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Hal Jordan: O herói retorna... ou não

Hal Jordan: O herói retorna... ou não

17.05.2001, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 01H05
Após cinco anos de ausência, os fãs mais radicais de Hal Jordan tiveram suas súplicas respondidas, mas muitos talvez se arrependam do que desejaram. O maior Lanterna Verde de todos os tempos, o herói que se transformou no vilão Parallax, o antecessor de Kyle Rayner e aquele que alcançou a redenção ao se sacrificar pelo planeta está de volta...ou parte dele, pelo menos.

Desde a mini-série Day of Judgment, publicada no final de 1999, nos EUA e agora no Brasil em Superman Premium 10, Hal Jordan retomou seu status de herói. Acontece que não foi como Lanterna Verde. Nem mesmo foi ressuscitado como é de praxe. Numa das atitudes mais inusitadas da DC Comics, ele assumiu a forma de outra personagem: o Espectro.

UM HERÓI DA FICÇÃO CIENTÍFICA

Tendo feito sua estréia nas páginas de Showcase 22, de setembro de 1958, numa história escrita por John Broome e desenhada por Gil Kane, Hal Jordan ajudou a consolidar a Era de Prata dos quadrinhos, iniciada exatos dois anos antes, no número 4 da mesma revista, por Barry Allen, o segundo Flash. O mentor do projeto foi o editor Julius Schwartz, que decidira reaproveitar nomes e conceitos antigos em novas versões.

O primeiro Lanterna havia sido Alan Scott, cujos poderes eram de natureza mística. Seu sucessor, no entanto, adotaria uma abordagem mais na linha da ficção-científica. Piloto de testes aeronáuticos e com feições do ator Paul Newman, Hal recebeu seu anel energético de Abin Sur. O alienígena à beira da morte escolheu-o por ser um homem íntegro e desprovido de medo. A notável jóia era capaz de realizar qualquer desejo e seu único limite era a força de vontade do usuário. Com o tempo, a série foi acrescida de um cativante elenco de apoio: Carol Ferris, sua paixão e dona da companhia onde ele trabalhava; a Tropa dos Lanternas Verdes, força policial intergaláctica, da qual se tornou o mais destacado membro; os Guardiões do Universo, seus mentores imortais; e uma galeria de vilões onde se destacava Sinestro, um ex-Lanterna Verde em busca de vingança.

O VERDADEIRO LANTERNA VERDE

Na época, a aceitação da personagem foi total. Em julho de 1960, ganhava revista própria intitulada Green Lantern e, em outubro do mesmo ano, juntamente com os principais astros da editora, formou a Liga da Justiça da América, a versão Era de Prata da antiga Sociedade da Justiça da América. No começo dos anos 70, as aventuras de Hal ao lado de outro herói, o Arqueiro Verde, fruto da colaboração mágica entre Denny O’Neil (texto) e Neal Adams (arte), debateram temas de relevância social como nunca antes numa série de super-heróis. Anos depois, o desenho animado Superamigos, terminou por consagrar sua imagem junto ao público.

Era impossível pensar em Lanterna Verde e não enxergar Hal Jordan. Nem mesmo a introdução de dois novos Lanternas terrestres, Guy Gardner e John Stewart, comprometeram sua posição de destaque. O próprio Gardner marcou presença na Liga da Justiça, em sua fase de histórias bem humoradas, escritas por Keith Giffen e J. M. De Matteis no final dos anos 80, ganhando fãs com sua típica arrogância, Ainda assim, era apenas o Lanterna Verde da Liga. O verdadeiro continuava sendo Hal Jordan.

SUPER-HERÓI SUPEREXPOSTO

Num período em que sua revista esteve fora de circulação, Keith Giffen aproveitou a mini-série em seis partes, Emerald Dawn (Amanhecer Esmeralda), de dezembro de 1989 para recontar a origem de Hal Jordan, adaptando-a à nova cronologia do Universo DC pós-Crise nas infinitas Terras.

Em junho de 1990, com roteiros de Gerard Jones, foi lançada uma nova revista Green Lantern, dando início à numeração que permanece até hoje. Em junho de 1992, foram lançadas Green Lantern: Mosaic, centrada em John Stewart, e a trimestral Green Lantern Corps Quarterly com membros diversos da Tropa. Imediatamente após sua mini-série em três partes, no mês de outubro, foi a vez de Guy Gardner estrelar sua revista.

