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Aqui Dentro e Lá Fora - O Astronauta e Hellblazer

Uma HQ baseada em texto de Mutarelli e um Constantine perto do fim

02.09.2010, às 00H00.
Atualizada em 13.12.2016, ÀS 21H03

As colunas AQUI DENTRO e LÁ FORA se fundiram e ganharam uma periodicidade semanal, dando mais vazão para as coisas que saem no Brasil e manter você também atualizado sobre o que está acontecendo longe das nossas bancas.

Veja os destaques da semana:

AQUI DENTRO: O ASTRONAUTA OU LIVRE ASSOCIAÇÃO DE UM HOMEM NO ESPAÇO

O QUÊ: Adaptação para os quadrinhos de um texto do também quadrinista - mas hoje em dia mais romancista - Lourenço Mutarelli. O álbum tem 52 páginas em preto e branco e a editora é a Zarabatana.

QUEM: O fotógrafo Flavio Moraes fez as imagens de Mutarelli em seu apartamento como o astronauta do título. Fernando Saiki e Olavo Costa (O Contínuo) desenharam a história a partir das fotos.

POR QUÊ: Enquanto Mutarelli não volta a fazer seus próprios quadrinhos, é interessante ver outros autores pegarem as narrativas ao mesmo tempo fantásticas e viscerais do autor para fazer uma HQ. O Astronauta é isso: um texto de Mutarelli transformado em quadrinhos por outros.

A proporção do álbum (23 x 31cm) chama atenção. Ainda mais quando você abre e vê que esse tamanhão foi utilizado não para lotar as páginas de quadros, mas para fazer grandes splash pages do astronauta movimentado-se por sua... cozinha (já falo disso). Estes grandes panoramas (domésticos) passam aquela sensação das cenas de astronautas movimentando-se lentamente na gravidade zero. "Lentidão atmosférica".

Como vinha dizendo, sim, o astronauta anda por sua cozinha. É um pouco da metáfora que Mutarelli explora no seu texto, mas que ganha essa interpretação precisa nas imagens da adaptação. Falar mais do que isso é estragar a história - que não tem fins surpreendentes nem nada do tipo, mas que merece ser aproveitada sem conhecimento prévio.

Com quadros grandes e um texto que originalmente devia encher umas duas páginas, o tempo de leitura é bastante curto. A estrutura é de conto - ou de uma poesia -, o que parece ir contra o conceito da graphic novel ou álbum como uma história completa com certo nível de complexidade e desenvolvimento. Talvez O Astronauta estivesse melhor no meio de uma coletânea de contos de Mutarelli e/ou vários autores, justificando o formato - bem como, convém lembrar, o preço (R$ 33 por 52 páginas).

Por fim, é bom ver quadrinistas independentes como Olavo Costa ganhando espaço merecido em trabalhos de maior fôlego e maior divulgação. Que sirva de porta para mais projetos.

ONDE E QUANTO: Nas livrarias e lojas especializadas. O preço sugerido é de R$ 33,00.

LÁ FORA: HELLBLAZER #270

O QUÊ: A série de John Constantine, mais longeva do selo DC/Vertigo.

QUEM: Desde a edição 251, os roteiros são de Peter Milligan e a arte, geralmente, de Giuseppe Camuncoli.

POR QUE: Para super-heróis e seus mundos relativamente mais infanto-juvenis, é relativamente fácil você manter décadas sobre décadas de aventuras sem que eles envelheçam ou percam sua atração. No caso do quadrinho adulto, porém, a situação é outra: será que já não se fez tudo que era possível com John Constantine?

O problema está em como o mercado de quadrinhos americano mede sucesso: longevidade. Numa metáfora bem apropriada à magia de Hellblazer, a duração da carreira de um personagem lhe confere mais e mais poder. No caso, popularidade. A Vertigo fica numa encruzilhada - quer fazer quadrinho adulto, que exige um desenvolvimento pouco fantasioso dos personagens e um fim, mas quer manter-se neste paradigma do mercado americano.

A última tentativa de desfibrilar Constantine é a notícia de seu casamento, que circulou na San Diego Comic-Con. Aparentemente, é só um plano, sem data certa, e com uma personagem que vem ganhando espaço nas histórias de Peter Milligan, a jovem Epiphany - quase 30 anos mais nova que Constantine. O relacionamento dos dois já está andando, mesmo que com problemas sobrenaturais típicos a quem vive no mundo de Constantine.

Milligan é mais um na lista de autores britânicos que assumem o comando de Hellblazer - é uma regra da série que só foi quebrada pelo americano Brian Azzarello. Sua contribuição é dar algum senso de humor - ou talvez senso de ridículo - à vida de Constantine. Enquanto a maioria dos outros autores faziam força para levarmos a sério os demônios, diabos e divindades que o mago inglês encara, Milligan parece ter noção de que isso não convence mais.

Não que a série tenha virado uma comédia, mas aprendeu a não se levar tão a sério. Em edições recentes, Constantine chegou a resgatar seu visual punk, com cabelo verde espivetado. Nas mais recentes, o tresloucado personagem Shade, que Milligan tem como seu, apareceu para dar um tom ainda mais pirado às histórias. Mesmo o novo adereço de Hellblazer - uma cicatriz no olho esquerdo - não lhe dá mais seriedade.

Por um lado, senso de ridículo é bom. Por outro, dá para entender essa estratégia como sinal de que não há mais o que fazer. Não seria hora de perceber que Constantine ganharia ainda mais poder se suas histórias chegassem ao fim, antes que mais histórias forçadas deturpem ainda mais as memórias das boas?

ONDE E QUANTO: Já saíram duas coletâneas com as histórias de Peter Milligan em Hellblazer: Scab e Hooked. O terceiro, India, está previsto para outubro. Cada um custa US$ 14,99 (R$ 27).

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