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Meu Nome é Dindi

Primeiro longa de Bruno Safadi revela talento atento à construção de um cinema de imagens

06.11.2008, às 15H00.
Atualizada em 19.11.2016, ÀS 04H15

Marcão (Gustavo Falcão) sempre quis perguntar: de onde veio mesmo esse nome? Dindi (Djin Sganzerla) responde que foi uma brincadeira da mãe. No dia do parto, ficavam tocando um disco de Tom Jobim atrás do outro, e a música que caísse na hora H forneceria o nome do bebê. A protagonista de Meu Nome é Dindi (2007) parece aliviada. Poderia ter se chamado Corcovado, por exemplo.

A referência lúdica à Bossa Nova em particular, a uma imagem nostálgica do Rio de Janeiro de modo geral, é elemento central do longa-metragem de estréia do roteirista e diretor Bruno Safadi. É na praia nas primeiras horas da manhã, banhada pelo sol ainda gentil, com a câmera sempre seguindo seu rosto de princesa de fábulas, que Dindi fala do passado de forma tão enamorada. Um tempo que parece existir e resistir só em sonhos.

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Dindi, coitada, não conseguiu acompanhar o tempo. Tenta manter de pé a quitanda da família, cheia de dívidas, enquanto o supermercado da vizinhança rouba-lhe toda a clientela. Desde o primeiro minuto de Meu Nome é Dindi, a câmera não desgrudava do rosto da atriz. A primeira vez que a deixa de lado é para mostrar o resto da quitanda em ligeiro plano-sequência: fotos da família na parede ao lado de uma pintura desbotada da paisagem carioca. O que ajuda também o clima passadista são as velas, já que cortaram a luz da quitanda por falta de pagamento.

Falando assim, talvez pareça que Meu Nome é Dindi é um lamento por um Rio que não volta mais. Não é tão simples. O misto de sonho e realidade filmado por Safadi também trata da carga histórica nos ombros de Dindi - o passado pode ser uma lembrança morna, mas também uma insistente assombração. Não por acaso, a certa altura de sonho tão real (ou seria realidade sonhada?), Dindi se vê perseguida pelo palhaço Alegria. Que obrigação de ser feliz - de ser uma carioca nostálgica feliz, para ser mais exato - é essa que tanto a persegue?

Todas essas perguntas não são formuladas pela dramaturgia mínima contida em Meu Nome é Dindi, mas pela imagem. É por um cinema que se constrói com signos visuais, enfim, que Bruno Safadi está advogando aqui. Um cinema que imediatamente remete a dois nomes essenciais da cinematografia brasileira - Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, pai de Djin. De novo, não por acaso, nomes de quem Safadi, então estudante de cinema na Universidade Federal Fluminense, se aproximou, depois de organizar uma mostra sobre os dois.

Safadi acabou fazendo assistência de direção para Bressane em Filme de Amor (2003) e Cleópatra (2007) antes de se aventurar nos longas. Pelo que se vê em Meu Nome é Dindi, a experiência foi muito bem assimilada. O resultado não é um cinema fácil de assistir para quem está habituado ao modelo didático-narrativo, mas, em contrapartida, é altamente recompensador para quem busca cineastas interessados não somente em filmar roteiros, mas em construir imagens.

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