mais nebuloso e complexo em meio a causas-consequências triviais - é esse embate que Tamsin e Mona travam mais ou menos sem saber. A nervosa câmera na mão de Pawlikowski intensifica o conflito. Como efeito colateral, freqüentemente o diretor pega pesado demais na medida, como se tentasse tirar, com close-ups permanentes, mais significados dos rostos das atrizes do que elas são capazes de fornecer.

Entre prós e contras, o filme fica no zero-a-zero. Sua aceitação no cinema dependerá muito da tolerância do espectador aos maneirismos de Pawlikowski. Dependerá, também, de seu interesse e suas reflexões acerca do tema central.

Nota do Crítico
Regular
Meu Amor de Verão
My Summer of Love
Meu Amor de Verão
My Summer of Love

Ano: 2004

País: Inglaterra

Classificação: 16 anos

Duração: 86 min

Onde assistir:
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