As colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundiram e ganharam uma periodicidade semanal, dando mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.
Veja os destaques da semana:
AQUI DENTRO: O PEQUENO LIVRO DO ROCK
O QUÊ e QUEM: Uma história visual do rock 'n roll, contada pelo francês Hervé Bourhis com uma linguagem de quadrinhos bastante peculiar.
POR QUÊ: Leia algumas poucas páginas de O Pequeno Livro do Rock e você entende o conceito: páginas quadradas com o tradicional grid de nove quadrinhos (às vezes quebrado), cada um sequência indireta do outro - cada um com um momento marcante na história do rock desde os seus primórdios no século 20.
E é uma ideia genial esta de Hervé Bourhis. Primeiro porque ele está contando a história de uma mídia que depende primariamente do áudio, mas consegue justificar com seus desenhos que o rock também é visual. Impossível não reconhecer várias das imagens que ele reproduz em seu traço.
Capas de discos, fotografias famosas, logotipos, muitos logotipos, às vezes reproduzidos fielmente, às vezes de forma crua - mas que, mesmo no estilo mais solto de Bourhis, são facilmente reconhecíveis, o que só volta a provar que o rock é marcante por suas imagens.
É uma história pessoal também. É divertida, no final do livro, a fictícia (ou não) carta de um leitor dizendo que o autor esqueceu das bandas tal, tal e tal, “indispensáveis” para contar a história do rock. Sempre haverá os descontentes, é claro. Mas Bourhis deixa claro que a história é pessoal ao mostrar alguns momentos de sua vida roqueira e alguns toques de jazz, música brasileira e reggae ao longo do álbum.
A genialidade, por fim, também está na possibilidade do autor atualizar infinitamente o livro, adicionando novas páginas a cada ano ou par de anos. A versão que sai no Brasil já é atualizada, com páginas que não saíram na primeira edição, de 2007. E é provável que o autor continue fazendo novas atualizações.
Enfim, livro para diversão que cumpre totalmente a proposta - com várias surpresas pelo caminho. Recomendadíssimo.
ONDE E QUANTO: O preço sugerido é de R$ 44,90. Compre aqui O Pequeno Livro do Rock com um descontão.
OVOS: 5
LÁ FORA: THE UNWRITTEN
O QUÊ: Nova série da DC/Vertigo, que trata dos limites entre realidade e ficção: o filho de um famoso escritor da literatura infantil, famoso mundialmente, pode ser apenas uma criação literária de seu pai que ganhou vida.
QUEM: O escritor britânico Mike Carey (Lucifer, X-Men) e o desenhista Peter Gross (Lucifer, Livros da Magia).
POR QUÊ: Tom Taylor tem um karma que o persegue há 20 e poucos anos: seu pai é o famoso criador de Tommy Taylor, o jovem bruxo que estrela uma série de livros infantis mundialmente populares. Nossa história começa, porém, quando o famoso pai/autor sume do planeta e uma legião de devotos acha que Tom é o personagem Tommy que ganhou vida. Principalmente quando outros personagens dos livros começam a aparecer, entre vilões vampirescos, mascotes alados, unicórnios, etc.
A premissa de The Unwritten é sensacional, se você curte essas viagens sobre realidade e ficção, literatura e - a referência é mais do que clara - Harry Potter. É uma premissa, aliás, que torce e retorce a febre mundial por Harry Potter para encontrar um tema bem com a cara da Vertigo.
The Unwritten é também uma grande aposta do selo da DC: conseguir um sucessor de Sandman na área de fantasia, algo que nunca se conseguiu desde o fim da série de Neil Gaiman. Com menos de um ano de série, já se começam comentários aqui e ali sobre a genialidade de Mike Carey e a proposta inovadora.
A comparação com Sandman também é interessante no sentido que The Unwritten fala do poder das histórias - os personagens da série repetem com frequência que são as histórias que comandam a humanidade, que provocam vidas e mortes, guerras e alegrias. É um tema, enfim, tão importante quanto os sonhos eram para a série de Morfeu.
Em paralelo à história principal, corre uma narrativa sobre outros escritores históricos - e suas criações - que fariam parte de uma grande conspiração para manipular a realidade a partir de seus escritos. A edição 5, por exemplo, mostrou o inglês Rudyard Kipling, autor de O Livro da Selva, envolvido com estranhas figuras que queriam determinar o que ele deveria escrever na Inglaterra vitoriana (uma das melhores edições até agora). O autor do jovem bruxo Tommy Taylor seria um destes manipulados contemporâneos.
Enfim, premissa excelente. Mas nas mãos de um escritor talvez não tão talentoso. Mike Carey, como em outras séries (Lucifer, Crossing Midnight), tem ótimas ideias, mas perde-se na execução - lenta, enrolada, filosófica. Os pontos altos das histórias são sacadas intelectuais nem sempre muito claras. E ele parece estar mais envolvido com a ideia de problematizar, teorizar, pensar sobre a premissa do que fazê-la avançar.
A arte de Gross, da mesma forma, é pouco empolgante e sofre um problema que afeta muitas séries da Vertigo: parece apressada, poucos detalhista. O próprio autor desenhava melhor na época de Livros da Magia.
Vale a pena acompanhar a série para saber o que vai se desenrolar. Mas ela está precisando de um empurrão na trama para conseguir mais leitores.
ONDE E QUANTO: A primeira coletânea da série, The Unwritten: Tommy Taylor and the Bogus Identity, reúne as primeiras cinco edições e custa US$ 9,99 (R$ 18).
OVOS: 3