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Corte de página, uma tradição da Abril

Corte de página, uma tradição da Abril

30.06.2000, às 00H00.
Atualizada em 23.11.2016, ÀS 09H09

Tudo bem, a Abril parece ter adotado o novo formato para suas HQs de super-heróis a pedido dos leitores, mas o que ela fez, todos estes anos, para resolver outra das principais reclamações envolvendo as linhas Marvel e DC: O corte impiedoso de páginas e histórias.

Todo mundo que tem contato com as edições originais norte-americanas sabe que a Abril nunca se incomodou em cortar páginas (ou mesmo edições inteiras!) de séries americanas a seu bel-prazer.

Há justificativas para isso. Afinal nem tudo que sai por essas editoras americanas é bom, ou mesmo razoável. Mas há numerosos cortes de episódios de boa qualidade (ou importantes para algum personagem específico) na história da Abril.

Bons episódios&qt;& Bom, a Tropa Alfa de John Byrne sofreu nas mãos da Abril, com muitas das edições originais publicadas apenas pela metade. Ao menos uma edição inteira nunca foi publicada (Alpha Flight nº 22). Destino igual sofreu o X-Factor de Walt Simonson (artista de grande talento mas pequena periodicidade), com muitas edições cortadas ou publicadas pela apenas metade, e o Excalibur de Alan Davis (outro brilhante artista com as mesmas características). Nestes últimos casos as séries parecem ter pago pela sua falta de popularidade, pois as outras séries com quem dividiam revistas (respectivamente X-Men e Wolverine, ambas em fases esquecíveis) escaparam incólumes.

Os critérios de julgamento da Abril também são suspeitos. O que teria a fase da Mulher-Maravilha desenhada pelo brasileiro Mike Deodato de tão bom para que fosse publicada na íntegra quando nenhuma outra fase recente da personagem (incluindo a imediatamente posterior, de John Byrne) foi&qt;&

Os saltos cronológicos da Abril também são lendários. Anos de tramas são pulados entre uma edição e outra. Por exemplo, entre as duas fases de Frank Miller no Demolidor, a Abril pulou mais de dois anos de histórias (incluindo boa parte da etapa de Danny O’Neil e David Mazzuchelli). Fazendo justiça à editora, uma grande parte dessa fase foi publicada posteriormente em edições especiais, mas uma das histórias omitidas é a que mostra como o arquiinimigo do herói, o Mercenário, recuperou os movimentos (ele fora aleijado em um episódio anterior). A trama também é vital para a origem de uma inimiga do Wolverine, Lady Letal. Ainda assim, permanece inédita...

Falando do Demolidor de Frank Miller, não podemos esquecer de um dos mais famosos exemplos de outra das práticas nefandas da Abril: A adulteração de histórias. Na famosa história Queda de Murdock, há um momento em que uma das personagens centrais, Karen Page, antiga namorada do Demolidor que afundara no vício, tenta utilizar uma seringa para aplicar mais uma dose, no que é impedida pelo herói. Na primeira versão da Abril, a seringa é substituída por uma navalha (&qt;&&qt;&&qt;&&qt;&&qt;&&qt;&&qt;&&qt;&).

No entanto, o mais famoso e inesquecível exemplo de adulteração de histórias pela Abril é a primeira edição da mini-série Guerras Secretas. Publicada muito antes do momento cronológico correto - para coincidir com o lançamento no Brasil da linha de brinquedos inspirada pela história -, Guerras Secretas no Brasil tornou-se quase uma história diferente da americana. Personagens foram cortados como se nunca tivessem aparecido, situações inexplicáveis aconteciam - Professor Xavier andando, Quarteto Fantástico usando um uniforme completamente diferente das HQs correntes - e o final foi tão modificado que perdeu o sentido. Embora o original não fosse grande coisa, como o provou uma edição – sem cortes – posterior, a atitude da Abril com seus leitores não foi das melhores. Um simples texto explicativo antes da história poderia ter resolvido tudo com muita facilidade...

A prática continua até hoje. Em GHM (série nova) 1, a Abril conseguiu sumir com um personagem (Rick Jones) da trama adulterando quadrinhos e cortando uma página. Em uma demonstração de falta de cuidado, no entanto, o personagem aparece em um canto da capa da revista, tornando inútil todo esse esforço...

Enquanto não resolver esses problemas, não importa o formato ou qualidade das revistas que publique, a Abril será sempre olhada com desconfiança pelos leitores.

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