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Artigo

<i>O anel do Nibelungo</i>

<i>O anel do Nibelungo</i>

20.08.2003, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 12H06
O anel do Nibelungo

Há muito tempo, teóricos e leitores observam a relação entre a História em Quadrinhos e outras formas narrativas e artísticas. A intertextualidade dos Quadrinhos com a Literatura e o Cinema é inquestionável, haja vista a quantidade de quadrinizações de obras literárias e cinematográficas e, também, de adaptações de personagens e histórias nascidas nas páginas das revistas em quadrinhos para romances e filmes.

Mas, se a relação com o Cinema e a Literatura salta aos olhos, a obra O Anel do nibelungo - lançada pela Opera Graphica - apresenta uma conjunção mais rara: a da ópera com os quadrinhos. Baseado nas óperas compostas por Richard Wagner entre 1848 e 1874, a quadrinização foi idealizada pelo artista norte-americano Gil Kane, que levou para a realização do projeto o roteirista Roy Thomas, com quem já havia trabalhado antes, principalmente nas aventuras do cimério Conan. Kane, que faleceu em 2000 vítima de linfoma, é lembrado pela arte das histórias do Lanterna Verde da Era de Prata.

Em O Anel do nibelungo, os dois quadrinhistas americanos utilizam a obra de Wagner para narrar as intrigas dos deuses teutônicos, a valentia de heróis e guerreiras na captura do anel que dá poder a quem o possuir (onde eu já ouvi isso antes?), forjado pelo ambicioso nibelungo Alberich, que roubou o ouro das donzelas que o guardavam nas profundezas do rio. Assim, o leitor acompanha a construção da morada dos deuses, a fortaleza Valhalla, as estratégias do deus-pai Wotan e o amor trágico do herói Siegfried e da valquíria Brünhilde. Há também castelos, dragões que guardam riquezas, reis e rainhas que conspiram e são traídos. A saga trata da ascensão e queda de deuses míticos e de heróis que, apesar da coragem, são manipulados por forças que desconhecem.

Milênios antes dos heróis dos gibis, o ser humano já desenvolvia narrativas sobre seres poderosos que seriam capazes de salvar o mundo ou de condená-lo ao crepúsculo. Em O Anel do Nibelungo, Kane e Thomas conseguem a proeza de fundir deuses e heróis míticos no espaço característico dos heróis modernos, o da História em Quadrinhos.

O Anel do nibelungo conta com uma introdução que trata de Richard Wagner e sua obra, além da carreira de Gil Kane e Roy Thomas e custa R$ 24,00.

Roberto Elísio dos Santos é Pesquisador Sênior do Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP, jornalista, doutor em Comunicação pela ECA-USP, professor do Centro Universitário de São Caetano e autor do livro Para reler os quadrinhos Disney (Editora Paulinas)

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