A primeira impressão ao se jogar Bayonetta é a de que estamos diante do game mais insano já realizado. Basta observar qualquer um dos vídeos do jogo para entender isso: imagens em altíssima velocidade, borrões e pirotecnicas explodindo na tela. Fica difícil para quem está de fora acompanhar o que está acontecendo.

Por trás do frenesi visual, porém, há uma certa genialidade no título de Xbox 360 e Playstation 3. É como se todo o subgênero de games de ação que Hideki Kamiya inaugurou com a série Devil May Cry fosse cuidadosamente refinado, com Bayonetta como um improvável pináculo - um dos jogos mais velozes e estratégicos já realizados, um produto em que o combate é isento de gorduras, em que cada movimento serve à pancadaria e à sua função maior, o entretenimento.

Bayonetta

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Na surtada aventura, praticamente qualquer combinação de botões gera combos fulminantes e pirotecnia. Há armas em cada mão e cada pé (!) da heroína, sem esquecer suas habilidades em manipular forças mágicas para golpes climáticos, câmeras lentas, transformações animais e execuções brutais, que incluem um dragão criado a partir das roupas da protagonista, que fica nua e fazendo pose de pin-up quando ele surge!

Isso não significa, porém, que seja possível dar uma de louco e sair massacrando botões. Cada um dos inimigos exige sua própria abordagem e todas elas requerem velocidade na execução. Para praticar movimentos, as telas de carregamento trazem uma lista de combos e você pode tentar encontrar novos, destravar alguns ou simplesmente melhorar seu repertório. Dá até para travar o loading e simplesmente ficar ali, em uma dimensão vazia, treinando. Bom, isso pelo menos no modo "normal"... dizem que o Very Easy dá pra "jogar com uma mão só" (entenda como queira).

Mas se a movimentação é perfeita, na contramão do que os bons jogos do gênero (como Bioshock) estão fazendo - integrando a história à jogabilidade -, Bayonetta pega o caminho tradicional de intercalar cada evento de combate com longas pausas para assistir a vídeos que narram a trama. Por um lado, a opção é boa para descansar, mas por outro, esses momentos são extremamente tediosos e irritantes, especialmente porque Kamiya está mais afetado que nunca aqui.

Na péssima história, Bayonetta é a última remanescente de um clã de bruxas. Amnésica, sai em busca de respostas enquanto hordas celestiais tentam pará-la. Há um interesse romântico sem-graça, piadinhas saídas de animês e mangás, muita sensualidade exagerada e diálogos vergonhosos. Até em seu design a personagem principal exala irreverência. Ela tem corpo de Barbie totalmente desproporcional e se move ora feito uma supermodelo, ora como uma artista marcial ou espécie de criatura. Ao menos o game nunca se leva a sério, mas a duração de algumas das sequências animadas beira o insuportável. Na quinta pose com a bunda arrebitada, piscadinha e chupada no pirulito, você não vê a hora de arrebentar um novo oponente gigante. Uma solução boa teria sido dar aos jogadores um pouco mais de exploração, itens escondidos e quebra-cabeças para resolver.

Além do combate, os inimigos e design de fases - lineares - são outros trunfos do game. A princípio parecem todos iguais e repetitivos, mas não tarda para que inventivos chefes-de-fase comecem a aparecer. E alguns parecem decorações barrocas que criaram vida. Sinceramente, nunca imaginei que um dia enfrentaria o rococó encarnado.

Embale tudo isso em uma trilha sonora que mistura jazz e J-Pop meloso (a versão do game para "Fly Me To the Moon" gera ao mesmo tempo ojeriza e prazer) e você começará a entender a mistura irritante, mas altamente viciante, que é Bayonetta.

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Nota do crítico