Bendis justifica que, sim, a mudança teve a ver com marketing, mas que a história vinha em primeiro lugar. Tanto que revelou que havia planos para Peter Parker morrer durante a saga Ultimatum, mas que ele justificou a Joe Quesada, diretor criativo e na época editor-chefe da Marvel, que ainda tinha histórias para contar com Peter. Mas reforça constantemente que "não há nada de errado" na decisão.
"Sei que tem gente que acha que isso foi 'armado' ou coisa do tipo. A história vem primeiro. E se a história vem primeiro, e depois vem o marketing, e acontece de acertarmos um dia fraco de notícias onde não tem nenhum maluco fazendo maluquice para conseguir mídia, não estamos fazendo nada de errado, principalmente se for com um gibi lindo no qual você acredita - e por 'lindo' estou me referindo aos desenhos da Sara Pichelli, não estou falando de mim. É uma HQ belíssima, e temos muito orgulho dela, e não tem nada de errado em querer que as pessoas prestem atenção, em fazer as pessoas entrarem numa comics shop quando não costumavam entrar. Nossos irmãos lojistas estão sofrendo, e tudo que a gente puder fazer para colocar gente nas lojas, dar uma volta, conferir tudo que há de legal lá, não tem nada de errado nisso", diz Bendis.
Quanto às críticas de que a Marvel estaria só fazendo bom-mocismo politicamente correto, Bendis tenta dar outra perspectiva: "É só um reflexo do universo em que eu vivo. Estou cercado por uma sociedade multirracial, e não vejo isso ser tão representado. Ainda não penetrou na cultura." E brinca: "Acho que talvez por eu morar em Portland, e estar numa sociedade utópica onde ninguém tá nem aí pra cor da pele e orientação sexual, toda vez que vejo essas críticas eu fico: 'Sério? Mesmo? Qual é o problema?'"
A declaração do ator negro Donald Glover, no ano passado, de que gostaria de ser Peter Parker no cinema teve influência na escolha de Bendis: "[Na época,] fiquei 'Eu queria que ele fosse o Homem-Aranha. Queria mesmo.' Disse isso publicamente na época, e aí passou. Chegamos cada vez mais perto de trabalhar nisso, e aí fizeram aquela cena hilária no início da última temporada de Community quando ele sai da cama usando pijama do Homem-Aranha, e ele estava fantástico! Eu já tinha escrito minha primeira edição e fiquei 'Ei, eu queria ler um gibi assim!', e depois fiquei 'Eu estou escrevendo o gibi. Que incrível!'
Quanto a Miles Morales - repare na aliteração, típica dos personagens de Stan Lee, que Bendis diz foi decisão de Quesada manter -, o autor explica que ele tem mãe porto-riquenha, está por volta dos 13 anos (é mais novo que Peter) e mora no Brooklyn. Ainda terá aparições na minissérie Ultimate Fallout, mas vai se destacar mesmo na nova Ultimate Comics: Spider-Man, que recomeça da edição 1 em setembro.
"Que escola ele frequenta, quais são os coadjuvantes, quem são os pais dele, a família - você vai conhecer todos na primeira edição, e é tudo muito interessante. Eles vivem num mundo que foi arrasado por Magneto. É um mundo diferente do que o Peter tinha." Gwen Stacy, Tia May e a Mulher-Aranha, coadjuvantes da vida de Peter Parker, também vão estar na nova série.
Para fechar, Bendis ainda rebateu as críticas à prática da Marvel de revelar a imprensa acontecimentos das HQs antes de elas saírem: "Parece que a comunidade de leitores aceitou bem a mudança, fora o típico 'Você estragou minha leitura, seu filho da p***!', mas tudo bem, porque eu sei que não estraguei. Não teve spoiler; a gente só contou do que se trata a HQ. Isso é marketing, não spoiler."
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