Não tardou para o conceito do Lanterna Verde padecer com a superexposição. Além disso, na interpretação de Gerry Jones, Hal estava velho demais, com mechas de cabelo branco e enfrentando crises existenciais, algo distante da sua impulsividade natural. Ele já não era mais tão especial. Por isso, em 1994, os editores da DC articularam uma reformulação para Green Lantern 50.

O VILÃO

Após a saga O retorno do Super-Homem, que mostrou a destruição de Coast City, a cidade do Lanterna Verde, veio Crepúsculo Esmeralda (Emerald Twilight). Escrita em cima da hora por Ron Marz, entrou no lugar de uma história menos drástica assinada por Jones. Mostrava um Hal destroçado por não ter evitado o extermínio de toda a sua cidade, numa cruzada insana em busca de poder que culminou no fim da Tropa e dos Guardiões. O Lanterna Verde havia se tornado um assassino. Foi o fim de décadas de tradição.

A edição seguinte marcou o início de Kyle Rayner como o novo Lanterna; escolhido aleatoriamente pelo último Guardião, era um jovem desenhista sem vocação para atos heróicos. Paralelamente, a trajetória de Jordan, como vilão, continuou na mega-saga Zero Hora, de Dan Jurgens, versão menor do épico Crise nas infinitas Terras. Chamando-se Parallax, o ex-herói buscava redefinir o universo inteiro segundo seus propósitos.

LEITORES REVOLTADOS

De um lado, a mudança e a polêmica foram bem sucedidas. Kyle Rayner logo caiu no gosto do público e mostrou-se acessível a novos leitores. Durante vários meses, Green Lantern foi a revista mais vendida da DC. A reação, porém, foi outra na parcela de leitores mais devotada à lembrança de Hal Jordan Estes nunca se conformaram com as mudanças. Representados na Internet pelo grupo H.E.A.T. (Hal’s Emerald Advancement Team), chegaram a enviar ameaças ao roteirista Ron Marz, a Kevin Dooley, editor da série, e suas famílias, além de terem organizado uma petição com cerca de 2000 nomes, e publicado um anúncio de página inteira, na revista Wizard, para que Hal reassumisse seu cargo de Lanterna Verde. Kyle, porém, era sucesso comprovado, e Hal morreu como herói salvando o planeta na saga Noite Final.

O NOVO ESPECTRO

Foi quando, no dia 16 de setembro de 1998, Joseph Farley, um simples fã, numa sala de bate-papo da AOL com o grupo editorial do Lanterna Verde, fez a pergunta: “Por que não fazer de Hal Jordan o novo Espectro&qt;&”.

Criado em 1940 por Jerry Siegel e Bernard Baily, o Espectro era um espírito que possuía como hospedeiro humano o policial Jim Corrigan, que regressara da morte com a missão de punir almas corruptas. Ao término da série produzida por John Ostrander e Tom Mandrake, contudo, Corrigan encontrava-se dissociado do Espectro, e este existia livre de uma alma humana que o conduzisse corretamente. A sugestão de Farley, portanto, era procedente, e chamou a atenção do editor Kevin Dooley. Boatos sobre a transformação de Hal Jordan no Espectro foram uma constantes nos meses que se seguiram, geralmente considerados com descrédito, até que a saga Day of Judgment fosse anunciada.

DIA DO JUÍZO

Escrita pelo então novato Geoff Johns e desenhada por Matt Smith, ilustrador notavelmente influenciado por Mike Mignola, o novo crossover diferiu de seus antecessores por enfocar a linha de heróis místicos do Universo DC. Reunidos como os Sentinelas da Magia, eles exploraram sua iconografia teológica. São visitados, no decorrer da história, o Paraíso, o Inferno e o Purgatório. Diversas personagens já mortas são, então, revistas, e Hal Jordan assume o papel de protagonista.

Como conseqüência dessa decisão editorial, temos agora a nova série mensal The Spectre, escrita por J.M. DeMatteis e ilustrada por Ryan Sook. Esta equipe criativa encaixa-se perfeitamente ao clima das aventuras do espírito e seus novos desafios. DeMatteis, em especial, tem vasta experiência em lidar, nos seus textos, com misticismo e sobrenatural, como já foi o caso de Sr. Destino, Moonshadow e Seekers into the Mistery, entre outros.

Sob o comando de Hal Jordan, o Espectro é agora um espírito determinado a lutar mais para redimir almas do que puni-las. Se o novo conceito vai vingar ou apenas dividir ainda mais opiniões, ainda é cedo para dizer. O certo, no entanto, é que a trajetória daquele que foi o maior dos Lanternas Verdes está longe de terminar.

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