HQ/Livros

Artigo

Batman: À sombra de Frank Miller

Batman: À sombra de Frank Miller

20.06.2005, às 00H00.
Atualizada em 29.12.2016, ÀS 03H07

Batman: O cavaleiro das Trevas

Batman: Ano Um

O cavaleiro das Trevas 2

All-Star Batman e Robin

A esta altura, você já deve ter visto tudo sobre os criadores clássicos do personagem aqui, certo? Minha pauta para o Especial Batman do Omelete era escrever sobre os escritores e desenhistas que deixaram sua marca no Homem-Morcego nas últimas décadas.

Depois de horas de árduas pesquisas, achei que a matéria ia ficar meio injusta. Ok, as bat-séries tiveram escritores excelentes e desenhistas marcantes nos últimos tempos. Mas um único nome supera todos eles. Ou melhor: define tudo que foi feito com Batman depois. Frank Miller.

Veja os fatos: Batman é um personagem sexagenário de propriedade de uma mega-corporação de entretenimento que lucra muito às suas custas. Ele é um ícone, com diversos elementos imutáveis que o cercam. É difícil você ter liberdade para fazer algo fora do comum. Há regras a serem seguidas: Batman não pode morrer ou Alfred virar um vilão, por exemplo, só porque um escritorzinho gostou da idéia.

00:00/07:00
Truvid
auto skip

Em 1985, Miller encontrou um jeito de tensionar estas regras. Até então, Batman já tinha se envolvido em histórias de ficção científica (anos 50), tornado-se um personagem cômico (a infame série de TV dos anos 60) e aos poucos voltara a ter algum status de detetive sério (com Denny ONeil e Neal Adams, nos anos 70). E se nós voltássemos às origens de Batman, à visão de um combatente do crime soturno, violento e pragmático, mais ou menos como ele é apresentado em suas histórias dos anos 30?

Em O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Returns), Miller seguiu este caminho. Passada 20 anos no futuro, a minissérie apresenta um Bruce Wayne velho e aposentado que volta à ativa no momento em que Gotham City está afundando no crime e o mundo passa por uma crise bélica - uma crítica nada sutil ao clima da Guerra Fria e ao governo Reagan. Com uma abordagem "os fins justificam os meios", Batman sai das sombras para impor a justiça do jeito que vê.

Cavaleiro das Trevas não é só um marco na história do personagem, mas também na história dos quadrinhos americanos. Miller acabara de deixar a série do Demolidor, em que tinha alcançado fama sem precedentes por roteiros inusitados e páginas experimentais. A DC contratou-o e investiu pesado na promoção de sua minissérie com o Homem-Morcego. Resultado: conseguiu um best-seller que atraiu a atenção da grande mídia e serviu de estopim para os quadrinhos começarem a perder o estigma de "coisa de criança".

Como se isso não bastasse, Miller ainda utilizou a mini para explorar os quadrinhos como forma (ou, se você prefere, como arte). Não há cenas de ação em quadrinhos (fora as do próprio Miller) que superem O Cavaleiro das Trevas. Repita comigo: ninguém consegue fazer uma cena de ação em quadrinhos como Frank Miller.

Escritor e desenhista de mão cheia, Miller puxou suas influências - Bernie Krigstein, Will Eisner e um pouco dos mangás - para explorar como acontece a ação nos quadrinhos. "Mas peraí! Quadrinhos não se mexem!" Ora, não seja pernóstico. Como Scott McCloud (autor de Desvendando os Quadrinhos) diria anos depois, a sucessão de textos e imagens que forma a página de quadrinhos está ali para sugerir movimentos que você "vê" na sua cabeça. A sabedoria em montar uma boa cena de ação é saber quais momentos deste movimento devem estar registrados (e como eles devem ser registrados) para que você provoque uma determinada reação no leitor. Isto é criar ritmo. Na última edição de Cavaleiro, quando Batman enfrenta Super-Homem, você chega a sentir os socos, de tão forte que é o ritmo dado por Miller à seqüência de páginas.

O super escritor/desenhista fez mais um trabalho com Batman logo após Cavaleiro das Trevas, chamado Batman - Ano Um (desenhado por David Mazzuchelli). Com a mesma visão do personagem que já havia estabelecido, Miller recontou a origem do herói de forma inovadora, revelando seus primeiros meses de atividade em Gotham City. É este trabalho que serve de base para a segunda parte de Batman Begins.

