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Em meados dos anos 90, uma animação japonesa emplacou enorme sucesso na TV brasileira. Esta série era Os Cavaleiros do Zodíaco. Àquela altura, não apenas os desenhos animados nipônicos eram raros em nossas telinhas, como também não havia mangás nas bancas. Então, o público de nosso país não pôde ver os quadrinhos que deram origem ao seriado.
Anos depois, quando os mangás finalmente chegaram, pelas mãos da editora Conrad, os nostálgicos da animação ficaram surpresos ao ver seus heróis nas bancas... e mais ainda ao perceberem que a ilustração do gibi nem se comparava à da televisão! Masami Kurumada, criador da saga, é um desenhista bastante limitado, o que contribuiu para que sua publicação não tenha tido o mesmo sucesso do outra lançada pela Conrad quase simultaneamente, DragonBall.
No entanto, o tempo passa e as modas voltam. O desenho animado retornou à televisão após quase uma década e os Cavaleiros do Zodíaco estão novamente na boca do povo. Aproveitando a ocasião, a Conrad lançou o novo mangá da franquia: Cavaleiros do Zodíaco - Episódio G.
Episódio G chama atenção. Está muito acima de seu ilustre, ainda que falho, predecessor. Publicado no Japão na revista Champion Red e não na original Shonen Jump, foge dos chavões que infestam a maior parte dos quadrinhos da Jump: lutas intermináveis, roteiros ralos, histórias que parecem apenas ir de um torneio de artes marciais a outro. Começa anos antes da aventura original. O protagonista é o cavaleiro de ouro de Leão, Aioria, um dos mais poderosos defensores do Santuário da Grécia. Seu irmão, Aioros, cavaleiro de ouro de Sagitário, descobrira a perfídia do mestre do Santuário. O vilão planejava matar a reencarnação da deusa Atena. Para impedir o crime, o herói foge com a criança. Com o irmão acusado de traição, Aioria torna-se um pária entre os demais cavaleiros, tentando limpar a reputação da família.
O roteiro tem uma execução bem interessante. Na série original, não eram exploradas as conseqüências de haver seres, como os cavaleiros de ouro, capazes de se mover à velocidade da luz e destruir montanhas com as próprias mãos. Eles pareciam existir à margem da sociedade e só lutavam em lugares isolados, longe de olhares indiscretos. Na trama atual, vemos os cavaleiros interagindo com pessoas normais e afetando o mundo a seu redor. Nós sabemos que eles são invencíveis, mas não é o caso de muitos coadjuvantes, o que garante novos contornos dramáticos. Destaque para a boa idéia de tornar um cavaleiro renegado o responsável pelo acidente nuclear de Three Mile Island!
Melhor também é o desenho. Megumu Okada supera seu antecessor. Até aí, nada de mais. Kurumada é um ilustrador medíocre (só tem uma expressão facial!). Os cenários são magníficos, a composição mais elaborada (embora às vezes deixe as páginas meio pesadas) e o domínio de retícula e sombreamento é louvável. No entanto, diante das imagens, uma pergunta não quer calar: Quem é a moça que está na capa?
A moça em questão é o protagonista Aioria. Assim como todos os participantes da série, ele é traçado com feições andróginas, sexualidade indefinida e nenhuma similaridade com sua versão original. Em dado momento, faz uma piada porque o protagonista não reconhece o sexo de uma das personagens. Ele não é o único! Ninguém é capaz de diferenciar gênero entre tantos andróginos! Há quem diga que o G do título, longe de representar gold, (ouro em inglês) esteja mais para gay. Que crueldade...
No cômputo geral, Episódio G é uma leitura agradável, muito superior ao original, mas longe de ser obrigatória. Convém notar que só quatro edições foram publicadas até agora no Japão, o que significa que, depois que a Conrad tiver lançado toda a leva inicial, os leitores terão de aguardar novos volumes serem publicados do outro lado do mundo. É o preço que se paga para o Brasil ser o primeiro país, depois do Japão, a editar a revista.
Também vale notar que o preço da revista (12,90 reais) é um tanto elevado para uma edição em formato pequeno (13x18 cm, 176 páginas) e papel jornal. Mais que o dobro do preço de um mangá normal da Conrad, que tem formato maior, cerca de metade do número de páginas e, em certos casos, papel de melhor qualidade.