Robbie Ryan e Emma Stone no set de Pobres Criaturas

Créditos da imagem: Searchlight Pictures/Divulgação

Oscar

Entrevista

Como Robbie Ryan enfatizou a estranha beleza do mundo de Pobres Criaturas

Indicado ao Oscar, diretor de fotografia abre o jogo sobre nova parceria com Yorgos Lanthimos e sua fama de “cara da grande angular”

Omelete
5 min de leitura
07.03.2024, às 12H28.

O diretor de fotografia Robbie Ryan sabe muito bem da sua fama como “o cara da grande angular”, sobretudo após Pobres Criaturas, longa indicado ao Oscar que dá continuidade não só à sua parceria com o diretor Yorgos Lanthimos, como também à linguagem que ambos construíram em A Favorita. Ele vê alguma graça nisso, mas garante que o uso dessa e de outras lentes “pouco comuns no cinema por alguma razão” aqui foi “judicioso”.

De fato, quem assistiu ao longa sabe que tudo — inclusive a fotografia, é claro — é bastante intencional na construção da história peculiar, encantadora e visualmente complexa de Bella Baxter (Emma Stone). Por sorte, o Omelete teve a chance de conversar com Ryan durante o Festival do Rio, no ano passado, e perguntar sobre como é o processo de criação com Lanthimos, suas inspirações e, claro, sobre sua agora marca registrada.

 

OMELETE: Desde o começo, é bastante claro como Pobres Criaturas é particular. O quanto daquela estética e daquela visão Yorgos já trouxe para você de imediato?

ROBBIE RYAN: Ele meio que definiu isso logo de cara. Ele tinha ideias do que queria e o que fizemos em A Favorita se traduziu aqui facilmente. Sabe, ele está sempre tentando ultrapassar limites e tentar novas imagens, e ele tem um conhecimento de cinema muito completo. Então, ele queria tentar um pouco de preto e branco, um pouco de cor e misturar tudo para criar esse mundo irreal. Ele tinha o livro há 11 anos na sua cabeça e estava com o roteiro pronto quando fizemos A Favorita. Eu não sabia, mas é óbvio que ele pensou muito a respeito. Mas Yorgos não te dá muitas informações. Você meio que tem que descobrir por conta própria e torcer para conseguir tirar dele as críticas certas. Ele é enigmático de certa forma, e eu já tinha aprendido isso depois de A Favorita. Então eu consegui enxergar os sinais dessa vez.

Dá para notar uma correlação entre vários elementos de Pobres Criaturas e A Favorita mesmo, mas vocês dois deram um passo além. Como a colaboração de vocês foi diferente dessa vez?

RR: Acho que a diferença mais óbvia foi que, em A Favorita, tudo foi filmado usando luz natural, em locações de verdade. Essas duas coisas foram tiradas [em Pobres Criaturas]. Tudo foi construído embutido no estúdio, com luzes falsas. Então recriamos a luz natural. Foi uma abordagem parecida, a gente só teve que criar um céu em vez de tê-lo lá e lidar com o escurecer. Teve seus prós e contras. Foi uma grande mudança para mim e acho que para o Yorgos também. Então nós dois aprendemos muito mais sobre luz nesse sentido. Não sei se funcionou, vamos ver.

Definitivamente funcionou, mas imagino que também tenha sido diferente porque até o céu não é comum. Ele tem cores bastante vibrantes...

RR: Tem um cara… O nome dele é Chris Parks. Ele tem uma biblioteca de imagens muito, muito inusitadas que parecem céus, mas são, na verdade, imagens microscópicas de líquidos em movimento que criam um efeito muito doido. Yorgos queria que cada lugar fosse um ambiente pouco convencional em termos de cor, e desde o começo pensamos em usar o trabalho do Chris. Não sei se você notou a abertura dos capítulos. Tem uma com uma bolha com todo um mundo doido dentro. Tudo isso é desse diretor de fotografia científica, cujo trabalho pudemos usar. Essa foi a referência, e partimos fomos daí. A empresa de efeitos especiais, a Union VFX, pôde enfeitar e acrescentar [elementos] a lugares como Alexandria. Yorgos queria criar um mundo irreal baseado em um pouco do mundo real.

A própria história da Bella é particular, mas também muito real. A gente está falando basicamente sobre desejo e monstruosidade, traços que todos nós temos enquanto seres humanos. Isso influenciou de alguma forma como você filmou cada cena?

RR: Desejo e monstruosidade, gostei. Você diz como os desejos dela influenciaram?

Na verdade, não sei se você vai concordar comigo, mas sinto que às vezes é mais sobre o desejo e a monstruosidade dos homens. Principalmente no começo, antes de ela assumir o controle da própria vida.

RR: O filme é sobre homens tentando controlar uma pessoa o tempo todo, sim. Essa é uma pessoa completamente nova. Por que você faria isso? E ela destrói completamente a mente e o poder desses caras e, com isso, os deixa ainda mais encantados [risos]. E ela é tão incrível, não tem filtro. É uma abordagem interessante para uma história feminista, de certa forma.

Sim e, quando você usa uma ou outra lente, parece que você enfatiza a estranheza [inicial dessa personagem]. Fiquei curiosa sobre como você decidiu que lentes usar em cada momento.

RR: A gente tem quatro ou cinco lentes que usamos em todas as cenas. A mais óbvia — e que por alguma razão a gente não vê muito no cinema — é a grande angular. Sei lá, você acaba ficando conhecido como o cara da grande angular [risos]. Mas, sabe, o filme também tem muito zoom e isso foi bom. A gente geralmente filmava a cena inteira com todas as lentes, mas porque o zoom é capaz de desenvolver e criar, você podia deixar quase que como um take só: você começa com um foco, sai e segue em frente. Senti que foi um bom jeito de criar a linguagem do filme. Aí, se sentíamos que a cena precisava de algo especial [risos], a gente falava 'ah, traz aquela lente. Uau, ficou demais'. Isso foi usado judiciosamente, mas muito [risos].

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