"Nunca mais"

Alvo de títulos como "o melhor criador de quadrinhos do mundo", "um divisor de águas na história dos gibis" e outros, Miller resolveu esnobar: deixou contratos milionários na Marvel e na DC para entregar-se à nascente editora Dark Horse, onde tinha carta branca para criar o que estivesse a fim. Ele e Alan Moore, que haviam revolucionado os quadrinhos americanos nos anos 80, declaravam que nunca voltariam ao mainstream e aos super-heróis. Foi nessa fase que Miller criou Sin City, a série que dominou sua prancheta ao longo dos anos 90 (e o filme que a Sony está enrolando para lançar aqui).

Enquanto isso, sua influência começava a ser sentida ao longo de toda a indústria de quadrinhos. Pipocavam os personagens do chamado "grim n gritty", tipo Justiceiro, com histórias mais "sérias" e violentas. O estilo foi levado à exaustão até a era Image.

E Batman mudou para sempre. Passou de mais um herói colorido do universo DC para uma figura das sombras, obcecado por sua guerra contra o crime, que fala só o estritamente necessário e pouco interage com outros heróis. Mesmo o desenho animado do início dos anos 90 adotou esta versão do personagem. A nova abordagem resultou em muitas histórias interessantes - quando nas mãos de roteiristas capazes -, mas nada que chegasse ao nível de Miller.

Felizmente, escritores de quadrinhos são como aqueles roqueiros que dizem que nunca mais vão se reunir. Miller logo estava fazendo trabalhinhos para a Marvel (Demolidor: Homem sem Medo), e pouco a pouco foi se vendendo novamente para a DC. Pior: com os rumores de uma continuação para Cavaleiro das Trevas, seu trabalho intocável.

Os rumores se confirmaram em 2001. Batman: O Cavaleiro das Trevas II (The Dark Knight Strikes Again) chegou às bancas como uma nova minissérie, onde Miller apresentava sérias mudanças em seu estilo de roteiro e desenho, além de demonstrar uma nova paixão: as histórias inocentes e coloridas da DC da "Era de Prata" (anos 50 e 60). Metade dos fãs não entendeu o que diabos era aquilo. A outra metade declarou em alto e bom tom que a continuação é uma porcaria que não se compara à original.

Mesmo assim, Miller parece ter iniciado um novo caso de amor com a DC e com Batman. Desde o fim de Cavaleiro II, há rumores de um nova bat-graphic novel em que o morcegão enfrenta terroristas (bem dentro do espírito patriota pós-11 de setembro). E as comic shops americanas estão ansiosas pela chegada, em julho, de All-Star Batman & Robin, the Boy Wonder, nova bat-série escrita por Miller e desenhada por Jim Lee. Sem dúvida, um dos maiores lançamentos do ano.

Assim, indo e vindo, Miller continua exercendo sua bat-influência. Não é que Batman não tenha tido criadores notáveis envolvidos com suas milhões de séries, graphic novels e minisséries nos últimos 20 anos. Teve, e com ótimas histórias. Mas, desde Cavaleiro das Trevas, ninguém começa um roteiro ou página de uma bat-história sem pensar na visão de Frank Miller para o homem morcego. Há 20 anos, todo bat-criador vive à sua sombra.

Comentários (0)

Os comentários são moderados e caso viole nossos Termos e Condições de uso, o comentário será excluído. A persistência na violação acarretará em um banimento da sua conta.

Login

Criar conta

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Meus dados

O campo Nome Completo é obrigatório

O campo CPF é obrigatório

O campo E-mail é obrigatório

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

As senhas devem ser iguais

Redefinir senha

Crie uma nova senha

O campo Senha é obrigatório

  • Possuir no mínimo de 8 caracteres

  • Possuir ao menos uma letra maiúscula

  • Possuir ao menos uma letra minúscula

  • Possuir ao menos um número

  • Possuir ao menos um caractere especial (ex: @, #, $)

As senhas devem ser iguais

Esqueci minha senha

Digite o e-mail associado à sua conta no Omelete e enviaremos um link para redefinir sua senha.

As senhas devem ser iguais

Confirme seu e-mail

Insira o código enviado para o e-mail cadastrado para verificar seu e-mail.

a

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.