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Proibido Proibir

Triângulo amoroso com fundo político, em um Rio de Janeiro de verdade

26.04.2007, às 15H30.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 00H06

Reclamam dos estereótipos que Hollywood reproduz sobre o Brasil, mas toda novela das oito termina com aquela panorâmica do Cristo Redentor, do Pão de Açúcar, da orla, uma bossa ao fundo... Sintetizando Proibido Proibir em uma idéia: o filme de Jorge Durán filma a beleza do Rio de Janeiro como ela é, como a Globo replica, mas não exclui da paisagem o mar de favelas que sobe os morros.

Não é de imediato que a cidade se revela - quem é de fora, por exemplo, tem dificuldade em identificar de cara as linhas de trens que cortam a Zona Norte, a Igreja da Penha, os corredores da Universidade Federal. O filme abre com Paulo (Caio Blat), estudante de medicina, tomando um ecstasy antes de entrar na aula. Leon (Alexandre Rodrigues) cursa Ciências Sociais, se interessa por trabalho comunitário. Os dois dividem uma casa modesta. Não vai demorar até que dividam também a atenção de Letícia (Maria Flor), estudante de arquitetura e namorada de Leon.

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O triângulo amoroso é o fio condutor de uma história com fundo sociopolítico. Convém não confundir discurso com retórica. Falando em língua de fila de cinema: Proibido Proibir não é aquele tipo de filme esquerdista chato que parece estar monologando numa passeata. O drama humano se impõe, com humor frequentemente, com poesia, em um retrato naturalista do fim da adolescência que deve casar em cheio com as preocupações e os anseios do público-alvo, os jovens.

Há uma discussão tipicamente universitária no fim do primeiro terço de filme, quando Letícia diz que toda arte é política, ainda que às vezes, por se assumir política, se torne panfletária. Roteirista de obras engajadas como Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (1977), Pixote, a lei do mais fraco (1981) e Como nascem os anjos (1996), o chileno Durán, radicado no Brasil desde 1973, conhece bem esses limites. Proibido Proibir é o seu primeiro longa como diretor em duas décadas - e o esforço maior que ele faz é de manter o discurso o mais afastado possível do panfletarismo.

O lema de Paulo, "proibido proibir", repetido toda vez que ele acende um baseado na frente de Leon, é em si um manifesto político. A decisão de escalar Alexandre Rodrigues para o papel é outro. Evidentemente, você lembra dele como o Buscapé de Cidade de Deus, e colocá-lo em outro filme sobre a realidade carioca, mas que não tira a relação morro-asfalto de contexto, é também uma tomada de posição. Há ideologia em toda imagem de Proibido Proibir: na passagem insistente do trem, na cena em que Paulo chora à beira da poluída Lagoa, nos planos gerais dos precários prédios modernistas. A certa altura a câmera pega o Cristo Redentor - é a hora em que se tem certeza de que estamos no Rio - e, sem cortes, desvia para a favela. Difícil ficar mais político do que isso.

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